Turismo preserva comunidades na Chapada dos Veadeiros

Gestores e comunidades locais apostam no ecoturismo como ferramenta de educação ambiental, sustentabilidade e valorização cultural

Carlos Vilaça

Postado em 03/06/2025

O fluxo de turistas nos principais destinos da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, cresce ano após ano, impulsionado pela busca por experiências em meio à natureza. Segundo dados da ABETA (Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura), o turismo de natureza pode gerar até R$ 7 em retorno econômico para a comunidade local a cada R$ 1 investido. Em Goiás, o setor registrou um crescimento de 6% nos últimos 12 meses.

Em grande maioria o valor revestido do ecoturismo gera ações de conservação do bioma, recuperação de áreas degradas e fortalecimento de comunidades locais. Foto: Carlos Vilaça

Mais do que movimentar a economia, o ecoturismo tem se consolidado como uma importante ferramenta de preservação ambiental, geração de renda e valorização das culturas tradicionais. Parte do dinheiro arrecadado com entradas em trilhas, hospedagens e passeios tem sido reinvestida em ações de conservação do bioma, recuperação de áreas degradadas e fortalecimento de comunidades locais.

Na linha de frente dessas iniciativas está Lauro Jurgeaitis, presidente da Associação Veadeiros e do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), além de gestor do Santuário Volta da Serra, em Alto Paraíso. Ele afirma que as ações desenvolvidas por meio das entidades têm como foco consolidar a Chapada como referência em turismo sustentável. “Trabalhamos para promover práticas que respeitem a biodiversidade e gerem benefícios econômicos e sociais para a comunidade local”, explica.

regiões como São João d’Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Colinas do Sul, Teresina de Goiás e Cavalcante, compõe o círculos de cidades que fortalecem o ecoturismo ambiental local. Foto: Carlos Vilaça

Jurgeaitis destaca que o território da Chapada é composto por cinco municípios, São João d’Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Colinas do Sul, Teresina de Goiás e Cavalcante, e que é essencial enxergar a região como um todo. Segundo ele, a associação atua com campanhas educativas, capacitação de guias e empresários, eventos culturais, além de parcerias com entidades como a Rede Contra Fogo e a Reciclealto. “Nosso foco é integrar turismo, cultura e meio ambiente, com projetos de infraestrutura que minimizem impactos ambientais”, afirma.

O gestor também aponta os desafios para manter o equilíbrio entre crescimento turístico e conservação. “O turismo de massa pode causar degradação, poluição e desgaste dos recursos naturais. Precisamos investir em estrutura adequada e em conscientização para garantir um futuro sustentável à região.”

Em Cavalcante, Flávio Lopes, de 73 anos, comanda a Fazenda e Pousada Veredas, que além de receber turistas, preserva uma extensa área de cerrado nativo. “Sempre reinvesti o que ganho no cuidado com a terra. Construí cercas vivas para conter erosão e contrato gente da região para manter tudo funcionando de forma equilibrada”, relata.

A Secretaria de Turismo de Goiás (Sectur) reforça que o turismo ecológico tem gerado impactos positivos na economia e na proteção da biodiversidade. “Estamos ampliando incentivos para projetos que conectam a atividade turística à preservação ambiental. A arrecadação retorna em forma de investimentos em infraestrutura verde, capacitação e parcerias com comunidades tradicionais”, informou a pasta, por nota.

Apesar dos avanços, especialistas e lideranças locais alertam para a necessidade de maior transparência na aplicação dos recursos públicos e de apoio técnico contínuo às iniciativas comunitárias. Foto: Carlos Vilaça

Um exemplo prático desse modelo sustentável é o trabalho de guias como Dionice Sousa, da Comunidade Quilombola Kalunga. Para ela, o turismo consciente vai além da contemplação da natureza. “A gente não mostra só a paisagem, mas a nossa história, nosso modo de viver. O que ganhamos ajuda a manter a comunidade, a preservar nossa cultura e a evitar que os jovens precisem sair para buscar renda em outros lugares.”

Apesar dos avanços, especialistas e lideranças locais alertam para a necessidade de maior transparência na aplicação dos recursos públicos e de apoio técnico contínuo às iniciativas comunitárias. O desafio, dizem, é garantir que o turismo continue sendo aliado da preservação, e não uma ameaça à biodiversidade da Chapada. “Se for feito com respeito, o turismo pode proteger nossa terra e garantir o sustento das próximas gerações”, conclui Dionice.

O desafio, dizem, é garantir que o turismo continue sendo aliado da preservação, e não uma ameaça à biodiversidade da Chapada dos Veadeiros, onde comunidades Kalungas e Quilombolas estão presentes há muitos anos nessas regiões. Foto: Carlos Vilaça