Futebol feminino conquista espaço nos times de base
Com apoio institucional, participação escolar e projetos, o futebol feminino ganha força nas comunidades, inspira novas gerações e rompe barreiras de gênero nas quadras e campos do Brasil.
Postado em 03/06/2025
O futebol feminino tem de destacado nas escolinhas de bairro e times de base em todo o país. De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o número de jogadoras registradas no Brasil aumentou 132% entre 2019 e 2023, refletindo o crescimento do interesse e da participação feminina no esporte. Iniciativas esportivas que oferecem oportunidades para meninas têm sido fundamentais para democratizar o acesso ao futebol. Além disso, com apoio de instituições e o fortalecimento da base, o futebol feminino avança, promovendo inclusão, igualdade de gênero e formação cidadã desde as categorias iniciais.
Escolinha de futebol e projeto social: Shalke 12
Farion Souza, treinador e criador do time de base Shalke 12, projeto que atua em Brasília desde 2008, tem como missão usar o esporte como ferramenta de transformação social. A iniciativa nasceu na comunidade de Samambaia, com o objetivo de tirar crianças e jovens das ruas, promover valores e oferecer oportunidades por meio do futebol. Nos últimos anos, Farion conta que o número de meninas interessadas nos treinos aumentou significativamente.
“No começo, era raro ver uma menina com coragem de pedir pra treinar. Hoje, temos turmas só de meninas, com presença constante e muita dedicação. Elas querem jogar, competir e aprender, e merecem esse espaço”, afirma o treinador.
O projeto, que antes atendia majoritariamente meninos, passou a estruturar turmas específicas para o futebol feminino. Com apoio de voluntários, equipamentos doados e parcerias com escolas da região, o Shalke 12 tem conseguido oferecer treinos semanais gratuitos para mais de 100 meninas de diversas categorias a partir de 7 anos. Farion destaca que o incentivo ao futebol feminino é uma questão de justiça e inclusão.
“O futebol sempre foi tratado como coisa de menino, mas isso está mudando, principalmente nas periferias. As meninas têm talento de sobra, só precisam de incentivo. Aqui, nós damos bola, uniforme, técnica e, acima de tudo, respeito”, diz.
Segundo ele, o projeto também trabalha aspectos como disciplina, autoestima e cooperação, pontos que vão além do esporte. Uma iniciativa de sucesso que só cresce a cada ano, colecionando diversos títulos, parcerias, e valorização da comunidade.

Foto: Arquivo Pessoal
A voz de uma atleta
Maria Eduarda, 20 anos, moradora do Gama, no Distrito Federal, encontrou no futebol mais do que um esporte: um caminho de autoestima, disciplina e sonhos. Beneficiada pelo projeto social Shalke 12, ela começou a jogar ainda criança, aos 10 anos, quando descobriu através de primos que existia uma escolinha gratuita aberta para meninas na região. Desde então, nunca mais largou a bola.
“Quando comecei, quase não tinha meninas jogando. Era tudo muito novo, mas eu amava futebol desde pequena. Tinha vergonha no início, jogava só entre meninos, quando tinha menina era uma ou duas, mas fui muito bem acolhida”, relata.
Como muitas meninas, ela já enfrentou preconceitos por estar em um espaço ainda marcado por estereótipos. “Já ouvi gente dizendo que mulher não sabe jogar, que é perda de tempo. No começo, essas coisas mexem com a gente, mas hoje eu não ligo. Uso isso como combustível pra seguir em frente”, afirma.
Para ela, o futebol vai além da bola e da competição, representa crescimento pessoal, disciplina e autoestima, um estilo de vida saudável.

Foto: Arquivo Pessoal
A visão institucional
Renezito Júnior, gerente do departamento de futebol feminino da Federação Cearense de Futebol, destaca a importância de iniciativas como o seu projeto Meninas de Iracema, criado em 2017, que percorre diversas cidades em busca de novos talentos. Ele enfatiza que as escolinhas de bairro desempenham um papel fundamental na formação das atletas, oferecendo não apenas desenvolvimento técnico, mas também socialização e cuidado com a saúde.
No entanto, Renezito alerta que ainda há desafios a serem superados. “Apesar dos avanços, o futebol feminino no Brasil ainda enfrenta limitações, principalmente nas categorias de base. Falta estrutura, calendário e apoio contínuo para que o crescimento seja realmente sustentável”, afirma.
Renezito explica que a Federação mantém parcerias com escolinhas e projetos sociais para mapear e incentivar novos talentos, especialmente em regiões mais vulneráveis. Para ele, o momento atual é de avanço real e sustentável para o futebol feminino, impulsionado por visibilidade, políticas públicas e mudança de mentalidade. “Ainda existe resistência, claro, principalmente em relação a estereótipos antigos. Mas cada vez mais vemos famílias, escolas e comunidades abraçando o futebol feminino. O desafio agora é garantir estrutura, continuidade e acesso”, diz.
Ele defende mais incentivo por parte do poder público, empresas e federações, que estimulem a participação das meninas desde cedo, especialmente nas periferias.

Foto: Arquivo Pessoal