Reforço escolar é estratégia para evitar evasão de alunos
Altos índices de repetência e abandono estão relacionados a falhas no sistema educacional
Postado em 21/05/2025

FOTO: Daniel Lima
Com salas de aula cheias e estudantes em ritmos diferentes de aprendizado, o reforço escolar se torna uma estratégia cada vez mais necessária. Seja dentro ou fora da escola, o apoio individualizado pode evitar o abandono dos estudos. Não ter uma estrutura pensada para lidar com todas as adversidades dificultam o trabalho do professor e também a aprendizagem da criança.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta que a baixa qualidade do ensino básico brasileiro, refletida em altos índices de repetência e evasão escolar, está relacionada a falhas no sistema educacional.
O reforço escolar é qualquer momento dedicado para rever o que você aprendeu em sala de aula. Tanto faz que seja em casa, sozinho, com alguém orientando, alguém da família, ou que seja fora, com uma pessoa contratada para isso, um professor ou pessoa capacitada e que saiba lidar com o aprendizado.
Geralmente, esse estudo adicional tem um impacto positivo no desenvolvimento do aluno. Por ser um processo de aprendizagem mais individualizado de acordo com as dificuldades específicas do aluno, ele permite o foco em conteúdos essenciais, dando mais atenção aos pontos em que o aluno possui mais dificuldade.
É durante as aulas de reforço que o professor consegue identificar as dificuldades e encontrar maneiras de superá-las, de acordo com o que o estudante necessita. “O resultado é uma maior confiança por parte do estudante, seja na hora de fazer uma prova ou apresentar um trabalho”, explica Lisandra Rodrigues, professora de inglês no ensino médio da rede pública.
É possível identificar as necessidades de cada aluno por meio de observação contínua e do desempenho durante as atividades avaliativas ao longo das aulas. O reforço, geralmente, é indicado quando o aluno apresenta dificuldades persistentes como baixa compreensão dos conteúdos e muita dificuldade ao realizar as atividades de forma recorrente, mesmo com o auxílio do professor em sala.
O encaminhamento pode acontecer diretamente em diálogo com os estudantes, no ensino médio, por exemplo, e com a família quando são mais novos, sempre reforçando sua importância para a superação das dificuldades individuais dos estudantes.
Família como parte essencial no processo de aprendizado
A família, não só pode, mas ela tem o dever de apoiar a criança em todo caso e todo momento, independente de reforço ou não. Quando ela não sabe como oferecer apoio, existem vídeos e outras alternativas possíveis. “Vídeos que você coloca para a criança aprender uma sílaba ou uma palavra. Hoje existem vídeos de tudo”, explica Shirley Erosvolusia, pedagoga e educadora social.
O ambiente familiar é importante, há casos em que os estudantes não conseguem estudar em casa por problemas familiares, o que acaba refletindo negativamente nos processos de aprendizagem. “Além disso, hoje, pode-se observar um grande problema de atenção durante as aulas, muitos estudantes ficam dispersos facilmente”, comenta a professora de inglês.
Levando em consideração que existem famílias com algum tipo de barreira, sendo uma dificuldade financeira, educacional ou até mesmo de aprendizado, Shirley afirma que só o fato da família levar ao reforço, já é uma dedicação. “Algumas famílias tiram a criança do reforço por não se importarem, já que não se incomodam com as deficiências educacionais que seus filhos possuem”.
A dificuldade com o aprendizado ainda impulsiona a evasão escolar
No Manual do Sistema de Alerta Preventivo (SAP), o Ministério da Educação (MEC) destaca que a dificuldade de aprendizagem está associada ao risco de evasão escolar.
Ana Luísa, 24, atualmente desempregada, abandonou os estudos no segundo ano do ensino médio. O maior motivo de sua saída da escola foi o fato de não aprender as matérias, além de ter sido assaltada enquanto voltava para casa, o que a fez não se sentir segura em retornar às aulas. “Não foi uma decisão muito fácil”, afirma.
Lisandra Rodrigues pontua que vários fatores podem influenciar e levar um aluno a ter baixo rendimento, desde suas particularidades e dificuldades, até o seu próprio modo de aprender, que muitas das vezes, o professor não consegue suprir essas necessidades com a superlotação das salas de aula.

FOTO: Daniel Lima
Para Luísa, suas maiores dificuldades se concentravam nas matérias de exatas, onde seu irmão a ajudava. Chegou a fazer reforço por um tempo. “ Eu me sentiria mais motivada se os professores tivessem mais paciência para ensinar os alunos”.
A educadora social também orienta que um outro sinal que a criança precisa de reforço é quando a criança não gosta de estudar. “Se a criança aprende, ela gosta”, afirma.
Ana comenta que ainda quer terminar os estudos e fazer uma graduação. “Não desista, porque os estudos são importantes para tudo, por mais que seja difícil, é uma coisa importante”, completa.
Lisandra Rodrigues explica que, as principais dificuldades observadas por ela são a falta de concentração dos alunos, além da falta do hábito de estudar. “Isso faz com que se torne mais difícil para eles acompanhar as aulas. Muitos alunos têm dificuldade em interpretar textos. O que atrapalha em vários aspectos, como ler corretamente enunciados, instruções e outros”, afirma.
Outro ponto importante é a falta de autonomia. Com tanta informação rápida na internet, os estudantes se mostram cada vez menos capazes de pesquisar de forma crítica, filtrar informações, pesquisar fontes e desenvolver ideias mais concretas e próprias.
A escola deve ser um local de acolhimento, por isso, é necessário identificar as dificuldades e oferecer apoio pedagógico em conjunto com a coordenação, mesmo com as dificuldades de estrutura. Lisandra comenta que quando os professores percebem muitas faltas, por exemplo, a família é comunicada, a fim de entender o que está acontecendo e o que pode ser feito para evitar o distanciamento do aluno.
Existe um método específico?
Shirley comenta se descobre como lidar com os alunos observando as necessidades de cada um, de acordo com que se vai trabalhando com as crianças, as dificuldades vão aparecendo e isso não tem um método específico. O método mais eficaz para ela é uma aula agradável em que a criança tenha o prazer de aprender. “O segredo está aí, em atividades criativas e prazerosas onde o aluno se sinta bem e com vontade de aprender”, comenta a pedagoga.
A pedagoga compartilha que recebeu um aluno com necessidades educacionais especiais e dificuldade em aprender. Só com o tempo entendeu a melhor maneira de lidar com elas e a massinha foi um método usado com a criança. “Assim ele começou a ler, primeiro palavras de duas sílabas e agora palavras de três sílabas, assim ele vai aprendendo”, afirma.
Para as famílias que não podem arcar com os custos de profissionais, existem várias maneiras, alternativas encontradas em canais do YouTube ou até mesmo cursinhos gratuitos.
A internet permite o acesso ao mundo inteiro, sempre lembro os estudantes que ela é uma ótima ferramenta para quem quer aprender mais.
Para alunos de graduação, o trabalho da monitoria é principalmente orientar através da própria experiência do monitor com a disciplina. Seja em realizar atividades, sanar dúvidas quanto a realização de algumas tarefas e dependendo do caso, também avaliar.
Lisandra explica que com o Novo Ensino Médio existem as aulas chamadas de eletivas, que são mais diversificadas e permitem que o professor trabalhe de maneira mais livre, sendo assim, muitos professores utilizam esse espaço para ensinar com mais profundidade suas disciplinas, como uma espécie de aula de reforço. “Eu mesma já utilizei desse momento para aprofundar conteúdos que foram abordados superficialmente durante as aulas regulares”, complementa.
O processo de aprendizagem envolve vários fatores. O reforço escolar sozinho não é suficiente, assim como uma aula regular sozinha também não é suficiente. É preciso que as ações pedagógicas sejam integradas, como o uso de metodologias ativas, adaptação curricular quando necessário e incentivo à autonomia do aluno.
O estudante deve fazer sua parte criando hábitos de estudos e a escola oferecendo projetos que estendam a aprendizagem para fora da sala de aula, de forma interdisciplinar, além do apoio e incentivo da família, ambientes de aprendizagem favoráveis. Tudo isso influencia nos processos e nos resultados.
Akihito Sato, estudante de jornalismo e monitor da matéria de TV, afirma: “Acredito que a monitoria é uma complementação interessante para o aluno que sente dificuldades na realização das atividades”. Complementa afirmando que através do monitor, que muitas vezes são da mesma idade, podem trazer proximidade e chances maiores de sanarem dúvidas.
Sato também comenta que em muitos casos, por questão de agenda ou mesmo dinâmica em sala, as monitorias ajudam a resolver problemas que seriam complexos de lidarem sozinhos.