Boy bands: por que o formato resiste ao tempo e ainda conquista corações?
De Beatles a One Direction, os grupos formados por meninos atravessam gerações e continuam despertando paixões intensas. Especialistas e fãs explicam os motivos por trás da longevidade do fenômeno.
Postado em 25/06/2025

Quem já não teve aquela obsessão por uma boy band na vida? Se você não teve, provavelmente conhece alguém que vivenciou ela. A história das boy bands, grupos musicais formados por meninos, teve início há mais tempo do que se pensa. Apesar de tão antigo, por que o formato ainda funciona e atrai milhões de fãs?
Segundo César Antonio Martín, jornalista internacional e especialista em música, os primeiros indícios desse formato surgiram no século 12. “As boy bands não são da agora. Elas remontam o movimento renascentista, a época onde só os homens conseguiam fazer música.”
Após isso, houve um ressurgimento de grupos vocais masculinos que ocorreu no fim da década de 1940 a 1960, com o uso do estilo de música doo-wop. Bandas de doo-wop cantavam temas sobre o amor e outros temas utilizados na música pop. Você com toda certeza já ouviu a música “My Girl” dos Temptations, de 1964. Ah! E se não sabe, o rei do pop, Michael Jackson e seus irmãos tiveram uma banda familiar, os Jackson 5, e ajudaram a formar um modelo para as boy bands.
O termo boy band só foi surgir efetivamente na década de 1980, e passou por mudanças, mas manteve uma essência: a união de vozes masculinas afinadas, com forte apelo visual e emocional. “Nos anos 80, com New Kids on the Block, e depois nos anos 90, com Backstreet Boys e NSYNC, consolidou-se um modelo que vai além da música: são grupos com coreografias impactantes, presença cênica, letras românticas e um vínculo muito próximo com os fãs”, afirma Martín.
Lucas Ferreira, crítico musical e especialista em cultura pop, analisa que apesar das mudanças da sociedade, o formato ainda funciona pelo fato de que o público sempre quer algo para se apegar. ““As boy bands continuam em alta porque são moldadas para conversar diretamente com o público jovem — especialmente adolescentes — que está em constante renovação. Cada geração encontra nessas bandas uma espécie de espelho emocional, estético e comportamental.”
Beatlemania
Em 1960, na cidade de Liverpool, Inglaterra, nascia uma das bandas mais icônicas da história, os Beatles. Apesar de não ser considerado efetivamente como uma boy band, os ingleses são um dos primeiros casos de artistas que causam um tipo de comoção desenfreada.
Formado por Ringo Starr, John Lennon, Paul McCartney e George Harrison, os Beatles levaram multidões e mantêm até hoje uma base sólida de fãs de diversas gerações, e Simone Tortato é uma delas. A radialista conta que o amor surgiu por influência de seu pai, que sempre amou o grupo musical. “Meu pai já era louco pela banda desde a juventude e passou para mim essa paixão. Tenho lembranças de, já com 5, 6 anos, pedir para escutar os discos. Esse amor só foi aumentando com o tempo.”

Além de colecionar livros, revistas, bonecos, pelúcia, discos de vinil e CDs, a paixão de Simone se fez presente até no âmbito profissional de sua vida. Ela dirigiu e apresentou um documentário musical sobre eles na TV Gazeta de SP em 2014, ano em que se comemorava os 50 anos da British Invasion, marcada pela chegada dos Beatles aos EUA.
“Toda a concepção do programa é minha. A ideia de fazer um programa especial sobre os Beatles, misturando documentário e musical, surgiu, além do óbvio fascínio que sempre tive por eles, pela vontade de resgatar e mostrar para as gerações mais jovens coisas que, ao meu ver, não podem ser esquecidas dentro da história da música contemporânea”, comenta.
Por mais que os tempos tenham mudado, e muito, ela acredita que eles ainda carregam essa aura e representam esse sentimento de talento conjunto. “Conheci lugares e pessoas maravilhosas a partir desse amor que tenho pela banda. Os Beatles continuam a despertar fascínio pelo carisma e talento de seus integrantes, pela união quase que mágica desses talentos, pela musicalidade, experimentação e pioneirismo, por serem referência da esmagadora maioria dos artistas que vieram depois, e por representarem uma época quase ingênua, onde ser um jovem considerado rebelde era um ato de coragem.”
Directioners
Uma das bandas mais memoráveis e geracionais também nasceu na Inglaterra. Quem via Harry, Niall, Zayn, Liam e Louis fazendo suas respectivas audições para o The X Factor UK em 2010 jamais imaginaria o sucesso mundial e estrondoso que eles fariam juntos. Apesar da dança ter sido um dos principais fatores de sucesso em outras boybands, não ter nada disso em sua essência foi o fator diferencial dos até então 5 meninos.
Mariana Siriaco é fã da banda há 14 anos e complementa: “A One Direction, na verdade, mudou muito o conceito em si de boy band, eles não eram sincronizados, não dançavam, não usavam roupas iguais, posso até dizer que foram uma banda bem única”, acredita.
Ela analisa que além de terem um catálogo musical diverso, com 5 álbuns de estúdio lançados, a diversidade que a banda tinha, a beleza, o carisma e o fato de não se levarem a sério foi algo único.

A banda foi reconhecida pelo Guinness World Records por várias conquistas, incluindo o maior número de músicas a estrear no Top 10 da Billboard. “A memória afetiva é o verdadeiro sentimento. Digo pela minha pessoa, relembrar a One Direction é relembrar minha adolescência, meus melhores anos, os pôsters no quarto, as amigas feitas por fã clube, as madrugadas votando por alguma premiação… Icônico!”
A banda entrou em hiatus em 2015, mas mesmo assim ainda coleciona milhões de fãs apaixonados, e que hoje, infelizmente, lidam com um trauma recente. Liam morreu em setembro do ano passado em Buenos Aires, Argentina. “Sou muito fã do Harry Styles, já fui nos shows dele aqui no Brasil em 2018 e 2022 e o acompanho até hoje. Também gosto muito da carreira solo do Niall Horan, fui no show dele ano passado e adorei! Porém, duvido que tenha alguma reunião, principalmente depois do ocorrido com o Liam, mas nada é impossível”, diz.
BSB Squad
Fernanda Araújo tem 28 anos e coleciona um amor inabalável há 17 anos pela boy band BackStreet Boys. A professora acredita que um dos segredos pelo formato ser tão consumido até hoje é a sensação de nostalgia e pertencimento. “É muito bom poder trocar ideias com outras pessoas que são fãs deles e poder voltar ao passado e relembrar bons momentos. Não mudou, só faz crescer com o tempo”, conta.
Os Backstreet Boys são um grupo pop norte-americano formado em 1993, em Orlando, Flórida, pelo produtor Lou Pearlman. Em 2005, anunciaram seu hiatus, mas hoje já voltaram à atividade e inclusive, farão show em setembro no Brasil. “A música deles nunca mudou de estilo, segue tendo boa letra, melodia e traz muita nostalgia do início dos anos 2000.”
De acordo com Lucas, as pausas ou fim dos grupos são algo quase que certeiros quando falamos desse tipo de configuração. “Os hiatos geralmente fazem parte da estratégia. Primeiro, há o desgaste natural de um formato que exige muito — turnês intensas, agendas lotadas e exposição constante. Mas também há um lado comercial: um hiato cria saudade, expectativa e pode ser usado como forma de reposicionamento, seja para lançamentos futuros ou para as carreiras solo dos integrantes”, diz.
Paixão e adaptações
Esse formato, segundo César, é desenhado para encantar. “Mistura música pop com beleza idealizada, dança, impacto audiovisual e muita estratégia. É por isso que continua funcionando — não só com quem foi fã na juventude, mas com as filhas e netas dessas pessoas.”
Carisma, estratégia para prender o público e talento são o que perpetuam as boybands até hoje. Sejam elas ocidentais ou orientais, como os diversos grupos de K-Pop. “Eles fazem músicas que são muito fáceis de gostar e que as pessoas se identificam rapidamente com elas. São músicas românticas que servem para casais, para unir amizades e se alegrar em festividades. E ainda voltam como impacto audiovisual nas mídias sociais, nos shows e nos clipes musicais”, finaliza Martín.
As fãs procuradas pela reportagem tem algo em comum. Apesar de não gostarem da mesma banda, elas carregam as memórias construídas como pilares importantes de suas vidas. “O apelo das boy bands também está ligado à criação de uma relação de intimidade com os fãs. Elas não vendem apenas música, vendem experiências, pertencimento, fantasia. Isso é potencializado pelas redes sociais, que hoje permitem uma conexão ainda mais direta com o público”, acredita Lucas.