Automedicação se torna comum no Brasil; conheça os perigos

Especialistas explicam que pode ocorrer envenenamento; Anvisa aponta que 18% das mortes por intoxicação são causadas pela automedicação

Vinicius Vicente

Postado em 21/04/2022

No Brasil, o uso inadequado de medicações é algo comum. Dados do Conselho Federal
de Medicina mostram que 77% dos brasileiros fazem o uso de medicação sem qualquer
orientação médica, um dado preocupante para as organizações de saúde. Médicos e
farmacêuticos devem ser habilitados para a orientação, mas nem sempre é o que
acontece.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta que 18% das mortes por
envenenamento no Brasil podem ser atribuídas à automedicação. Apesar de muitos
brasileiros não procurarem orientação antes do consumo, a Anvisa direciona: “Todas as
informações referentes a forma de uso, indicações, interações com outros
medicamentos e contra indicações estão previstas nas bulas que devem acompanhar
todos os medicamentos oferecidos no Brasil”.

Sede da Anvisa em Brasília | Imagem: Agência Brasil

Karine Canal, farmacêutica e pós-graduada em farmácia clínica e em estética, trabalhou
por quase dois anos na gerência geral de medicamentos da Anvisa e explica que na
bula há apenas os efeitos esperados, aqueles que em testes clínicos aconteceram em
uma pequena parcela dos voluntários. “Falta preparo prático por parte de farmacêuticos.
Apenas algumas farmácias possuem salas de atendimento em que há um farmacêutico
preparado para orientar os pacientes na compra do remédio”, aponta Karine.

O Conselho Federal de Farmácia presta cursos gratuitos de prescrição farmacêutica
para os mais de 220 mil farmacêuticos formados, com a intenção de, caso o paciente não seja atendido
por um médico, receber a orientação na farmácia.


O que dizem os médicos

Ian Torres, residente em cirurgia geral no Hospital Albert Einstein, explica que atende
um paciente, na maior parte idosos, a cada dois dias com úlcera estomacal causada
pelo uso indiscriminado de remédios. Ian diz que a limpeza só é feita em contexto de
urgência, casos com no máximo uma hora desde a ingestão dos medicamentos.

A úlcera estomacal é uma ferida causada pela falta de muco protetor no órgão, nesse caso, causada pelo uso indevido de medicamentos | Imagem: julientromeur

“Infelizmente o acesso é muito fácil às medicações, muitos estão na prateleira”, comenta
Ian. O médico residente explica que medicações simples como os antiinflamatórios são
usados indiscriminadamente para o relaxamento ou cura das dores. Ele explana: “O
acesso é fácil e a informação é incompleta na mídia, como é o caso daquela voz
acelerada que fala sobre as maiores contraindicações no final da propaganda do
medicamento, coisa que vira piada por muitos não prestarem atenção”.


O sofrimento pelo uso indiscriminado de medicação

Algumas vezes, o uso indiscriminado pode causar efeitos graves e indesejados, como
é o caso do motorista aposentado Sidnei Burmann, de 68 anos. Sidnei possui alguns
problemas de saúde e por isso deve se consultar com médicos de especialidades
diferentes. O motorista chegou a tomar 16 remédios diferentes, sendo cada um com
uma propriedade e com restrições de uso e ingestão combinada.

“Por conta do uso combinado de remédios ele (Sidnei) não dormia, não conseguia fazer
as necessidades fisiológicas e teve sua sanidade afetada gravemente. Só depois de
uma consulta com um especialista que ele teve os remédios cortados e dois dias após
isso, ele voltou aos poucos ao normal. Hoje ele toma apenas quatro remédios”, conta a
esposa de Sidnei, Nádia Weberling.