Estudantes brasileiros optam por cursar Medicina no exterior

No Brasil, em 2019, o nível de concorrência para Medicina no Exame Nacional do Ensino Médio chegou a cerca de 100 candidatos por vaga.

Vítor Bueno

Postado em 21/09/2021

Nas últimas décadas, o número de brasileiros que buscam formação acadêmica em Medicina nas universidades de países vizinhos vem aumentando. De acordo com dados publicados pelo Ministério de Relações Exteriores, 65 mil alunos brasileiros estão matriculados em instituições públicas e privadas em países da América do Sul, sendo o maior número encontrado nas faculdades da Argentina, Bolívia e Paraguai.  

A concorrência nos certames nacionais está entre os principais motivos que levam as pessoas a buscarem o diploma em outros países sul-americanos. Em 2019, o número de candidatos por vaga no Enem foi de 95,7, mais do que o dobro do segundo curso mais procurado, a psicologia (42 por vaga), segundo informações do Ministério da Educação (MEC).  

O curso mais concorrido no Exame Nacional do Ensino Médio é Medicina, com pouco mais de 95 candidatos por vaga – Foto: Unsplash

Por outro lado, o elevado investimento de capital necessário para cursar em universidades particulares é um dos empecilhos para realizar o sonho de se tornar médico.  “A faculdade de Medicina no Brasil é muito cara. No terceiro ano do ensino médio, eu parei e pensei: ‘se eu não passar em Medicina aqui no Brasil, eu vou tentar no exterior. Se caso não der certo, eu volto e faço Farmácia’”, diz José Henrique Kai, estudante do terceiro ano de medicina da Universidad Central Del Paraguay.

Apoio e acolhimento 

Para auxiliar os calouros brasileiros de medicina na nova jornada acadêmica, existem agências de consultorias especializadas no processo de documentação, transferência e acomodação no novo país, como a IngressAR Assessoria. “A nossa assessoria não é tão grande. Recebemos alunos para as cidades de Buenos Aires, Rosário, Mar Del Plata e para Córdova. Fechamos de 20 a 30 contratos por ano, mas depois da pandemia caiu bastante”, conta a funcionária da agência, Mishal Faisal, 21 anos, também estudante de medicina em Rosário, na Argentina. 

Mishal Faisal foi estudar Medicina em Rosário, na Argentina, em 2019 – Foto: Arquivo Pessoal

Além de todo o apoio na parte burocrática e de instalação feita pelas agências, Mishal destaca a importância do apoio familiar, levando em consideração a dificuldade do curso em si, a saudade de casa somada à adaptação em uma nova cultura, com aspectos linguísticos diferentes do habitual. “A gente passa por muita coisa, não conseguem ficar e não querem voltar para o Brasil para não decepcionar os pais”, lamenta Mishal.

A volta para o Brasil

No entanto, para voltar e exercer a profissão quando formado, é necessário realizar um exame para mostrar que os conhecimentos adquiridos estão alinhados aos transmitidos nas universidades brasileiras. Na prática, a prova com etapa teórica e prática aplicada desde 2011 é um sonho para os recém-formados no exterior.

André Henrique Soares, médico Clínico Geral, com formação na Bolívia, está lutando para conseguira aprovação no exame. Sem data certa para a aplicação, André esperou de 2017 até o final de 2020 para, enfim, conseguir a permissão para atuar no país. Aprovado na fase teórica, André apontou um mau preparo por parte dos organizadores e fiscais na hora da realização da segunda etapa. O problema afetou quase 2.400 profissionais. Hoje, segue aguardando o resultado do recurso pedido na época. 

O médico André Henrique Soares se formou na Bolívia, em 2019, pela Universidad Privada Abierta Latinoamericana (UPAL)

Por conta dessa dificuldade, José decidiu não finalizar o curso no exterior. “Eu não quero me formar no Paraguai porque tem o Revalida. Atualmente é uma prova que não foi feita para passar. Em setembro lançaram alguns editais para transferência externa para alunos que querem ir para o Brasil. Estou acompanhando alguns e meu plano é voltar para concluir a graduação no país”, comenta.