Charles do Bronx inspira projetos sociais com jiu-jitsu no DF
Programa da PMDF usa a arte marcial para promover disciplina e autoestima entre jovens.
Postado em 10/06/2025

O jiu-jitsu tem ganhado espaço como ferramenta de transformação social. Mais do que uma arte marcial, sua prática tem mudado vidas, onde a disciplina e o respeito são tão importantes quanto a técnica. No Distrito Federal, iniciativas como o Programa Prevenindo com Arte, da Polícia Militar, mostram como o esporte pode ser um agente de mudança. A inspiração? O ex-campeão do UFC Charles do Bronx, que enfrentará Ilia Topuria no UFC 317, dia 28 de junho, durante a International Fight Week.
Formado dentro de um projeto social na favela no Guarujá-SP, Charles do Bronx se tornou referência para jovens e adultos. Sua trajetória serve como estímulo para alunos como Rodrigo Viana, de 41 anos, que começou recentemente no jiu-jitsu: “Há muito tempo eu tinha vontade de praticar alguma arte marcial. Por influência de algumas pessoas próximas que já treinavam jiu-jitsu, acabei começando também. A partir daí, percebi uma grande melhora no controle do estresse e, além disso, construí um novo ciclo de amizades. As novas experiências, tanto dentro quanto fora do tatame, têm sido muito gratificantes. É realmente uma sensação muito boa.”
O impacto vai além da prática esportiva. O Programa Prevenindo com Arte, desenvolvido no 4º Batalhão da Polícia Militar do DF, atua com ações preventivas, educativas e esportivas voltadas à comunidade. Desde 2015, já atendeu mais de cinco mil famílias, oferecendo uma alternativa positiva ao risco social por meio da atividade física, da convivência e da valorização da cidadania.
Lições que vão além do tatame
Segundo o professor José Neto, faixa preta e instrutor do programa, o jiu-jitsu atua diretamente sobre questões emocionais e familiares. “Sim, já dei aula em outro projeto antes também. E posso dizer que aqui é parecido, embora o contexto mude um pouco. Muitos alunos vêm com dificuldades, problemas familiares, emocionais… A gente vê bastante isso. Aqui, no Batalhão, os desafios são mais ligados à depressão, desânimo. Às vezes, o pai traz o filho para treinar e acaba ele mesmo entrando e continuando. É uma maneira de lidar com questões familiares também.”
A metodologia do programa aposta no tripé disciplina, inclusão e saúde. O espaço físico é preparado para acolher todas as faixas etárias, com professores voluntários e materiais específicos. A proposta é afastar jovens de riscos sociais e aproximar a comunidade da corporação por meio do esporte.
Gabryella Araujo, de 19 anos, começou a treinar há poucos meses e conquistou recentemente seu primeiro grau na faixa: “Conquistar meu primeiro grau foi um momento muito marcante. Fiquei realmente emocionada, porque senti que todo o esforço e dedicação que tenho colocado nos treinos realmente estão valendo a pena. Foi uma conquista muito significativa para mim.” Ela relata que o jiu-jitsu tem sido um caminho de autoconhecimento e superação.

Para o professor Neto, os benefícios do jiu-jitsu vão além do físico: “O jiu-jitsu traz autoconfiança, disciplina e respeito. Esses valores são fundamentais para qualquer sociedade. Através da prática, o aluno começa a se enxergar de outra forma. Isso muda a mentalidade, muda o comportamento. É uma ferramenta poderosa.”
Mesmo sem a intenção de competir, Rodrigo vê mudanças reais. “Uma coisa é certa: nunca é tarde para começar. Além disso, o foco, a disciplina e a mentalidade mudam significativamente em várias situações do dia a dia. A idade ou o tempo não devem ser vistos como obstáculos. Vale muito a pena dar o primeiro passo. Depois que você começa, o restante flui naturalmente.”
A figura de Charles do Bronx também é lembrada pelos entrevistados como um símbolo de persistência. “Com certeza, há uma inspiração muito forte envolvida, especialmente porque muitas pessoas, ao enfrentarem alguma contusão, principalmente no início, acabam desistindo. Ver um grande ídolo superar esses desafios e alcançar o topo serve como um incentivo a mais”, afirma Rodrigo.
Já Gabryella enxerga nas mulheres do jiu-jitsu uma referência para continuar: “Uma das minhas maiores inspirações, com certeza, é a Kyra Gracie. Foi por meio dela e da família dela que comecei a conhecer um pouco mais sobre o jiu-jitsu. Apesar de treinarmos em linhagens diferentes — ela segue a vertente Gracie, enquanto minha academia segue outra linha — tudo ainda é jiu-jitsu no final das contas. E ela, sem dúvida, é uma das minhas maiores referências no esporte.”
Com base em histórias reais e inspiração vinda de grandes nomes, os projetos sociais mostram que o jiu-jitsu pode ser uma ponte entre a vulnerabilidade e novas possibilidades. Uma luta diária, mas que forma campeões.

Portfólio completo do Programa Prevenindo com Arte (PDF):
Grade Horária 2025 do Programa (PDF):