Professores enfrentam esgotamento mental pós-pandemia

Um terço dos professores do ensino básico no Distrito Federal manifesta sintomas de exaustão, aponta pesquisa do Sindicato dos Professores.

Luisa Guedes

Postado em 16/05/2025

Alerta de conteúdo: Este texto aborda temas sensíveis relacionados à saúde mental e suicídio. Caso você esteja enfrentando dificuldades, procure apoio profissional. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br.

A saúde mental dos professores do Distrito Federal vem sendo afetada por diversos fatores, entre eles estão a falta de políticas públicas de acolhimento e a sobrecarga de trabalho. De acordo com estudo realizado em 2023 pelo Sinpro-DF, 32,75% dos professores do ensino básico apresentaram sintomas da Síndrome de Burnout, causados principalmente por baixos salários, pressão e abuso psicológico, além da cobrança excessiva. Um fator que agravou fortemente a situação foi o pós-pandemia, sendo o maior impulsor na piora do esgotamento físico e emocional dos servidores.

Após retorno das aulas presenciais, professores relatam estar mentalmente exaustos – Foto: Freepik

Como relatado pela mestre em Saúde Pública pela Fiocruz e colaboradora no Ministério do Trabalho e Emprego, Luciane Kozicz Reis, doenças como depressão, Síndrome de Burnout, ansiedade e até transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) se tornaram comuns entre os professores, principalmente após o retorno abrupto das aulas presenciais pós-pandemia de Covid-19. Dados de pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), realizada em 2021, apontam que o medo do contágio, a pressão para recuperar os conteúdos atrasados, e a limitação diante das dificuldades emocionais dos alunos contribuíram diretamente para o agravamento desses quadros.

Para Luciane, o desgaste emocional no campo da educação não é uma questão isolada. “O professor é colocado como uma engrenagem da máquina. Espera-se que ele dê conta de tudo: de aprender sobre múltiplos transtornos, lidar com turmas superlotadas, manter a eficácia e evitar falhas. Isso gera um impacto emocional profundo e contínuo”, afirma. Desde 2019, a Clínica do Trabalho, que reúne diversos serviços e instituições voltados à saúde ocupacional, como os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) e clínicas de medicina do trabalho, tem atuado em escolas do Distrito Federal, com acolhimento de servidores. Em 2024, o programa atendeu 1.600 profissionais e esteve presente em 240 unidades escolares, em 33 regiões administrativas.

Impactos da negligência institucional

Thiago Almeida, professor da rede privada e mestrando em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB), é um dos diversos profissionais que enfrentaram o adoecimento mental durante e após a pandemia. Ele relata que, além da sobrecarga de trabalho, lidou com atrasos salariais, assédio institucional e ausência de suporte, o que o levou ao diagnóstico de Síndrome de Burnout. “Cheguei ao ponto de não conseguir mais cumprir tarefas básicas. Era como se eu estivesse vivendo no automático. Quando busquei ajuda médica, o sofrimento já estava crônico.” O abandono institucional fez com que, mesmo com laudo, ele fosse impedido de se afastar imediatamente, o que agravou seu estado emocional.

O retorno às aulas presenciais sem planejamento, juntamente com a falta de políticas de acolhimento, fez com que, mesmo doente, o professor continuasse invisível e desamparado. Ele ressalta que a atuação de gestores escolares ajudou a contribuir para o agravamento da situação. Em seu caso, o coordenador que o supervisionava também sofria de esgotamento mental e tirou a própria vida em 2022. O episódio reforçou ainda mais a urgência de medidas estruturais que garantam atendimento psicológico, condições dignas de trabalho e políticas eficazes de proteção à saúde mental dos profissionais da educação.

Em 2023, a Secretaria de Educação do Distrito Federal instituiu, por meio da Portaria nº 1.062/2023, o Programa de Saúde Mental no Trabalho (PROSM), com o objetivo de promover o bem-estar dos profissionais da rede pública por meio de ações preventivas e acolhimento psicológico. O programa oferece apoio psicológico e promove ações voltadas à saúde mental no ambiente de trabalho. Entre os projetos de destaque estão o “Escuta Sensível” e o “Expressões Criativas”, que oferecem espaços de escuta e expressão para os profissionais da educação. Além disso, em maio deste ano, o Projeto de Lei nº 2.587/2022, proposto pelo deputado Chico Vigilante (PT), foi aprovado pela Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa, propondo diretrizes para prevenir, diagnosticar e tratar a Síndrome de Burnout entre os servidores públicos do DF, através de campanhas educativas, capacitação profissional e produção de dados sobre os casos.