Pessoas superam a Covid, mas ainda enfrentam batalha contra sequelas

A infecção pelo coronavírus pode fazer o paciente ter danos em diversos sistemas do corpo; o que era para ser passageiro acaba virando algo permanente

Yasmim Valois

Postado em 12/04/2022

Após a infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2 diversas pessoas passaram a ter que lidar com complicações, como problemas cardiovasculares, neurológicos, condições de pele, problemas digestivos, desenvolvimento de doenças autoimunes, etc. E, assim, o que era para ser provisório acaba virando algo permanente. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, desenvolveram uma pesquisa que apontou sequelas neurológicas como problemas de memória. Os dados apontaram que 78% das pessoas que foram consultadas registraram problemas na concentração, 69% tiveram confusão mental, 68% problemas de memória e 60% encontraram dificuldades em achar palavras para se expressarem.

 A questão das sequelas ainda é foco de muito estudo e essas lesões podem ocorrer em decorrência do próprio vírus ou por reações imunológicas, segundo o intensivista do Hospital de Brasília, Rodrigo Biondi. “Quando as lesões ocorrem devido às reações imunológicas é porque as nossas células de defesa estão tentando matar o vírus invasor. Mas ao invés de matá-lo elas acabam agredindo o próprio organismo. Esse tipo de reação imunológica não é exclusivo da Covid e acontece com dezenas de outras infecções”, explica. 

Diversos tipos de sequelas já foram registradas em pacientes e as mais comuns são as pulmonares, de acordo com o especialista. “As mais comuns na prática clínica são as relacionadas ao sistema respiratório. Só dentro do pulmão existem várias implicações que podem resultar em desde uma fadiga, falta de ar até sequelas na estrutura pulmonar, como o desenvolvimento de fibrose pulmonar ou relacionadas ao desenvolvimento de crises asmáticas”, esclarece o especialista. 

O intensivista ainda acrescenta sobre danos neurológicos graves que a infecção pode causar e além disso diz que já lidou com pacientes que passaram por isso. “Os prejuízos que podem passar a existir quando o sistema nervoso central é atingido são de vários tipos, como redução da memória, ansiedade, alteração do sono. A memória é algo de extrema importância, existem pessoas que ficam com dificuldade no raciocínio e passam a ter dificuldade até de concluí-lo, de fazer contas. Já lidei com pacientes que simplesmente não conseguiam mais trabalhar, justamente porque não conseguiam realizar um simples raciocínio da sua área de trabalho”, acrescenta Rodrigo. 

Felipe Ferreira, recuperado e de volta à ativa no vôlei/Crédito: Marcelo Carvalho

Superação

O jovem Felipe Ferreira, com apenas 17 anos, teve sequelas após a infecção do vírus causador da Covid-19. O amante dos esportes teve danos neuropáticos por conta das alterações imunológicas e acabou desenvolvendo a Síndrome de Guillain Barré, doença autoimune que causa paralisia devido a inflamação dos nervos. 

 O atleta de vôlei afirma que quando contraiu o vírus não teve sintomas fortes e que o problema, realmente, foi após a infecção. “Quando eu peguei Covid eu tive sintomas leves, o problema foi o pós. Minha imunidade estava muito baixa e eu não estava conseguindo comer nada e quando eu menos esperava comecei a perder os movimentos do corpo e perder a força que tinha. Eu e minha mãe começamos a achar estranho, porque a princípio achávamos que eu estava sem força, porque não estava me alimentando direito”, conta. 

Felipe conta que tudo aconteceu muito rápido e que não tinha noção da gravidade que ia atingir. O jovem passou 36 dias na UTI e 40 na enfermaria, além de passar um período em coma. “Eu dormi em um dia e no outro já acordei sem conseguir me mover, eu não conseguia nem piscar os olhos sozinho, minha mãe tinha que fechar meus olhos com esparadrapo. Foi tudo muito grave e intenso, absolutamente tudo, sem exceção, o início, o meio e fim”, relata o jovem. “Às vezes eu acordava até primeiro que a minha mãe e era até engraçado. Imagina você acordar e não conseguir abrir o olho?”, conta de forma descontraída. 

Apesar da gravidade do caso, o jogador sempre manteve a esperança e a positividade durante essa jornada. Felizmente, não teve sequelas da síndrome e não precisou fazer nenhuma cirurgia. Seu tratamento foi feito por meio de muitas sessões de fisioterapia. “Graças a Deus não tive sequelas. A mensagem que quero passar para os outros é a de esperança, de que é possível, sim, superar tudo isso”, afirma orgulhoso. 

A paixão pelo vôlei foi uma grande aliada para Felipe durante a recuperação. Quando o jovem recuperou os movimentos, a primeira coisa que ele fez foi ir para as quadras, mesmo com todas as controvérsias sobre seu caso. Essa batalha não foi fácil, mas o jogador de vôlei conseguiu superá-la com a ajuda de sua mãe, que esteve presente em todos os momentos com ele. Hoje, o amante dos esportes está com 19 anos e completamente bem. O único tratamento que faz é musculação para o fortalecimento. O atleta segue participando de campeonatos de vôlei, seguindo seu amor pelo esporte. 

Apesar da gravidade do caso,Felipe Ferreira sempre manteve a esperança e a positividade/Crédito: Sebastian Silva

Assistência

A Secretaria de Saúde (SES-DF) conta, atualmente, com quatro ambulatórios destinados a pacientes egressos da Covid-19 que desenvolveram alguma sequela ou complicação. Os locais fornecem serviços de fisioterapia pulmonar.

Os ambulatórios estão localizados no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), de Ceilândia (HRC), de Taguatinga (HRT) e no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Além dessas estruturas, a SES/DF também conta com o Centro Especializado em Reabilitação (CER), em Taguatinga, destinado a pacientes com perda funcional.

Quanto ao número de atendimentos, a Secretaria de Saúde passou a regular este serviço no início deste ano, portanto, os dados oficiais ainda não foram divulgados.