Invisível aos olhos: como um colar transforma vidas
No silêncio de um girassol, histórias ganham voz
Postado em 19/03/2025
Por trás de um simples cordão colorido com girassóis está uma poderosa ferramenta de inclusão social. Originado no Reino Unido em 2016 e tendo a implementação no Brasil em 2023, o cordão girassol vem ajudando pessoas como Italo Nava e Silva, de 38 anos, a navegar em um mundo em que nem sempre compreende suas particularidades.
“As pessoas passaram a me tratar melhor, me incluir nas conversas e me entender”, relata Italo, que teve o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda na infância. Ele descobriu o símbolo em 2024, na Comunhão Espírita de Brasília, onde trabalha como voluntário.

Ana Freitas, jornalista de 21 anos, buscou o cordão logo após de ser diagnosticada. “Achei muito importante, tanto para ter esse respaldo e apoio caso acontecesse algo, quanto como forma de irem aceitando”, explica. Contudo, ela ainda enfrenta desafios em espaços públicos. A jornalista disse ter sido hostilizada durante um evento cultural, recentemente, ao utilizar a fila preferencial. Pessoas insinuaram que ela estaria utilizando a sua condição para “furar fila”, mesmo com a presença visível do cordão.
Para ela, além do signo, outras estratégias são necessárias. “Eu sempre estou com minha carteirinha de cadastro de pessoa com deficiência, já que o colar é vendido sem fiscalização. Também sempre ando com abafadores de ruído e algum tipo de estímulo que possa me tranquilizar em caso de crise.”
Além do cordão
Procurado, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) afirma que desenvolve o programa “Novo Viver sem Limite”, ação com quatro eixos de atuação, 95 ações e R$ 6,5 bilhões de investimentos, que inclui o aprimoramento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), a expansão de acessibilidade em transportes e serviços públicos, e a capacitação de profissionais para atendimento adequado a pessoas com deficiências ocultas.
Contudo, em nível local, a realidade se mostra diferente. Em contato com as Secretarias dos Direitos Humanos do Distrito Federal e da Cidadania e Justiça do DF, pode se constatar que os próprios órgãos responsáveis por políticas inclusivas desconhecem a iniciativa. Após sucessivos redirecionamentos entre as secretarias, nenhum servidor disponível conseguiu fornecer informações básicas sobre o cordão girassol durante a apuração desta reportagem.

“É preciso divulgar o cordão de girassol”, enfatiza Ítalo, que relata: “Uma vez eu estava esperando minha mãe no dentista e tinha uma moça, a gente estava conversando. Ela viu o cordão e falou ‘vem cá, isso na verdade é novidade no Brasil, né?’ Nem ela estava sabendo disso, e ela trabalha num centro de acolhimento para pessoas especiais.”