Tradição e emoção estão presentes em festas juninas
Por gerações, esses eventos unem brasileiros pela memória afetiva e comemoram as festividades tradicionais.
Postado em 25/06/2025
Ao longo de várias gerações de famílias brasileiras, uma tradição acompanha o mês de junho. As festas juninas carregam consigo diversos elementos de diferentes culturas. Com elementos portugueses, indígenas e africanos, tem forte origem no cristianismo, pela comemoração do dia de São João, celebrado em 24 de junho. Os principais elementos retratam aspectos culturais da região nordeste, desde a música até a estética do evento.
“As festas são um sincretismo religioso e cultural que foi disseminado em várias regiões do Brasil, e no Nordeste carrega mais elementos regionais. Elas celebram a mudança de ciclo, então é um sincretismo de diferentes crenças”, afirma a socióloga e pesquisadora indígena Silvia Muiramomi.

A origem da festividade
A cultura indigena é muito importante para o fortalecimento das festividades juninas. Silvia relata a origem desse momento: “Na primeira quinzena de junho, nasce uma nova constelação. E é nessa data que os povos indígenas comemoram o ciclo da fertilidade do milho e celebram os ciclos da terra”.
As tradições católicas foram sendo inseridas ao longo do processo de colonização. Foi nesse momento em que surgiram os tradicionais casamentos juninos. Silvia explica: “O casal e os compadres vão enfrentar os perigos da travessia da mata para chegar na vila, que é a vila do colonizador, onde o padre jesuíta realiza o casamento católico. Então, a expressão, a letra da quadrilha, mostra exatamente esta violência colonial.”
“Essa festa é uma construção coletiva e só acontece a partir da união de uma comunidade, seja ela uma comunidade católica, evangélica, seja de um bairro, uma família. É uma festividade que necessita da união da coletividade local. Então eu vejo como uma forma de resistência ética, étnica e de identidade cultural”, afirma a especialista.
Mantendo a festividade iniciada desde o início da sociedade brasileira, o Arraiá de Águas Claras leva a tradição a região administrativa desde 2018. Daniel Duarte, um dos organizadores do evento, afirma: “Recebemos um público bastante diverso, desde crianças até idosos. Famílias inteiras participam, grupos de jovens, casais, turmas de amigos. A tradição junina tem esse poder: une gerações por meio da música, das comidas e das memórias. As crianças se encantam com o lúdico, os adultos revivem suas raízes, e os idosos se sentem parte ativa da cultura que ajudaram a construir”.
Visando o conforto dos presentes, as festividades são muito bem preparadas. “O planejamento começa com bastante antecedência, geralmente de 3 a 6 meses antes do evento. A primeira etapa envolve fechar o local, montar uma equipe e alinhar orçamento, patrocínios e parcerias. Em seguida, fechamos as barracas típicas, estrutura, decoração e logística. Cada detalhe é pensado para garantir segurança, conforto e uma experiência autêntica para o público”, relata Daniel.
O amor pela tradição
Desde criança, a estudante de Medicina Veterinária, Luana Medeiros, frequenta festas juninas. Com família de origem nordestina, essa época do ano é regada pela animação e festejos tradicionais. Além de comemorar, sempre colabora na festividade de sua igreja, ajudando com serviço voluntário ao longo do evento anual.
“Por ser católica e fazer parte de uma pastoral, tento sempre ajudar nas festas juninas da paróquia, o que é bem cansativo, mas muito gratificante. E não só isso, acho que as quadrilhas têm muito desse clima também, já que é preciso de todo um grupo pra fazer acontecer. Acho muito bonito isso de todo mundo ajudar”, conta a jovem.
Luana ainda destaca como essa comemoração é uma beleza única dos brasileiros: “Acho tão chato quando as pessoas lá fora definem o Brasil apenas como o país do carnaval e do futebol, sendo que a festa junina é a prova que somos muito mais que isso. Vemos que até mesmo dentro do contexto da festa junina, em cada estado do país é de uma forma, sendo mais forte no nordeste claro. E eu acho isso lindo, demonstra muito bem a pluralidade do Brasil”.

Para Elisangela Uchôa, bancária e fisioterapeuta no Ceará, essa época leva a um momento divertido e que participa todo ano, desde seus 10 anos: a quadrilha. Das danças na escola, ela continuou em sua vida adulta, onde atualmente participa de maneira amadora. “O mês de junho no Nordeste é muito marcante. É inspirador porque é outra energia, o forró pé de serra, essa junção do triângulo da sanfona, da Zabumba, é muito bacana mesmo, é uma atmosfera que não dá para explicar, remete realmente à infância”, afirma.
“Dançar quadrilha é manter viva essa tradição, é trazer o pertencimento de ser nordestino, de trazer essa cultura milenar. Não deixar morrer algo que tem passado de geração em geração, algo que demonstra um esforço com uma relação com a agricultura, com os festejos das colheitas”, reforça Elisângela.