Humanização pode afetar saúde física e mental dos pets

Pesquisa aponta que mais de 80% dos tutores consideram seus cães parte da família

Arthur Batista da Silva Isacksson

Postado em 18/06/2025

No Brasil, mais de 55 milhões de cães vivem como verdadeiros membros da família, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET). Com um setor que movimenta mais de R$ 60 bilhões por ano, a humanização dos pets cresce entre os tutores e levanta debates sobre os impactos no bem-estar dos animais e nas relações sociais. Pesquisas como o do Radar Pet apontam que mais de 80% dos tutores consideram seus cães parte da família, o que influencia desde a rotina da casa até viagens e cuidados especializados.

Consequências da humanização no comportamento dos pets

Nas clínicas veterinárias, esse fenômeno tem se tornado cada vez mais evidente. Segundo a veterinária Monique Rodrigues, muitos donos impõem aos animais hábitos e comportamentos típicos de humanos, o que afeta negativamente a saúde emocional dos pets. Isso costuma gerar alterações como ansiedade, insegurança e, em muitos casos, agressividade.

Outros comportamentos humanizados, como oferecer restos de comida inadequada ou usar roupas pesadas, também afetam a saúde. A alimentação errada pode causar obesidade e distúrbios digestivos, enquanto o uso excessivo de acessórios compromete a regulação térmica do corpo. Apesar das boas intenções, esse tipo de tratamento compromete o bem-estar dos animais. “Os animais precisam ser tratados como animais. Quando o colocamos no papel de humano, ele interpreta sinais de forma errada. Eles são especiais porque são diferentes de nós”, alerta.

Entre os erros mais comuns está a falta de limites, o excesso de mimos e os desejos pessoais a frente das necessidades do animal. Os pets precisam entender seu papel na casa. Sem isso, sentem-se inseguros e reagem de forma desequilibrada. Para uma vida saudável, o animal precisa de alimentação adequada, exercícios, ambiente limpo e estímulos naturais. “Carinho é importante, mas dentro dos limites da espécie. O excesso pode fazer mais mal do que bem”, conclui.

Veterinária Monique Rodrigues.
Foto: Arquivo Pessoal

Criação responsável

A adestradora Juliana Martins destaca que tratar pets como “pequenos humanos” é uma forma comum de demonstrar afeto, mas pode distorcer suas necessidades naturais. Cães, por exemplo, utilizam sinais olfativos e corporais para se comunicar, e produtos como perfumes ou alimentos condimentados interferem nesse processo, gerando estresse. Além disso, atribuir sentimentos humanos aos animais pode causar problemas como dependência excessiva, agressividade e dificuldade de socialização. Esses fatores somados contribuem para comportamentos como destruição de objetos, latidos em excesso e compulsões.

Para evitar esse tipo de desequilíbrio, é essencial entender as necessidades reais dos pets e ensinar limites dentro do ambiente familiar. Juliana explica maneiras de proporcionar uma criação saudável para os pets e os tutores: “Respeitar o espaço do cão e sua linguagem corporal, manter horários fixos para atividades diárias e diferenciar carinho humano da necessidade do animal. Também é preciso se atentar aos sinais de estresse, como destruição, vocalizações persistentes, agressividade, ansiedade ao ficar sozinho, hiperatividade ou isolamento, além de sintomas físicos como respiração ofegante, tremores e alterações no apetite”.

Adestradora Juliana Martins.
Foto: Arquivo Pessoal

A experiência de Débora Carine, dona de dois cães, ilustra bem esse dilema. Para ela, os cães são parte da família, o que influencia diretamente a rotina e os cuidados diários. Débora se preocupa com o bem-estar dos animais, desde a escolha da alimentação até os passeios, buscando garantir que se sintam seguros e felizes.

Por outro lado, ela percebe que o excesso de atenção pode gerar comportamentos indesejados. Os cães se tornam mais ansiosos quando ela se ausenta por longos períodos, evidenciando o vínculo intenso com a tutora. Para manter a harmonia, Débora adota regras claras, como não permitir que os cães subam nos móveis ou entrem em certos cômodos, mantendo a firmeza e consistência necessárias para evitar confusões.

Ela acredita que a humanização pode ter efeitos positivos, desde que feita com equilíbrio. “Eles são muito amados, mas têm limites. Às vezes, eu mesma tenho que me lembrar que são cachorros, e tratá-los como tal”, destaca.

Cães da Débora Carine, Apollo e Luke.
Foto: Arthur Isacksson