“Trend do Studio Ghibli” provoca debate sobre direito autoral e ascensão da Inteligência Artificial

Artistas se queixam do uso das suas obras sem crédito e remuneração

Luna Sardou Machado de Moura

Postado em 07/05/2025

Internauta recria imagem de Ayrton Senna na trend do Studio Ghibli

Com o surgimento e ascensão do ChatGPT e da inteligência artificial generativa, a partir de dados pré-existentes, é possível criar conteúdos “novos” e “originais” como textos, imagens, vídeos e músicas e transformar pessoas e paisagens em material digital. A chegada da “trend do Studio Ghibli” e o pronunciamento anterior do diretor Hayao Miyazaki condenando o uso da inteligência artificial em suas criações artísticas, provocou debates na internet. É correto fazer a apropriação estética sem dar os devidos créditos ou ter o consentimento do autor original? Como fica a questão dos direitos autorais e o que isso poderia significar para a indústria da arte futuramente?

Tendências como essa parecem inofensivas, tendo em vista a proposta simples de ver como seria sua aparência em um estilo de arte popular, como o do Studio Ghibli e o da Turma da Mônica, um pouco depois. No entanto, nos quesitos éticos e ambientais, o uso não-moderado da IA generativa é mais prejudicial do que aparenta ser.

Artistas, desenhistas e animadores acabam se tornando grandes vítimas disso por terem seu trabalho roubado pela ferramenta. Como se leva pouco tempo para gerar imagens e recursos, se torna fácil tirar vantagem desses “assistentes virtuais”. Ao mesmo tempo, inúmeras pessoas acabam perdendo seus empregos ao serem substituídas por máquinas, o medo mais constante para profissionais da arte com a ascensão da inteligência artificial.

Em 2023, vários escritores e artistas de Hollywood entraram em greve contra seus estúdios devido a futura possibilidade do uso da IA para produzir séries e filmes – evento conhecido como a Greve dos Roteiristas. Pouco tempo depois do sucesso da trend do Studio Ghibli, a MSP Estúdios (Maurício de Sousa Produções) anunciou que iria tomar medidas protetivas contra o uso de imagens da Turma da Mônica geradas por IA.

Para o professor de Cinema e de Animação do IESB, Márcio Moraes, a situação foi desagradável. “Miyazaki não gostaria de ter seu estilo tão vulgarizado, vamos dizer assim. Mas ele também nunca esteve tão popular. Gente que nunca viu os filmes estava fazendo figurinha; nem com o Oscar ele se tornou tão conhecido, então tem seu peso”.

Memes populares nas redes sociais também não estão de fora da trend.

Por mais que nem todos os casos estejam relacionados ou tenham sido causados diretamente pela inteligência artificial, a indústria de animação tem sofrido grandes baixas, como projetos sendo cancelados sem nem ter a chance de ver a luz do dia (a série da Tiana, cancelada pela Disney) ou entrando em hiato sem previsão de retorno.

É compreensível a relutância e falta de confiança que a IA pode trazer – visto que muitas vezes foi utilizada com más intenções. Todavia, é inevitável e praticamente impossível impedir o constante avanço da tecnologia, especialmente nos próximos anos. Em funções como a automação de tarefas repetitivas e que levariam um tempo maior para realizá-las, a inteligência artificial se mostra ser de grande ajuda.

A regulamentação e a legislação da IA é crucial para promover seu uso responsável e ético, especialmente para minimizar riscos cibernéticos como a violação de privacidade e proteger direitos autorais e de imagem. “Como toda tecnologia, a inteligência artificial tem seus benefícios e seus malefícios. Ela acelera muito o aprendizado, desde que as pessoas utilizem a inteligência artificial para aprender e não apenas para repetir o que está lá”, diz o professor de Ciência de Dados Sérgio Côrtes. “De uma forma geral, o que a gente precisa é aprender como lidar com essas novas tecnologias, preservar a questão legal e trazê-la como um benefício para diferentes áreas da ciência”.