Comunicadora de periferia brilha nos bastidores dos grandes festivais do DF
A trajetória de Maria Laura Duque evidencia como a paixão e a criatividade são capazes de transformar desafios em conquistas na comunicação e no marketing.
Postado em 10/06/2025
Mesmo sendo estudante de Enfermagem, foi na comunicação que o coração de Maria Laura Duque bateu mais forte. Aos 23 anos, ela é formada na área da saúde, mas encontrou sua verdadeira vocação nos bastidores da cultura. Comunicadora por paixão e escolha, Maria já soma três anos de experiência no mercado e, há um ano, integra o time da R2, uma das maiores produtoras de eventos do Distrito Federal. Como coordenadora de comunicação, vem se destacando em grandes produções culturais pela combinação de carisma, dedicação e visão estratégica.
Primeira comunicadora da família, nascida e criada no Recanto das Emas, periferia do DF, ela carrega com orgulho suas origens e conquista espaço em um meio onde poucas pessoas como ela chegam. Apaixonada por “brasileirices” e movida pela criatividade, Maria entrega um trabalho autêntico, com identidade e afeto e faz questão de inspirar quem está começando na área a também acreditar no próprio caminho.

Em que momento você percebeu que a comunicação era sua verdadeira vocação? O que despertou seu interesse e fez seus olhos brilharem por essa área?
Minha história com a comunicação é engraçada. Sempre fui muito comunicativa. Desde o Ensino Fundamental e Médio, eu adorava liderar os trabalhos, montar slides, apresentações, vídeos, roteiros. Sempre gostei disso, mas nunca imaginei que daria pra ganhar dinheiro com isso. Nunca cogitei fazer Jornalismo ou Publicidade. Durante a pandemia, tive um brechó online e usava minhas redes para divulgar as peças. Sempre fui muito ativa no meu Instagram pessoal. Na época, meu namorado, que já era filmmaker e estava estabilizado em Brasília, falou: “Você pode ganhar dinheiro com isso.” A partir daí, ele começou a me colocar nos projetos dele, e eu comecei a trabalhar como social media. Foi aí que percebi que gostava e era boa nisso. Me sentia criativa, e hoje me vejo mais estratégica, especialmente nas redes. Foi nesse momento que pensei: “Meu Deus, é isso que eu quero pra minha vida. Não quero seguir na enfermagem.” E foi assim que tudo começou.
Você esteve à frente da comunicação de grandes eventos em Brasília, como o Festival Meskla e o Carnaval do Mané. Como foi essa experiência?
Extremamente desafiadora e uma grande responsabilidade. O Meskla é o segundo maior evento da R2, perdendo só para o evento Na Praia, que é o mais consolidado. O Carnaval do Mané vem logo depois. Este ano, eu assumi a comunicação dos dois, e a responsabilidade era enorme: precisava garantir impacto positivo, com uma comunicação assertiva e criativa. O maior aprendizado foi entender que ninguém faz nada sozinho. Como coordenadora, percebi o quanto é importante ter um time que “faça barulho” junto. Os designers (que a gente chama de housing), a equipe de produção, o time de vendas, todo mundo é essencial. O objetivo final é vender ingresso. Liderar é desafiador porque você precisa estar por dentro de tudo. Mas com um time engajado, tudo flui melhor e o trabalho até fica mais gostoso.
Você é fã do Festival Meskla. O que torna esse evento tão especial? E como esse interesse pessoal influencia seu trabalho?
O Meskla é muito representativo. Ele fala com a juventude, com a cena hip hop. Eu vim da periferia, então me identifico com essa linguagem. É como se eu estivesse falando comigo mesma: uma comunicação criativa, direta, No ano passado, eu ainda era freelancer, não fazia parte da equipe fixa. Fiz a cobertura em tempo real para a conta da R2, totalmente nos bastidores. Aproveitei essa oportunidade para criar conteúdo também pro meu perfil pessoal, mudando meu posicionamento nas redes como comunicadora. Isso me deu visibilidade e me colocou como uma referência em comunicação dentro do entretenimento. Foi o grande divisor de águas da minha trajetória.
Na sua visão, qual é o impacto real do seu trabalho na comunicação? As pessoas entendem o tamanho desse papel?
Acho que quem é leigo não entende. Quem está fora do mercado não faz ideia do quanto a gente faz e é responsável. Desde um post nas redes até um outdoor, um spot de rádio, um comercial, as peças nas paradas de ônibus, tudo é comunicação. Hoje, pelos meus conteúdos nas redes, acho que meus seguidores já têm mais noção. Mas mesmo assim, nem todo mundo entende a complexidade de estar na coordenação. Até meus pais demoraram para entender com o que eu realmente trabalhava. Para quem é da área, o reconhecimento já veio. Principalmente depois do vídeo que postei correndo pra todo lado. Muita gente acha que é só glamour e artista, mas na real é resolver B.O o tempo todo e fazer as coisas acontecerem.
Como você encara esse papel de ser uma inspiração para quem está começando na comunicação?
Sinto que acabo inspirando, sim. Muita gente da faculdade vem me perguntar: “Maria, como consigo uma oportunidade? Como me posiciono?” E eu sempre digo que é só mostrar a realidade. As pessoas se identificam e percebem que é possível, mas a gente tem que tomar cuidado pra não glamourizar. Não é sobre romantizar 12 horas de trabalho, não descansar, topar tudo. É mostrar que é legal, mas que também é puxado, exige muito. No fim, sem comunicação, nada acontece.
Você acha que o cenário cultural em Brasília está evoluindo? E está acessível para todo mundo?
É engraçado você perguntar isso, porque rolou uma pergunta parecida numa palestra com a Luiza Garonce e o pessoal da Globo, lá na UnB. Acredito muito no mercado cultural de Brasília. Mas é chocante ver que os próprios moradores, os nativos, muitas vezes não sabem tudo o que acontece aqui. Toda semana tem coisa rolando, mas não chega nas RAs. Os cronogramas culturais do Plano Piloto, por exemplo, raramente chegam às periferias. Brasília é diversa, recebe influências de vários estados, e isso faz da cena algo muito rico. Mas ainda não é acessível para todo mundo. Me vejo com essa missão na carreira: tornar a cultura mais acessível. Divulgar os eventos, inclusive os que não são da R2. Falar do jazz no CCBB às quartas, ou do evento na Jovem Expressão na Ceilândia às sextas. Fazer com que a cultura chegue mais longe.
Como você equilibra tradição e inovação na comunicação de eventos culturais, considerando públicos tão diversos?
A coisa mais importante, e que eu sempre defendo, é conhecer o seu público. Não adianta estar num festival de jazz, com público de 30 a 45 anos, e se comunicar como se fosse para jovens de 20. Tem que entender onde o público está. Se é uma galera mais velha, talvez o caminho seja o Facebook, rádio, jornal, TV. A cultura muitas vezes tem essa linguagem mais formal, menos visual. Depois de entender como o público consome conteúdo, aí sim você pode criar com criatividade. No Meskla, por exemplo, o alcance é enorme porque o público está no Twitter, Instagram, TikTok. Já o público do jazz tende a ser mais saudosista, conservador, e espera algo mais direto e tradicional. Pra impactar bem, conhecer o público é tudo.
De que forma suas vivências, como foi criada, onde cresceu, influenciam seu jeito de fazer comunicação?
Cresci em uma casa cheia, com três irmãos, muitos primos, amigos. Sempre vivi em comunidade, conversando, brincando, me envolvendo. Acho que meu jeito dinâmico vem muito disso.Na escola e na faculdade, eu sempre fui “a falante”, tomava frente dos trabalhos e era bem nerd, então as pessoas confiavam em mim para projetos. Mesmo sem gostar tanto da enfermagem, eu era ativa e me jogava. Nunca tive referência na área da comunicação. Sou a primeira da família a trabalhar com isso, a viajar a trabalho, a atuar com redes. Então, na época de escolher um curso, essa possibilidade nem passou pela minha cabeça. Cresci cercada de profissionais da saúde, então fui influenciada por isso. Mas quando a comunicação chegou até mim, eu entendi que era aquilo. E abracei com tudo, porque me faz feliz. Diferente da enfermagem, que me deixava insegura, a comunicação me anima, não tem rotina, é mais leve, mais livre.
O que você considera essencial para construir uma carreira sólida e com propósito na comunicação?
Acho que o mais importante que aprendi foi saber me posicionar, com verdade e estratégia. Me posiciono quando tô satisfeita, quando não tô… E isso me ajudou a construir respeito. Não é ser autoritária, é saber onde você quer chegar. Carreira exige planejamento, e também transparência. Eu, por exemplo, não separo a Maria pessoal da Maria profissional. Quero ser contratada pela entrega, claro, mas também pela forma leve e humana de trabalhar. Na minha rede, tem job, mas também tem família e amigos. E isso faz parte. Se eu puder dar um conselho, seria: se relacionem de verdade. Façam conexões sinceras, não só networking. E saibam o que não querem. Isso evita cair em lugares que não têm a ver com você. Comece com o que você tem. Não espere o melhor celular, o cargo dos sonhos. Comece de onde está, com o que tem, e vá com estratégia. Isso faz toda a diferença.
Bate-volta
- Evento mais marcante: Meskla
- Artista que mais gostou de conhecer: Liniker
- Artista que gostaria de conhecer: Emicida
- Mulher que te inspira: Bell Hooks
- O que é cultura: Pulsante. Feijão com arroz. Essencial.
- Música que te representa: Não é uma música, é a Flora Matos inteira.
- Palavra que define pós-evento: Orgulho
- Como a Maria de cinco anos atrás ficaria se te visse agora: Orgulhosa e surpresa
- Palavra que te define hoje: Representatividade
- Maior sonho: Ser mãe
- Como define seu trabalho: Um desafio diário
