K-pop nas redes sociais influencia estilo e comportamento de fãs
Jovens acompanham as tendências da moda coreana pelas telas.
Postado em 16/05/2025
Nicole Fernandes, de 20 anos, é estudante de economia e fã de K-pop (música pop coreana) há cerca de seis anos. Ela acompanha os grupos e cantores favoritos essencialmente pelas redes sociais, sejam os conteúdos musicais, os programas de televisão ou as tendências do nicho. A cultura já faz parte do dia a dia da jovem, de maneira a integrar seu estilo pessoal, seus gostos e seu comportamento, principalmente online.
O K-pop contribui para a identidade de diversos fãs, como Nicole, através das mídias digitais. A moda em específico acompanha as tendências ao serem exibidas constantes novidades nas redes sociais como TikTok, Instagram e X (antigo Twitter). Os artistas usam um estilo de roupa e, logo, os fãs, por se identificarem com os ídolos, querem segui-los. “Você nem percebe que está usando as mesmas roupas, procurando roupa parecida, ou você coloca um photocard na sua bolsa para decorar”, explica Nicole.

Contudo, apesar de existir um padrão de surgimento e seguimento de tendências entre fãs de K-pop, a estudante explica como o estilo pessoal de cada fã também faz parte da identidade do nicho. Cada grupo segue uma estética diferente e é a partir da afinidade com estes que é formado o estilo de um fã. Nicole, por exemplo, se identificava majoritariamente com a estética de alguns grupos femininos, com saias plissadas e camisas de botão, apesar de acompanhar muito mais artistas masculinos.
Raul Rosa, de 16 anos, porém, se vê mais em artistas masculinos que seguem uma estética andrógina. Ele é fã de K-pop desde 2022, por influência de uma amiga, e acompanha mais grupos femininos que masculinos. Diferente de Nicole, o adolescente não acompanha tanto os conteúdos, preferindo apenas escutar as músicas e seguir os perfis dos artistas no Instagram. Ainda assim, Raul admite que a cultura alterou a forma como se comporta nas redes sociais e como se veste.
Ele explica que o maior obstáculo para seguir as tendências da moda coreana é a falta de acessibilidade às peças, pois grande parte envolve marcas de grife. Entretanto, ainda assim é possível usar a criatividade e criar um estilo próprio, com peças acessíveis, inspirado nos modelos originais. “Esse suéter eu comprei em um brechó. Eu consigo ver um idol usando isso aqui”, conta, mostrando a peça, uma blusa de mangas compridas furada como uma rede.

A moda como identidade
O estrategista, professor, jornalista e designer de moda Fernando Demarchi explica como a moda é a linguagem através da qual o jovem constrói sua identidade, pois ela oferece um meio de expressão de subjetividades. Ela permite a experimentação de pertencimento, estilo e papéis sociais, fornecendo reconhecimento e diferenciação. “Através das escolhas estéticas, o adolescente afirma sua existência e busca sua inserção em grupos de afinidade, projetando no corpo aquilo que deseja comunicar sobre si”, explica.
Para o designer, as redes sociais desempenham um papel de mediação do olhar e criam espaços para as performances da moda, onde o estilo é constantemente construído e reconstruído. “O estilo, nesse contexto, se torna fluido, híbrido e altamente influenciado pelo capital visual”, comenta. Os influenciadores, ou, neste caso, os artistas de K-pop, atuam como intermediários entre os jovens consumidores e as marcas.
Os nichos estéticos encontrados na internet são territórios simbólicos de pertencimento. Ao aderir a uma estética digitalmente popularizada, os jovens muito provavelmente encontram, além do visual, comunidades que compartilham de valores, gostos e comportamentos.
Dessa forma, as tendências da moda online influenciam tanto a construção da identidade pessoal quanto o mercado consumidor. Para Fernando, o apelo ao consumo costuma se sobrepor, especialmente com a hiperexposição e a obsolescência programada. Porém, é inegável a função dessas tendências como catalisadores da experimentação e descoberta identitária. “O risco reside quando a adesão a tendências se dá de forma acrítica, substituindo a construção de estilo pessoal por uma performance compulsória”, afirma.
Um dos dilemas centrais da estética contemporânea, para o designer, é o conflito entre a vontade de pertencer e o estilo pessoal. O ato de se inserir em uma comunidade estética online geralmente implica na imposição de um código visual específico, o que leva o jovem a moldar-se às expectativas do grupo. “Isso pode enfraquecer a expressão do estilo pessoal, especialmente quando este não se alinha às tendências dominantes”, explica o professor.