Mobilização denuncia ocupação e repressão marroquina contra o povo Saaraui
Organizações entregaram um documento ao Ministério das Relações Exteriores pedindo que o governo do presidente Lula reconheça oficialmente o Saara Ocidental como nação soberana
Postado em 25/06/2025
Manifestantes se reuniram na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no final do mês de maio, em apoio à causa do Saara Ocidental. Eles cobraram do governo brasileiro o reconhecimento da República Árabe Saaraui Democrática e denunciaram a ocupação e repressão marroquina na região, como parte de uma mobilização internacional por justiça e visibilidade ao povo saaraui.
O Saara Ocidental, localizado ao norte do continente africano, é uma das ocupações coloniais mais duradouras da atualidade. Desde a retirada da Espanha, em 1975, cerca de 70% do território está sob domínio militar do Marrocos, que impede o avanço da autodeterminação do povo saaraui — representado internacionalmente pela Frente Polisário e pela República Árabe Saaraui Democrática (RASD).
Líderes e militantes saarauis vivem sob vigilância, perseguição e muitos acabam presos sem julgamento justo. É o caso de Hassin Bujama Elmahjub Zawi Dit Zaoui, detido em 2010 e condenado a 25 anos de prisão. Mantido incomunicável em uma prisão marroquina, Zawi tornou-se símbolo da luta dos presos políticos saarauis, que sofrem com tortura, maus-tratos e a negação de direitos.

“Combatentes por democracia, direitos e liberdade foram condenados à prisão perpétua, submetidos à tortura, sem direito à assistência jurídica e sem previsão de julgamento”, denuncia Sayid Tenório, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal).
A ocupação também representa uma violenta usurpação econômica. Recursos naturais do território — como fosfato, pescado e energia solar — são explorados por empresas ligadas ao governo marroquino, com o apoio direto de potências como Israel e os Estados Unidos. “Estamos diante de um povo que vive uma guerra invisível, enquanto suas riquezas são usurpadas”, declara Pedro César Batista, do Comitê Antipedalista General Abreu Lima e da Secretaria Executiva da Internacional Antifascista Capítulo Brasil.
A comunidade internacional conta com mais de 80 países que já reconheceram oficialmente a RASD. O Brasil, porém, ainda não deu esse passo. Durante o governo de Michel Temer, a Frente Polisário recebeu status diplomático no País, mas o reconhecimento como Estado soberano nunca foi efetivado.
O Ministério das Relações Exteriores declara apoio aos esforços das Nações Unidas para alcançar uma solução política e mutuamente aceitável, de acordo com as disposições pertinentes das Nações Unidas.
Em busca de ampliar a visibilidade dessa luta, as organizações e movimentos presentes no ato entregaram um documento ao Ministério das Relações Exteriores, no Itamaraty, pedindo que o governo do presidente Lula reconheça oficialmente o Saara Ocidental como nação soberana. “O Marrocos é um reino que oprime, mata, tortura. Não queremos mais isso para nenhum povo”, afirmou Maria José, conhecida por Maninha, presidenta da Associação de Solidariedade à Luta do Povo Saaraui.
Ela destaca que o Brasil, como parte de uma mobilização internacional, “adotou” o prisioneiro Hassin Bujama Elmahjub Zawi, como forma de resistência simbólica. “Vamos escrever cartas, arrecadar recursos para ajudar sua família. Queremos que ele saiba que o mundo inteiro está se mobilizando para libertá-lo”, disse.
Saara Ocidental e Palestina

A comparação com a Palestina surge frequentemente entre os que se solidarizam com a causa. “A Palestina está sob ocupação colonial israelense há 77 anos. O Saara Ocidental, há 49 anos. O povo saaraui sofre assassinatos, roubo de terras, tortura, exatamente como ocorre na Palestina”, afirmou Sayid Tenório.Ele também destacou o vínculo direto entre os regimes opressores.“Israel fornece armas, apoio político, dinheiro e drones para que o reino do Marrocos assassine os verdadeiros donos da terra.”
Entre os participantes da mobilização estava também Antônio Carlos de Andrade, o Toninho do PSOL, que reforçou o compromisso do partido com a causa. “O PSOL apoia incondicionalmente a luta do povo saaraui por sua liberdade e independência. Estamos aqui para cobrar do governo brasileiro o reconhecimento oficial da República Saaraui e denunciar essa barbárie cometida pelo Marrocos, apoiado por Israel e Estados Unidos”, afirmou.