Bancas de jornal se adaptam e sobrevivem no Plano Piloto

Estabelecimentos buscam alternativas para resistir frente aos novos costumes trazidos pelo digital

Débora Sobreira Rezende

Postado em 03/06/2025

Não é de hoje que é possível perceber uma mudança no negócio das bancas de jornal. A digitalização de seus principais produtos – as notícias – marcaram o fim de um modo de funcionamento e muitos dos pontos tradicionais das áreas residenciais do Plano Piloto aparecem agora repaginados, com os proprietários experimentando diferentes ramos de atuação.

A revitalização da banca localizada na SQS 206 foi fruto de ação do proprietário Pedro Raphael e seus familiares, que atuam em diferentes frentes da loja e contribuíram com o novo nome: Bancart. Com a proposta de unir lazer e artesanato, a equipe dá uma nova cara a um espaço que por anos se encontrou inutilizado.

A banca agora funciona como uma conveniência, priorizando a venda de lanches, bebidas e pratos completos à noite. O espaço oferece almoços aos sábados, e a alimentação se apresenta como o maior retorno financeiro para os proprietários, Pedro e Célia.

A antiga banca foi revitalizada pela família de Pedro | Foto: Acervo pessoal

A Chico Banca e Café na SQS 207 hoje pertence ao empreendedor Pedro Rodrigues, mas antes era do Chico, seu avô. À época, 1979, o local não tinha nome e havia acabado de ser inaugurado. A partir de 2024, já sob nova gestão, a banca chama a atenção por sua arquitetura diferenciada e leque amplo de serviços.

“Acredito que nosso caráter mais inovador foi o que fez com que nossa clientela se tornasse vasta e não reduzida aos moradores da quadra”, diz Pedro, que tem o incentivo à leitura e à valorização dos impressos como base principal para a loja. O empreendedor afirma perceber o sucesso ao conversar com clientes, que passaram a priorizar o processo ritualístico da leitura: sentir os cheiros, texturas e o mover de páginas trazidos pelo impresso.

Os dois empreendedores afirmam notar um papel crucial da internet como aliada na recuperação dos espaços. Os perfis na rede social Instagram de ambas as bancas funcionam como uma das melhores maneiras de expandir o alcance do negócio para além dos prédios ao redor.

O bom, o velho e o “de sempre”

Há quem, mesmo com a instabilidade do ramo, decida reservar à banquinha sua função original: esse é o caso de Benedito Alves, proprietário da banca que ocupa a área pública da SQS 315. Com os dizeres “Banca Toda Azul da 315 Sul” na fachada, o estabelecimento foi herdado do pai e permanece aberta há 53 anos.

Apesar de não investir em inovações quanto aos produtos e espaços oferecidos na loja, e principalmente, reconhecer o impacto de uma sociedade não mais dependente do meio impresso para se manter informada, ele aposta na familiaridade e na confiança para manter o fluxo de clientes, que é composto principalmente por residentes mais antigos. “Muitas pessoas trazem netos que, seguindo o exemplo dos avós, acabam criando um apego pelas banquinhas e pela leitura”.

O apego às interações e valor familiar são elementos chave para Benedito não abrir mão de sua banca, mas não são os únicos fatores: conta que, a cada ano, o ponto passa por mais desvalorização. Os baixos valores oferecidos, somados às reformas necessárias a estruturas já antigas, faz com que as propostas de compra sejam, em maioria, muito abaixo do valor esperado.

Lourivaldo Soares Marques é quem abre as janelas para os primeiros raios da manhã adentrarem a banca de jornal mais antiga da cidade. Localizada na SQS 108, a loja dispõe de uma variedade de produtos e faz uso de sua história como chamariz de vendas.

Banca mais antiga do DF possui atrativos nos espaços interno e externo | Foto: Débora Sobreira

“A visita [à banca] valeu não só para conhecer o lado residencial de Brasília como também serviu como um ponto de apoio muito importante para mim, enquanto turista, ter um espaço para descansar e curtir”, comenta o aposentado José Barreto, que veio de Salvador a passeio e teve a banca da 108 sul como parte do roteiro turístico junto a visita guiada. Performando o repente que resume a história do local e já se tornou marca registrada, Lourivaldo aproveita para mostrar ao grupo as canecas com azulejos da capital disponíveis na banca como uma boa opção de lembrancinhas aos visitantes.

Lourivaldo aproveita a história de sua banca para impulsioná-la como um ponto de turismo | Foto: Débora Sobreira