Grupo cultural Azulim faz a diferença em Sobradinho II
Espaço oferece aulas gratuitas de dança, jiu-jitsu e capoeira
Postado em 09/07/2025
Espaços culturais são pontos de inclusão social e valorização da cultura; lugares que facilitam o acesso à arte, educação e lazer. Localizado na AR 9 de Sobradinho II, o espaço do Grupo Cultural Azulim conta com aulas de capoeira, dança terapêutica, jiu-jitsu, defesa pessoal para mulheres e oficinas — que variam de informática a aulas de cavaquinho.
Washington Luiz, conhecido como mestre Washington, é um dos membros fundadores do Grupo Cultural Azulim e professor de capoeira. Ele relata que o grupo surgiu nos anos 1990. Primeiramente, eram 21 jovens negros que se reuniam para ir a baladas e eventos, onde perfomavam breakdance.

Foi nessa época que Marco Antônio Velasco, filho da jornalista Valéria Velasco, foi brutalmente espancado até a morte. Após o caso, surgiu uma classificação de gangues atuantes e perigosas do DF.
“Por causa do nome ‘Azulim’, cadastraram a gente como gangue”, relata o professor. O título “Azulim” foi adotado pelo grupo após a comunidade apelidar os integrantes com o nome por conta da pele negra “azulada”. “Na época falaram que éramos a segunda gangue mais atuante e perigosa do DF. Nessa história toda, nós resolvemos dar a volta por cima. Nós nunca fomos uma gangue. Rotularam a gente assim porque sempre andávamos juntos, todos da pele negra.” Ele também revela que o grupo sofreu agressões de policiais durante as primeiras décadas — principalmente após o cadastro das gangues no DF.
A sede do grupo foi fundada em Sobradinho II, onde aulas de capoeira e breakdance são oferecidas gratuitamente para a comunidade. Com o passar do tempo, novas modalidades de dança e formas de resistência foram ofertadas pelo espaço, que cada vez mais foi ganhando reconhecimento pelo o que era de verdade.
Washington afirma ver diversas ações policiais na frente do espaço, onde jovens são constantemente abordados, muitas vezes sendo por conta da discriminação por parte dos agentes. “As vezes é aquela discriminação mais velada, sabe? A gente fica observando e, quando termina, conversamos com o jovem para saber se está tudo bem, explicar o que acabou de acontecer e fazer uma chamada para participar das aulas.”
“Até mesmo quem tiver problema de dependência química, a gente estende a mão, entendeu? A gente já cansou de pegar na mão de jovens e adultos aqui, colocar dentro do nosso próprio carro e levar para casa de recuperação”, Washington conta. A casa de reabilitação em questão é o Centro de Reintegração Mar Vermelho, braço do Grupo Cultural Azulim que visa tratar jovens dependentes químicos.
Ele também fala sobre jovens que sofriam de depressão, ansiedade e síndrome do pânico, que apresentaram melhora após frequentarem as aulas de dança. Além da melhora na saúde, o hip-hop e a capoeira permitiu a profissionalização dos alunos, os levando até premiações de nível internacional.
É com emoção que o professor relata sobre um reencontro com um ex-aluno de capoeira. O jovem era visto como problemático, dando trabalho nas aulas, na escola e em casa. Após muito esforço dos professores do grupo, o garoto cresceu, se tornou doutor. “Ele disse: ‘se não fosse os conselhos de vocês, eu não estaria aqui hoje”, relembra Washington.
Para o professor, o problema da cultura nas zonas periféricas do DF é a falta de oportunidades. Apesar de existirem muitas pessoas que trabalham com cultura, ainda é difícil ter verba para manter um espaço cultural funcionando — muitas vezes, os membros do local tendo que tirar dinheiro do próprio bolso para não fechar as portas.
Para ele, há pouco investimento do Governo para a cena cultural do DF, principalmente nas cidades periféricas. Ele afirma não saber o porquê, já que cidades como Sobradinho II têm grandes potências artísticas. “Se o governo investisse mesmo na cultura, teríamos muitos jovens precursores desenvolvendo projetos culturais por todo o Distrito Federal”, pontua.

Moacir César, diretor financeiro do Azulim, afirma que o projeto é constituído numa associação sociocultural que busca o resgate e a promoção dos jovens, contribuindo com o desenvolvimento social.
“O grupo Azulim está em várias localidades do Distrito Federal, e tentamos levar projetos para outros lugares fora daqui”, afirma Moacir. “E isso tudo sem ter uma ajuda do governo, sabe? Para começar, a gente não tem uma sede própria. Nós pagamos aluguel, que sai do nosso bolso ou conseguimos através de editais. Nós trabalhamos com captação de recursos. A gente escreve um projeto e manda para o FAC ou então para algum político que gostou do nosso trabalho e queira ajudar com uma emenda parlamentar”.
Segundo o diretor financeiro, o projeto tem parceria com o Conselho Tutelar e a administração regional, além de estar sempre em busca de novas parcerias que possam colaborar com o espaço.
Para Moacir, um dos principais desafios que o Azulim enfrenta, além da questão financeira, é fazer com que a comunidade entenda que o grupo é uma ONG que está de portas abertas para a população. Para conseguir com que mais pessoas frequentem o espaço, o grupo cria uma boa relação com a família dos participantes e realiza projetos dentro das escolas de Sobradinho e Sobradinho II.
“O plano para o futuro do espaço é que a gente possa ter a nossa sede própria, que possamos ter um fundo de reserva e que a gente possa trabalhar os nossos projetos”, afirma. “E que a gente consiga crescer não só aqui em Sobradinho, mas em outros locais também.”