Muito além do café

Com o crescimento do consumo e mudanças nos hábitos, cafeterias se firmam como ambientes de socialização, trabalho e cultura

Lucas Soares Rocha Lima

Postado em 24/04/2025

Cafeteria Caffè Felicità | Foto: Lucas Soares

As cafeterias brasileiras vêm se reinventando e deixando de ser apenas locais para o consumo de café. Tornaram-se espaços multifuncionais, que unem lazer, trabalho, encontros e cultura, refletindo mudanças significativas nos hábitos urbanos e no comportamento do consumidor.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o consumo da bebida no país cresceu 1,11% em 2024. Em 2023, esse avanço foi de 1,64%, com um aumento de 7,47% no consumo per capita. O Brasil segue como o segundo maior consumidor de café do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados do Sebrae.

Esse crescimento, no entanto, veio acompanhado de mudanças no perfil do consumidor. A pandemia de Covid-19 teve papel importante nesse processo. Com o isolamento social, houve uma queda temporária na frequência às cafeterias e um aumento do consumo doméstico. Em resposta, muitas cafeterias começaram a vender grãos e pós diretamente aos clientes, além de investirem em melhorias nos ambientes e nos serviços.

A pesquisa “Evolução dos hábitos e preferências dos consumidores de café no Brasil”, realizada pela ABIC em parceria com o Instituto Axxus, mostrou que em 2023, 43% dos consumidores priorizaram marcas com melhor custo-benefício. Paralelamente, cresceu a busca por cafés certificados e de origem rastreável, o que incentivou o investimento em baristas qualificados, equipamentos modernos e ambientes personalizados.

Contudo, o setor também enfrenta desafios econômicos. A inflação do café moído no Distrito Federal, por exemplo, atingiu 82% nos últimos 12 meses, de acordo com o IBGE. Para Geralda de Souza, subgerente da cafeteria Caffè Felicità, a alta nos preços exige estratégias para manter a clientela. “A gente tenta segurar o preço, senão não vende. O café está muito caro e buscamos ajustar para tornar os preços mais acessíveis sem que sejamos prejudicados”, afirma.

Na Casa de Biscoitos Mineiros, o subgerente Frederico Kelvin relata que manter a qualidade dos produtos caseiros e ainda atrair o público jovem é um dos principais obstáculos. “Trabalhamos com produtos caseiros e tradicionais, buscando o conforto familiar. A dificuldade está em manter a qualidade da matéria-prima e ainda atingir o público mais novo”, explica.

Cappuccino na Casa de Biscoitos Mineiros | Foto: Lucas Soares

Para contornar essas barreiras, muitas cafeterias apostam em promoções, ações em redes sociais e parcerias culturais. A ideia é transformar o espaço em um ponto de convivência e conexão com diferentes públicos.

Os frequentadores também percebem esse novo papel das cafeterias. Elane Maciel, cliente da Casa de Biscoitos Mineiros, vê no ambiente um espaço produtivo e inspirador. “O ambiente movimentado ajuda a sair da procrastinação. Pelo menos duas vezes ao mês utilizo o local para realizar tarefas administrativas”, conta.

Elane Maciel em seu Coworking | Foto: Lucas Soares

Nesse cenário, o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) atua de forma estratégica ao oferecer suporte financeiro à cadeia produtiva, promovendo estabilidade e desenvolvimento. Ainda assim, empreendedores do setor precisam lidar com desafios como concorrência acirrada, volatilidade de preços, escassez de mão de obra qualificada e a exigência constante por inovação e qualidade.