TikTok transforma o consumo de informações

Com conteúdo rápido e personalizado, plataforma chinesa toma espaço de veículos tradicionais e levanta debates sobre credibilidade e bolhas de informação

Júlia de Mesquita Ribeiro

Postado em 18/06/2025

Vídeos curtos, linguagem direta e um algoritmo afiado. Essas são algumas das características que explicam por que o TikTok vem se consolidando como uma das principais fontes de informação, especialmente da Geração Z. Se antes a busca por notícias passava pelos sites jornalísticos ou pela televisão, agora o conhecimento sobre política, saúde e atualidades pode surgir entre um vídeo de dança e outro.

Segundo o Digital News Report 2022, o consumo de notícias pelo TikTok cresceu cinco vezes entre pessoas de 18 a 24 anos, grupo em que as redes sociais já superaram os sites de notícias como principal fonte de informação. No Brasil, onde o aplicativo soma 82,2 milhões de usuários, mais de 40% pertencem à Geração Z, de acordo com a Cuponation.

Segundo o estudo “Infodemia e os impactos na vida digital” da Kaspersky, em parceria com a empresa de pesquisa Corpa, 71% dos internautas brasileiros, entre 20 e 65 anos de idade, recorreram a redes sociais para se informar. Foto: Júlia de Mesquita

A informação na palma da mão

Um estudo da Adobe, realizado em 2023, revelou que 64% dos nativos digitais já usaram o TikTok como ferramenta de busca. Para muitos, como a jovem usuária Ana Júlia Fragoso, isso se tornou parte da rotina. “O TikTok já faz parte do meu dia a dia, então já é automático me informar por lá”, conta. A facilidade do formato é, para ela, o maior atrativo. “Na minha opinião é atrativo porque não precisa ler ou fazer nenhum esforço para ter informações, acaba sendo muito mais fácil assim”.

Ana Júlia relata que o aplicativo não só diverte, mas também informa. “Eu uso o TikTok como uma distração, então normalmente vejo vídeo de comédias ou acompanho influenciadores que eu gosto”, explica. Mas também consome conteúdos mais sérios. “Por ser a plataforma que eu mais uso, eu vejo temas dos mais sérios aos mais descontraídos”. Em 2022, durante as eleições, ela recorreu à rede para entender melhor o cenário político. “Me ajudou a entender bastante”, declara.

Para Lucas Munford, diretor de marketing da Bayit Comunicação, essa mudança representa um novo paradigma na forma de se informar. “Vejo como um reflexo direto da mudança na forma como as pessoas, principalmente os mais jovens, consomem conteúdo. A plataforma conseguiu ocupar um espaço que antes era somente da Meta”, afirma. Ele observa que a lógica mudou: “Antes prezava-se pelo conteúdo ou por quem fazia, agora é mais pela velocidade”.

O apelo visual e o algoritmo são outros pontos centrais na experiência do usuário. “A principal vantagem é o formato: vídeos curtos, direto ao ponto, com linguagem visual forte. A personalização via algoritmo também ajuda, o conteúdo aparece moldado aos interesses de cada um”, completa Munford.

Criadores de conteúdo, responsabilidade e alcance

A difusão da informação via TikTok não depende mais apenas de grandes veículos. A plataforma possibilita que qualquer pessoa produza e viralize conteúdo, o que, para Munford, gera “uma sensação de proximidade que outras mídias não entregam” e promove “uma democratização aos produtores de conteúdo”.

É o que vive Fernanda Correa, criadora da “Curadoria da Fefis”, uma agenda cultural semanal que divulga eventos em Brasília. O projeto nasceu após uma viagem a São Paulo. “Resolvi fazer vídeos para o TikTok mostrando lugares em São Paulo. Vi que os vídeos deram certo, tiveram engajamento. E eu pensei: ‘Meu Deus, mas não moro em São Paulo, moro em Brasília’”, lembra. 

“Brasília tem, sim, muita coisa para fazer, só que as pessoas muitas vezes não ficam sabendo”, afirma Fernanda Correa, brasiliense de 24 anos que produz conteúdo informativo sobre a cidade. Foto: Arquivo pessoal

Ao perceber que conhecia bem a cidade e que havia demanda por esse tipo de informação, passou a compartilhar dicas e programações culturais. “Comecei com esse negócio de mostrar lugares em Brasília, os eventos que eu ia. Só que as pessoas começaram a perguntar porque eu postava os eventos depois que já tinham acontecido. Foi quando criei a Curadoria da Fefis”.

A curadoria é feita com checagem direta nas fontes. “Se é a R2 que está promovendo aquele evento, eu busco diretamente na página deles. Olho também muitas páginas de bilheteria de ingressos e procuro saber de onde vieram aquelas informações”, explica Fernanda. Ela utiliza Instagram, Google e plataformas como Sympla e Bilheteria Digital para garantir a veracidade das informações.

A proximidade com o público é sua principal métrica. “Sinto que não me guio tanto por números, mas sim pelo feedback dos meus seguidores. Quando encontro alguém na rua que me para dizendo que gosta muito do meu conteúdo, que é para continuar… Isso me incentiva demais”, conta. Essa interação, segundo ela, é parte fundamental do processo de criação.

A credibilidade, para Fernanda, é construída com transparência. “Raramente fecho publicidades com marcas ou coisas que eu não goste, que não façam sentido para mim. Acho que não é só sobre o dinheiro, é sobre o que eu estou influenciando as pessoas a consumirem”, afirma. Em um episódio recente, ela chegou a voltar atrás na indicação de um evento que considerou ruim: “Fui lá nos stories e falei: ‘Gente, não gostei, desculpa por ter indicado’”.

Os desafios da plataforma

Apesar do potencial de alcance e da popularização do conteúdo informativo, há riscos evidentes no uso do TikTok como principal fonte de informação. Para Munford, o maior deles é a falta de apuração. “Um vídeo pode viralizar por ser envolvente, mas isso não significa que é verdadeiro. Já vi diversos vídeos com milhões de visualizações, mas totalmente equivocados”, alerta.

O especialista também chama atenção para o efeito gerado pelo algoritmo, que reforça o que o usuário já consome, criando uma bolha. “Você só vê o que gosta ou concorda”.

Fernanda compartilha uma percepção semelhante. Para ela, a falta de filtros mais rigorosos da própria plataforma é um problema. “Acredito que o TikTok pode ser uma ferramenta de educação política e cívica, mas é uma realidade um pouco utópica. Falta uma verificação dos conteúdos, do quanto o que a pessoa está falando ali é verdade”, critica.

De acordo com dados do TikTok, jovens adultos, de 18 a 24 anos, compõem mais da metade dos criadores de conteúdo da plataforma. Foto: Júlia de Mesquita

Ainda assim, ela reconhece o potencial transformador da ferramenta. “A viralização de vídeos, essa forma mais rápida de espalhar conteúdos curtos, acaba tendo o poder de alcançar muitas pessoas e levar informações para um público muito amplo. E isso pode, sim, causar uma transformação”.

Munford compartilha da ideia de que o TikTok não pode ser o fim da linha informativa. “O formato curto exige síntese, o que pode ser excelente para despertar interesse e facilitar a memorização. Mas, se não houver aprofundamento em outros canais ou fontes, pode gerar uma percepção rasa”, conclui.

A mensagem final, tanto de quem consome quanto de quem cria, é clara: o TikTok pode ser sim uma porta de entrada para a informação, mas é preciso cautela para que ela não vire uma saída da verdade.