Projeto do Colégio Militar de Ceilândia utiliza IA como suporte para a produção de textos
Iniciativa busca melhorar as habilidades dos alunos nas redações e prepará-los para o Enem
Postado em 04/06/2025
A professora de redação da unidade de Ceilândia do Colégio Militar Dom Pedro II (CMPDII), Sônia Cotrim, realiza um projeto que busca implementar inteligência artificial (IA) na produção de redações estilo Enem. A iniciativa surgiu da proposta de aproximar os estudantes das novas tecnologias e mostrar como elas podem ser utilizadas de forma pedagógica, potencializando o aprendizado e aprimorando as habilidades de escrita.
No laboratório de informática do CMDPII, os alunos do primeiro ano do ensino médio utilizam ferramentas de inteligência artificial, especialmente o ChatGPT, para avaliar suas redações. Com os textos já escritos, os estudantes são orientados a solicitar à IA uma análise baseada nas cinco competências exigidas pelo Enem. O ChatGPT, então, aponta aspectos positivos e pontos a melhorar em cada critério, ajudando os alunos a compreender melhor seu desempenho e a revisar seus textos com mais precisão.

A proposta visa utilizar a IA como um suporte pedagógico, permitindo que os alunos recebam sugestões e apontamentos sobre seus textos, mas sem que a tecnologia assuma o papel de autora. “Não me interessa saber o que o ChatGPT sabe, interessa o que os alunos sabem, como eles estão produzindo”, afirma a professora. Por isso, além das avaliações formativas, que são realizadas em casa, os alunos também realizam provas na escola, sob a vigilância de um monitor, onde eles não têm acesso a Inteligência artificial e suas habilidades podem realmente ser testadas.
“Se eles estão usando o ChatGPT para burlar o sistema, isso pode até ajudar em uma prova ou tarefa pontual, mas não vai ajudar no Enem”, explica a professora, ressaltando a importância de orientar os alunos sobre o uso consciente e ético da inteligência artificial. Para ela, mais do que uma ferramenta de apoio, a IA deve ser vista como um recurso para o aprendizado, e não como um atalho que substitui o esforço individual e o desenvolvimento real das habilidades de escrita.
Em uma análise das notas dos alunos, foi possível observar uma melhora significativa no desempenho dos alunos após a implementação do projeto. A média geral das redações subiu de 606 para 622 de 1000 pontos entre todos os estudantes que participaram da iniciativa. Esse aumento foi ainda mais expressivo entre os alunos que realizaram o Enem como treineiros, cuja média saltou de 582 para 699 pontos. Os dados revelam que, embora a IA tenha atuado como uma ferramenta de apoio, o fator determinante para o avanço foi o comprometimento dos próprios alunos.
Os alunos, em sua maioria, relataram de forma em sua maioria uma percepção positiva em relação ao uso da inteligência artificial. Eles destacaram a efetividade da técnica ensinada, ressaltando como o uso do ChatGPT contribuiu para identificar pontos de melhoria em suas redações e entender melhor os critérios de correção no estilo Enem. Para muitos, a IA funcionou como uma espécie de orientadora adicional ao professor, oferecendo retornos imediatos que ajudaram a refletir sobre a própria escrita.
O projeto nasceu da iniciativa da professora Sônia Cotrim, motivada por seu interesse pessoal em tecnologia e pelo desejo de aplicá-la de forma útil no processo de ensino. “Eu sempre fui muito ligada em tecnologia, então quando o ChatGPT apareceu, a primeira coisa que pensei foi: ‘Como posso usar essa ferramenta?’”, conta a docente. A ideia de integrar tecnologia e educação, além de ser uma vontade pessoal da professora, também está alinhada às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que incentiva as escolas a adotarem recursos tecnológicos e espera que os professores estejam atentos aos avanços digitais e a formas de implementá-los em sala de aula.
Sônia Cotrim também destacou que não enfrentou dificuldades para obter a aprovação da escola em relação ao projeto. Segundo ela, ao contrário do que muitos imaginam, o Colégio Militar Dom Pedro II mostrou-se receptivo à proposta. “As pessoas esperam que um colégio militar seja fechado e tradicionalista, mas o que eu experiencio é uma escola que está aberta a essas possibilidades”, afirma a professora, ressaltando o apoio da instituição à inovação no ambiente educacional.