Furries e therians: entenda a diferença de comportamento entre os grupos

Prática tem adeptos em todo o mundo; em Brasília, o grupo de furries Patas do Cerrado existe há 7 anos.

Maximus José Lavers Hernández

Postado em 25/06/2025

Longe de representar apenas uma moda passageira, os therians são um conjunto de indivíduos que vivenciam uma profunda conexão com espécies não-humanas no mundo todo. Eles se identificam em um nível espiritual ou psicológico como um animal. Essa identidade, que está presente inclusive no Brasil, tem levantado questionamentos sobre a diversidade humana e as múltiplas formas de autodescoberta. Na Holanda, por exemplo, ocorreu um concurso de adestramento onde tais indivíduos deveriam demonstrar suas habilidades “caninas” ao seguirem ordens de outros seres humanos. Já na Europa hoje em dia é comum o encontro de therians em praças públicas ou eventos recreativos.

Já os furries são entusiastas de animais antropomórficos, podendo expressar isso através de cosplay, arte, fantasias e representações de personagens animais. Sobre essa diferença e a recente ascensão dos therians nas redes, “Tayroth”, administradora do grupo de furries Patas do Cerrado pontua: “Eu acho que é importante a liberdade de expressão e de identificação de todas as pessoas. A questão é que independente da escolha, muitas crianças acabam consumindo muitos conteúdos de forma irresponsável sem supervisão dos pais, seja conteúdo therian, furry, ou de qualquer outra subcultura”.

Ela também detalha sobre como foi o processo de organizar e administrar um grupo de furries de Brasília. “Eu comecei a organização há 7 anos. Sempre busquei variar os locais e atender ao máximo de pessoas possíveis, desde encontros maiores, movimentados, até os menores e mais tranquilos, pois dentro da comunidade existem diversos tipos de pessoas, das mais extrovertidas até as mais introvertidas”.

Dupla de furries brasilienses nas proximidades do Congresso Nacional | (Crédito: Patas do Cerrado)

Descobertas
Para “Eduardo”, designer de Minas Gerais, ser therian não é uma escolha, mas sim um senso de ser, uma parte fundamental de sua identidade. “Eu sinto, e já falei sobre isso com alguns amigos da comunidade, a gente não escolhe ser therian. Eu mesmo me sinto como um furão há muito tempo, e foi graças a divulgação da internet que eu consegui finalmente entender o que era essa sensação.”

Essa identificação pode se manifestar de diversas formas no dia a dia. Nas redes sociais, é comum ver therians imitando sons, movimentos e comportamentos de seus animais de identificação, seja um lobo uivando, um gato espreguiçando ou um pássaro voando.

Apesar da aparição nas redes, na maioria das vezes os comentários são negativos, tornando tanto therians como furries alvos de piadas e incompreensão, pois são tidos como pessoas que vivem em um mundo de fantasia ou que negam sua humanidade. “Os maiores equívocos sobre nós são que somos loucos, que pensamos que somos literalmente animais ou que estamos tentando fugir da realidade”, desabafa Ana (identificada como raposa).

“O que eu gostaria que as pessoas realmente soubessem é que ser assim é uma parte genuína da nossa identidade, assim como alguém se identifica com um gênero ou uma orientação. É uma conexão profunda e significativa que nos ajuda a nos entender e a nos sentir mais completos”, diz Ana.

Para compreender a identidade animal de uma perspectiva psicológica é fundamental uma abordagem ética e sem julgamento. A psicóloga Gianina Pizetta oferece sua visão. “Comportamentos como esse podem estar ligados a uma necessidade de desconexão com a realidade a qual vivenciam e também com a necessidade de pertencimento de grupo. De todo modo, é sempre importante avaliar com cuidado cada caso”, explica.

Grupo de furries em ensaio fotográfico Brasília (DF) | (Crédito: Patas do Cerrado)