Aulas em condomínio ajudam adultos a aprender a nadar com segurança e acolhimento

Em Águas Claras, aulas de natação exclusivas para adultos mostram que nunca é tarde para transformar a relação com o corpo, superar traumas e criar novas conexões.

Paola Cieglinski Lobo

Postado em 11/06/2025

Nadar pode parecer uma atividade simples, corriqueira para muitos. Mas para quem chega à vida adulta sem nunca ter entrado em uma piscina, enfrentar a água exige mais do que coordenação: exige coragem, resiliência e apoio. Em Águas Claras (DF), esse processo tem ganhado espaço nas manhãs de quarta e sexta-feira, com aulas conduzidas pelo professor Marcos Monteiro, voltadas exclusivamente para adultos.

“Além de fazer uma atividade física, eles procuram aprender a nadar, que era o sonho de infância, e estão realizando agora”, conta o professor. Com treinos realizados na piscina de um prédio residencial, a proposta é atender, de forma personalizada, quem busca vencer limitações, melhorar a saúde ou simplesmente realizar um desejo antigo.

A turma, composta por 12 alunos, possui perfis diversos: há jovens adultos, aposentados e alguns idosos com mais de 70 anos. A mensalidade custa R$ 160 e as aulas duram uma hora. Marcos explicou que procura ficar mais próximo dos iniciantes, enquanto para aqueles que já sabem nadar, passa um treino mais focado em alto rendimento.

Professor Marcos acompanhado de uma de suas alunas, ele  afirma que a relação professor e aluno é extremamente importante no processo de aprendizagem / Foto: Paola Cieglinski
Professor Marcos acompanhado de uma de suas alunas: ele afirma que a relação professor e aluno é extremamente importante no processo de aprendizagem / Foto: Paola Cieglinski

Segundo ele, os primeiros passos são fundamentais: “O principal para quem está iniciando a aula são três: aprender a fazer a respiração dentro da água, a pernada e a braçada. Isso é a base”.

Idade não é barreira para quem deseja aprender

A história de Célia Antunes, de 71 anos, é um exemplo de que idade não impede novos aprendizados. Ela começou a nadar já na terceira idade e, dois anos depois, não pretende parar. “Foi ótimo, porque eu não sabia nadar, fui aprender agora aos mais de 70”, diz. Hoje, ela já se sente segura: “Eu levei dois meses pra aprender, mas hoje eu me viro”.

Motivada por questões de saúde, ela percebe uma grande diferença quando está ativa. Célia afirmou que quando fica sem fazer as aulas, suas dores pioram muito. Para além do físico, o convívio com colegas também é um fator determinante. Ela contou que a convivência com seus  colegas é a melhor possível e que fez amizades.

Célia também não poupa elogios ao professor: “Tenho um professor que é uma pessoa incrível, que gosta muito de trabalhar com pessoas idosas. Ele tem super paciência, carinhoso, sorridente, dedicado. É tudo de bom.”

Fátima de Sousa, de 62 anos, também encontrou na natação um novo objetivo de vida. Ela começou as aulas em outubro de 2021, sem nenhuma técnica, depois de ter tentado aprender há muitos anos. “Medo, não tinha, apenas estava desmotivada por ser adulta, praticamente terceira idade”.

Mesmo assim, nunca pensou em desistir. “Por conta do excelente profissional que é o professor Marcos, por passar segurança total para o aluno”, afirma. Ela contou que progrediu muito lentamente no início e, inclusive, decidiu comprar um pé de pato para facilitar a aprendizagem. Hoje, já domina os nados e consegue nadar até mesmo sem o acessório.

Para ela, aprender a nadar foi mais do que uma atividade física: “Foi a realização de mais uma meta de vida. Embora me considere ainda aprendiz, estou orgulhosa de como comecei e o quanto já consigo fazer agora.”

Transformações físicas, emocionais e sociais

O professor Marcos acompanha de perto as transformações dos seus alunos e destaca que, muitas vezes, o impacto é emocional. Ele citou como exemplo uma de suas alunas que tinha muito medo de fazer o exercício de deslize, utilizado para trabalhar a flutuação. Segundo ele, hoje ela já está começando a ter mais coragem, ainda sente receio, mas já está se soltando mais.

Ele acredita que a segurança emocional é construída a partir da relação entre aluno e professor. “Passar a segurança de que ele está aqui para aprender e não para se afogar é essencial. A aula também não pode ser só de treino, tem que ter uma parte lúdica. Eles vão se conhecendo, se tornando amigos, e assim a gente vai levando a aula.”

Além das orientações técnicas, o professor garante os materiais necessários para o bom desempenho dos alunos / Foto: Paola Cieglinski
Além das orientações técnicas, o professor garante os materiais necessários para o bom desempenho dos alunos / Foto: Paola Cieglinski

Esse acolhimento é reforçado por Fátima, que mantém uma rotina ativa e adaptou toda a sua agenda para priorizar os exercícios. “Todas as atividades físicas que realizo não impactam minha rotina porque sou aposentada há 11 anos e adequo minha rotina a partir das atividades e seus horários, pois são minha prioridade de vida.”

Caio Duarte, de 36 anos, é um exemplo de como a natação também pode ser uma forma de enfrentar traumas. “Eu sempre tive medo de água. Quando eu ia na praia, a água não passava do umbigo. Sempre tive esse negócio de querer me desafiar, de querer vencer esses medos.”

Ele começou a nadar ainda jovem adulto, em São Paulo, e retomou as aulas ao se mudar para Brasília. “Foi do zero, a primeira vez. E foi legal. A primeira vez que entrei na praia onde não dava pé e fiquei, foi uma vitória pra mim.”

Além da superação pessoal, Caio também percebeu melhorias no corpo. Ele comentou que nadar melhora muito a parte cardiorrespiratória e que, nos dias em que pratica, se sente mais relaxado, com aquela sensação de cansaço agradável. Para ele, a mensagem é clara: “Está aí a Terezinha, uma das alunas, que tem 75 anos, para mostrar que nunca é tarde para fazer nada”.

Prevenção, saúde e bem-estar em foco

Além dos benefícios já citados pelos alunos, estudos indicam que a natação contribui para o controle de doenças respiratórias, redução do estresse, emagrecimento e melhora na qualidade do sono. A prática também pode aliviar sintomas de ansiedade e depressão.

A prática da natação na vida adulta contribui para o fortalecimento muscular e prevenção de lesões. / Foto: Paola Cieglinski
A prática da natação na vida adulta contribui para o fortalecimento muscular e prevenção de lesões. / Foto: Paola Cieglinski

E não se trata apenas de qualidade de vida. A natação também pode ser um fator de segurança. No Brasil, o afogamento é responsável por cerca de 5.700 mortes por ano — uma morte a cada 90 minutos. A maioria das vítimas são homens e as ocorrências são mais frequentes em água doce e nos meses de verão.

Diante disso, aprender a nadar em qualquer fase da vida é mais do que um desafio pessoal: é uma questão de sobrevivência. O recado do professor Marcos para quem ainda tem dúvidas é direto: “Venha, faça uma aula experimental, seja com qualquer professor. Quando o professor transmite confiança e segurança, o aluno percebe que realmente vai aprender.”