Capoterapia torna a vida da terceira idade mais ativa e alegre

Mestre capoeirista criador do método explica a importância da prática para a saúde física e mental

Luara F. Oliveira

Postado em 25/06/2025

A pessoa idosa enfrenta desafios em diversas áreas da vida seja pelo acesso limitado à saúde, seja pela violência doméstica, já que entre 2020 e 2023 foram registradas mais de 408 mil denúncias de violência contra idosos, de acordo com dados divulgados pela Agência Brasil. Além desses fatores, a falta de espaços de convivência e a ausência de iniciativas que promovam o envelhecimento ativo e digno tornam a vida 60+ mais difícil. 

A população idosa no Brasil aumenta a cada ano, atingindo o total de mais de 22 milhões de pessoas, um crescimento de 57,4% em 12 anos, de acordo com o Censo Demográfico de 2022. Apesar do crescimento expressivo, as políticas públicas não acompanham o ritmo da terceira idade brasileira e muitos idosos não possuem um espaço seguro e acolhedor para viver essa fase da vida. 

Para combater o descaso que é a falta de políticas públicas para os idosos e melhorar a qualidade de vida dessa população do DF, e até em âmbito nacional, o Instituto Brasileiro de Capoterapia (IBC) promove muito além de uma atividade física para a terceira idade, mas também um trabalho de valorização e saúde mental. 

Mestre Gilvan, criador do método capoterapia – Foto: Luara F. Oliveira

O projeto que deu origem à capoterapia se iniciou nos anos 90, quando Mestre Gilvan e outros mestres capoeiristas se reuniram para ensinar o esporte em escolas do DF. Anteriormente chamado Capoeira para Todos, ficou altamente popular na época, atraindo diversas pessoas para conhecer o esporte e a cultura. 

Mestre Gilvan, empenhado em tornar a prática realmente para todos, quis ir além das demonstrações e rodas que eram realizadas. Indo contra a opinião dos colegas profissionais, modificou alguns métodos do esporte e tornou-o muito mais acessível para pessoas idosas, chegando a implantar aulas em UBS’s da região do Distrito Federal.

Em 1997, o projeto Capoeira para Todos chegou ao fim, mas a aclamação do público, que chegou a fazer um abaixo assinado, fez Mestre Gilvan retornar com as aulas e agora com um novo nome: Capoterapia. “Voltei com outro nome por conta dos capoeiristas que recriminavam, dizendo que capoeira era capoeira e que não tinha que ser outra coisa. Como eu não fazia os golpes com os idosos, quis chamar de capoterapia, já que é isso, uma roda, com músicas e movimentos”, explica Mestre Gilvan.

De lá para cá, Gilvan Alves de Andrade patenteou o método criado, fundou o Instituto Brasileiro de Capoterapia e alcançou visibilidade nacional. Sônia de Andrade, esposa de Mestre Gilvan, co-fundadora e presidente do Instituto, conta que vê no projeto uma forma de fazer o seu papel social. “A capoterapia, por onde passou, transformou. Uma transformação alegre e de esperança” compartilha a presidente. 

“O que tem para o idoso? O idoso existe e não tem políticas públicas para ele”. Por essa afirmação, Mestre Gilvan explica suas motivações para levar a capoterapia para o maior número de pessoas 60+ que puder alcançar. A Capoterapia conta com um sistema de operação, 40 núcleos (lugares em que o método é ensinado) e diversos profissionais com a mesma missão: levar uma atividade para quem não é assistido por políticas públicas. No ano de 2024, foram realizadas 260 Vivências Capoterapias, um projeto que oferece aulas únicas realizadas em um núcleo. Somando todas as aulas, no total, foram atendidos 2.700 idosos.

As aulas de capoterapia são realizadas em diversas localidades do Distrito Federal em dias da semana variados. Na quarta-feira de manhã, Gilvan leva a alegria e vivacidade das aulas para a Apec – Associação de Apoio às Pessoas com Câncer – de Taguatinga, na parte da manhã. Para o administrador da unidade, Ricardo Campos, as aulas são uma fuga e uma ótima distração para os pacientes oncológicos. “Em casa, os pacientes mapeiam apenas coisas ruins, aqui com o Mestre Gilvan, que tem uma vibração enorme, eles saem bem”, compartilha Ricardo. 

Maria Clodoalda, participa das aulas de capoterapia há 2 anos e diz que foi muito bom para sua vida, já que é paciente oncológica. “Venho com muitas dores e as aulas, além de melhorarem isso, melhoram a minha autoestima e a mente”, conta a aluna. 

O projeto se mantém através de doações e com os convênios governamentais, porém mesmo com todo o reconhecimento que o projeto tem, Mestre Gilvan relata que faz mais de um ano que eles não têm um convênio com algum órgão, o que torna um pouco difícil a ampliação, mas nada que abale o capoeirista. “Se o governo não fizer, a gente faz para mostrar que é possível”.

Outros Projetos

O Instituto também promove outros eventos e projetos voltados para a terceira idade. Gilvan conta orgulhoso sobre o turismo social, viagens para diversos lugares do Brasil para os idosos, que são acompanhados por profissionais capacitados pelo Instituto. A Caminhada de Qualidade de Vida também é outro projeto realizado pelo IBC e o mestre capoeirista mostra a vontade de expandir para outras cidades do Brasil. “Imagina, uma caminhada de qualidade de vida em várias cidades pelo Brasil, o idoso acorda cedinho e sai de casa”, compartilha Gilvan.

Além desses projetos, o capoeirista conta animado sobre um novo projeto que o Instituto está planejando para lançar em setembro de 2025. “Queremos fazer um coral em movimento. Nossas aulas já são praticamente isso, ali eles cantam e movimentam o corpo. Então, queremos reunir 1000 vozes 60+, todas cantando e se movimentando”, conta o capoeirista 

Além das aulas de capoeira, existem outras duas ações: o Minha história, minha vida e cursos para capacitação de profissionais, já que o Instituto quer que até 2026, existam 100 núcleos de Capoterapia e para isso é necessário a ampliação dos profissionais. Para Mestre Gilvan, a ampliação da Capoterapia é benéfica para o próprio governo: “O resultado é extraordinário no âmbito da saúde. Se o idoso, por estar ativo e saudável, deixa de ir em uma consulta do SUS, já é uma economia enorme. O nosso trabalho desbloqueia o mental. Aqui as pessoas chegam depressivas e após alguns dias, eles estão bem mentalmente.” 

A ação Minha história, minha vida foca em contar a história de idosos. Atualmente, essas histórias são contadas através de lives no YouTube, onde família e amigos da pessoa homenageada participam e relatam quem é aquela pessoa para ele e as memórias que criaram juntos. 

O Instituto Brasileiro de Capoterapia também promove o projeto Reminiscência. A ação consiste em levar idosos até escolas do DF para que os alunos possam fazer perguntas e ouvir as histórias de pessoas que viveram tanto e tem muito para ensinar. O projeto representa o que Mestre Gilvan também prega: a valorização dos idosos por parte da própria população.

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