Home care cresce no Brasil, mas enfrenta desafios
Home care avança com promessa de mais segurança e conforto, mas ainda carece de profissionais qualificados e infraestrutura
Postado em 28/05/2025
A humanização do atendimento, a redução de infecções hospitalares e a possibilidade de desospitalização precoce têm levado cada vez mais brasileiros a optarem pelo home care, serviço de saúde que já atende cerca de 292 mil pacientes no país, segundo o Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (NEAD), em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), no período de 2019-2020. Já em 2022 o número de pacientes aumentou cerca 18,49%, cerca de 346 mil pacientes.
Apesar dos benefícios, o modelo ainda enfrenta desafios, como a falta de profissionais qualificados e a infraestrutura inadequada de muitas residências, realidade que também se reflete em Brasília, onde a demanda por atendimento domiciliar cresce entre idosos e pacientes crônicos. Outro estudo, de acordo com o Censo da Atenção Domiciliar, realizado pelo NEAD em parceria com a Fipe, mostra que o número de estabelecimentos de atendimento domiciliar subiu de 676, em junho de 2018, para 830 em dezembro de 2019 — um crescimento de 22,8%. Em 2022, o total chegou a 1.167 empresas no país.
Além da ampliação da rede, a pandemia de COVID-19 impulsionou ainda mais a procura por home care: em 2020, a busca por assistência domiciliar aumentou 35%, segundo o setor. Esse crescimento reflete a busca por alternativas que ofereçam mais segurança e conforto aos pacientes, especialmente idosos e portadores de doenças crônicas, reduzindo a exposição aos riscos hospitalares e garantindo cuidados contínuos no ambiente familiar.
Realidade das cooperativas e cooperados
Diferente do ambiente hospitalar, onde os cuidados são concentrados em um único local e realizados por uma equipe que trabalha em turnos, no home care o atendimento é mais personalizado e contínuo, com visitas regulares ou até mesmo acompanhamento 24 horas em casos mais complexos. Com mais de sete anos de experiência em home care, a técnica de enfermagem Luziane Sousa compartilha sua experiência na área. “Já trabalhei em muitas casas, foram diversos pacientes. O home care é tanto para quem está no início de carreira quanto para quem está mais velho e busca um trabalho mais tranquilo, longe do caos da emergência de um hospital.” Porém, a profissional também aponta dificuldades financeiras enfrentadas nas cooperativas: “Às vezes, trabalhamos dois meses para receber o salário. Tivemos toda a luta para conseguirmos o piso salarial, mas parece que, às vezes, foi uma luta em vão. Muitas cooperativas não pagam o mínimo para nós, profissionais.”

As cooperativas enfrentam desafios financeiros significativos, em grande parte devido aos baixos repasses feitos por operadoras e planos de saúde privados. Muitas vezes, os valores pagos por procedimento ou por visita domiciliar não cobrem os custos operacionais envolvidos, como transporte, insumos médicos e remuneração adequada das equipes multidisciplinares. Esse desequilíbrio financeiro leva algumas cooperativas a operarem no limite, o que compromete a qualidade do serviço e a capacidade de investir em infraestrutura, treinamento e tecnologia.
Além da questão financeira, as cooperativas também enfrentam problemas como dificuldades na gestão operacional, incluindo a coordenação de equipes multidisciplinares, gerenciamento de escalas e controle de dados dos pacientes. A ausência de sistemas eficientes para lidar com essas demandas pode resultar em falhas na prestação dos serviços e insatisfação tanto dos profissionais quanto dos pacientes.
Ex-gestora da cooperativa Akila, Enidi Decastro, comenta: “Temos muitos pacientes para poucos profissionais, temos problemas com os planos de saúde para nos fazerem os repasses. Lidar com o financeiro e o treinamento de profissionais é cansativo. Saí de gestora para trabalhar como cooperada, para ter menos dor de cabeça. Hoje em dia, trabalho como técnica e cuidadora, e estou fazendo enfermagem para me profissionalizar ainda mais, pois vi de perto a falta de qualificação de algumas pessoas que eram contratadas pela cooperativa”. Enidi também traz uma visão positiva sobre o atendimento domiciliar: “Trabalhar nessa profissão me deixa realizada. Sentir que estou no dia a dia da vida dos meus pacientes, vendo as suas evoluções, é muito bonito. Cuido de uma paciente idosa, e ver que ela ainda consegue fazer poucas, mas grandes coisas para ela, me deixa feliz.”
Como os pacientes se sentem ao serem atendidos em casa
Com 47 anos, Eliane Ribeiro, paciente de home care há 13 anos, compartilha sua rotina de cuidados em casa. A residência da paciente não é totalmente adaptada, mas conta com um guincho (equipamento utilizado para levantar o paciente com mais facilidade, sem precisar de tanto esforço do profissional) e portas com acessibilidade para cadeirantes, o que ainda não é suficiente para tornar a rotina totalmente facilitada. “Tenho técnicas todos os dias, por 12 horas. Elas me ajudam muito. Não consigo fazer muita coisa, pois sou tetraplégica, mas só de conseguir ir de um lado para o outro aqui dentro de casa faz com que eu me sinta presente e ativa. Sou mãe e avó, preciso estar presente”, diz a paciente.
Segundo o estudo “Qualidade de vida de pacientes e familiares em cuidados domiciliares: estudo comparativo”, publicado em 2022 na Revista Brasileira de Enfermagem, pacientes relataram melhora na saúde física e no ambiente quando atendidos em casa. A técnica acrescenta: “Vejo melhora mais rápida e significativa quando são tratados em casa, no hospital qualquer um fica exposto a qualquer coisa. E aí onde vemos a importância do home care, às vezes trabalhamos com idosos, crianças ou pessoas que já estão muito debilitadas, não podemos nada passar”.
