Jovens garotas tem buscado por mais espaço na política

Por meio de movimentos, cada vez mais meninas têm se empenhado em entrar para política e buscar a igualdade de direitos.

Maria Eduarda Freitas Rocha

Postado em 04/06/2025

A política e os processos eleitorais são fundamentais para a manutenção da democracia. E o que marca essa forma de governo é a diversidade e participação do povo, bem representados por aqueles que elegem. Por isso, a presença feminina nesses espaços é fundamental para que haja equidade de gênero e representatividade plena. Dados divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nas eleições de 2024, mostram que das 456.310 candidaturas registradas, apenas 155 mil eram de mulheres. Vendo que menos da metade são mulheres, a sociedade percebe a necessidade de mudanças para o alcance da igualdade.

É pensando nisso que surgem os grupos de jovens garotas que buscam entrar para a política. Um exemplo disso é o Girl Up, movimento internacional que, no Brasil, conta com 150 clubes e mais 1,5 mil líderes, tendo proposto mais de 50 projetos de lei. Essa participação de jovens meninas na política impulsiona o futuro em favor da equidade de gênero.

Congresso Nacional representa o equilíbrio dos poderes políticos. Foto: Maria Rocha

Girl Up Malala nasceu para impulsionar sonhos

Com mais de 500 seguidores no Instagram e mais de 300 membros no suporte, o Girl Up Malala promove workshops sobre carreira, eventos educacionais e competições que impulsionam a participação feminina e trazem ensinamentos únicos. Criado por Júlia Bulla, estudante do Rio Grande do Sul de 19 anos, conta hoje com uma equipe de jovens de vários lugares do Brasil, que ajudam a impulsionar esse sonho.

“O Girl Up mudou completamente a forma como eu enxergo política e liderança. Antes, eu via a política como algo distante, institucional e muitas vezes inacessível. Mas no Girl Up, entendi que política também é sobre representatividade, voz e ação, é sobre fazer pequenas mudanças todos os dias, dentro da minha comunidade, que geram impacto real”, afirma a jovem.

E, para ela, o futuro de seu clube será grande e promissor: “Quero impactar cada vez mais pessoas e transformar campanhas em movimentos de verdade, capazes de alcançar comunidades inteiras. Sonho alto: quero criar ações grandes, mobilizar jovens, e ajudar quem mais precisa com empatia, escuta e ação. Acredito no poder do coletivo, e com o Girl Up, quero deixar um legado de transformação e inspiração para todas as meninas que ainda virão.”

Girl Up Malala impulsiona jovens mulheres a ingressarem na política. Foto: Maria Rocha

Garotas que sonham com mudar o mundo

O sonho de adentrar a política tem crescido para muitas meninas. Mesmo não estando diretamente em um clube destinado a mulheres na política, Lara Bianchi, jovem de 17 anos de Belo Horizonte (MG), busca construir uma carreira com o intuito de gerar mudanças significativas no mundo por meio da democracia. Seu sonho, hoje, é estudar direito internacional para promover a equidade de gênero no meio político.

“O que me motivou a buscar entrar para a política foi, em grande parte, o senso de responsabilidade que fui desenvolvendo com o tempo. Sempre gostei de liderar, de pensar soluções coletivas e de ouvir diferentes perspectivas. Com o tempo, percebi que política não é só sobre cargos públicos, é sobre transformação social, sobre dar voz e vez a quem não tem. E eu queria fazer parte disso. Política é isso: transformação através do encontro entre pessoas e ideias”, relatou a jovem.

Para Lara, a maior dificuldade está em ser subestimada por seu gênero. “Por ser jovem, mulher e estar fora dos espaços tradicionais da política, muitas vezes meu trabalho não é levado a sério de imediato. Se não nos colocamos nesse espaço, ele vai continuar sendo dominado por uma minoria que não nos representa. O mundo precisa da nossa voz, da nossa escuta, da nossa forma única de liderar.”

Cientista político destaca a importância da juventude feminina na política

Para o futuro da democracia plena e participativa, jovens mulheres são indispensáveis no cenário. A cientista política Mayra Goulart, professora do Departamento de Ciência Política, do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta o porquê dessa necessidade: “A questão da idade e de gênero são clivagens importantes para entender o ponto de vista ideológico. Ter mais mulheres é aumentar a chance de maior representatividade de ideias progressistas tanto na esfera legislativa, como na executiva”.

Entretanto, para a efetividade disso, muitas barreiras necessitam ser quebradas, afinal o preconceito contra garotas nesse espaço se faz extremamente forte. “Os movimentos jovens estimulam uma representação progressista de mulheres para mulheres. O que atrasa isso, além do etarismo, é o machismo estrutural. A maioria dos partidos são chefiados por homens, o que atrapalha a inserção de mulheres”, afirma a especialista.