Não deixe o samba do Setor Comercial Sul morrer

Toda quinta-feira, depois do trabalho, os brasilienses têm um encontro marcado com a cultura: uma roda de samba gratuita, acessível e divertida no centro de Brasília

Debora Mesquita

Postado em 25/05/2022

Conhecido como “Samba do Trabalhador” ou “Do Trabalho Para o Samba”, o evento que acontecia todas as sextas agora será às quintas-feiras, na Praça dos Artistas, que fica na quadra 05, do Setor Comercial Sul (SCS). Marcado para às 18h – horário em que a maior parte das pessoas saem do trabalho – o samba começa efetivamente depois das 19h, quando os instrumentos e músicos estão afinados para o show. Com mochilas e crachás, aos poucos os frequentadores se juntam aos sambistas e ambulantes para a festa começar.

Mas o projeto, financiado pelos ambulantes e pelo público, que ajuda com um valor simbólico para o “couvert” artístico, está correndo o risco de acabar. O número de frequentadores diminuiu consideravelmente, fazendo com que os ambulantes vendam menos e haja menos contribuição do público. Por isso, o samba será, a partir desta semana, às quintas-feiras. “A gente vai mudar para quinta-feira para ver se consegue um público que está ali porque gosta de estar, porque não quer deixar aquele espaço morrer, eu sou uma dessas pessoas também”, afirma Rodrigo Melonio, atualmente envolvido na produção do evento.

A  volta do samba do Setor Comercial Sul depois de 2 anos não foi como o esperado. Isso porque hoje existe um outro samba de rua, na Galeria dos Estados, bem próximo ao SCS. “Do público que frequentava o Setor Comercial Sul, 80% das pessoas foram para o Samba da Galeria, e 20% das pessoas que não queriam que o samba do SCS morresse continuam ali”, afirma Rodrigo. A ambulante Fabiana de Lima reclama do número de frequentadores que está menor que antes da pandemia:  “O movimento está bem diferente, a primeira sexta-feira deu muita gente, mas agora está bem fraco”.

Criado em 2016, o principal objetivo do projeto, além de divertir as pessoas que trabalham na região, era combater a violência e o abandono noturno do local. O evento que reunia em média 500 pessoas por semana, ficou quase 2 anos sem ser realizado por causa da pandemia. 

Rodrigo conta que começou a frequentar o samba em 2017 como cliente assíduo, indo em quase todas as edições. Em abril de 2022 ele assumiu a produção do evento. “Não há nenhuma ajuda financeira a não ser dos próprios ambulantes, cada um dá R$100, aí a gente consegue pagar os músicos, os banheiros e os seguranças”, afirma.

Além de divertido, o Samba do Setor Comercial Sul é acessível e democrático. / Foto: Débora Mesquita

Fabiana conta que trabalha vendendo bebidas no Samba desde o início e que está lá em todas as edições com sua mãe, das 19h até 1h da manhã, que é quando o samba termina. “Com a pandemia fiquei 2 anos parada vivendo com o Auxílio Emergencial, e agora graças a Deus o Samba voltou”, comemora.

O público diz que sentiu falta nesse período em que o samba não pôde acontecer. “Frequento desde o início, é muito bom sair do trabalho, depois de uma semana exaustiva e me divertir um pouco aqui. Estava com saudade desse samba, mas acho que esse foi o momento certo de voltar. Não valia a pena arriscar no meio da pandemia, agora que estamos vacinados estou mais tranquilo”, conta Tiago Gomes, que trabalha como auxiliar administrativo no Setor Comercial Sul.

“Essa é a primeira vez que venho aqui e já gostei muito! Quero voltar outras vezes, com certeza”, afirma Talita Almeida, moradora da Ceilândia. “Achava que aqui era um lugar perigoso, mas é bem claro, seguro e movimentado. O metrô também é perto daqui, achei fácil de chegar.” 

Os ambulantes são os financiadores do projeto do Samba do SCS. / Foto: Débora Mesquita