Arte ganha cada vez mais espaço no cuidado com a saúde mental
Arte se torna forma de tratamento para transtornos psicológicos e melhora a saúde mental.
Postado em 24/03/2025
No Brasil, há vários indícios da utilização da arteterapia como forma de tratamento em pacientes com transtornos psicológicos e para o bem-estar. Ela tem ganhado cada vez mais espaço no cuidado com a saúde mental. De acordo com um estudo realizado na Suíça, médicos estão “receitando” visitas a jardins e museus como forma de cura.
Utilizando diferentes formas de expressão artística, como: pintura, esculturas, desenho, dança, música e literatura, essa abordagem permite que indivíduos expressem emoções e sentimentos de forma não-verbal, proporcionando alívio psicológico e autoconhecimento. O crescimento do interesse por essa prática se deve, em parte, ao reconhecimento de que a arte tem um impacto profundo na saúde emocional e cognitiva, auxiliando tanto na prevenção, quanto no tratamento de distúrbios psicológicos.
De acordo com a psicóloga Júlia Paz, da clínica Lavorato Saúde Integrada, a arte sempre existiu, desde Carl Jung até as pinturas rupestres nos campos arqueológicos, mas ela foi evoluindo e mudando com o passar dos anos. Ela vai muito além da criação artística; é um processo de autodescoberta e cura emocional. Seja na vida real ou na ficção, a arte se mostra como um caminho para a transformação pessoal, ajudando indivíduos a lidarem com suas emoções e para ressignificarem suas vivências.
A visão terapêutica da arteterapia
Há diversos recursos para trabalhar as emoções e sentimentos através dos meios artísticos. A psicóloga Júlia Paz afirma que a escolha dos materiais e do que será criado na sessão é de extrema importância. “Para trabalhar a frustração, normalmente utilizamos a aquarela, que é uma tinta mais fluida que não sairá conforme o esperado, causando esse sentimento de angústia e de falta de controle, algo muito comum”, afirma.
Para ela, essa prática concretiza “movimentos” do nosso inconsciente: a utilização de cores mais quentes evocando a raiva, a força utilizada no processo criativo, o que a obra representa para o paciente. A médica afirma que a arteterapia, por vir de uma área de terapia humanista, como a psicanálise, essa técnica acaba trazendo muito do inconsciente dos pacientes, tentando fazer com que eles expressem tudo aquilo que com palavras não será o suficiente. “Para a psicanálise, nós vamos trabalhar o inconsciente, o que está dentro do psiquismo da pessoa. Quais são as questões que trazem um sofrimento psíquico para essa pessoa, e que através da arte elas vão se revelar e, consequentemente, quando a gente revê, quando nós trazemos à tona, conseguimos encontrar meios criativos para resolver a questão”, afirma Júlia Paz.
Por ser considerada uma técnica “moderna” muitas vezes é considerada como um curso de arte, mas a psicóloga afirma que o intuito da arteterapia não é ensinar os pacientes a desenvolverem um novo hobby, mas acalmar a mente, “vivendo do agora”, e para expressar os sentimentos.

Benefícios para a saúde mental
A arteterapia apresenta diversos benefícios, sendo especialmente eficaz para pessoas que enfrentam transtornos psicológicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) essa técnica possui diversos benefícios e promove qualidade de vida. São eles:
- Autoconhecimento e reflexão de si mesmo;
- Ajuda na expressão e comunicação de sentimentos;
- Explora a imaginação e criatividade;
- Diminui o estresse e a ansiedade;
- Contribui para a atenção, concentração e memorização;
Quando trabalhava no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), a terapeuta afirmou que por ter muitos frequentadores, era muito difícil fazer uma sessão individual, por isso era utilizada a terapia em grupo, e dentro desses aspectos, esse tipo de terapia ajuda nas habilidades de socialização, fazendo os pacientes se sentirem pertencentes em algum lugar.
A psicóloga afirma que a arteterapia ajuda pessoas a se comunicarem de forma mais eficiente, pois é possível elaborar o que está sentindo e se expressar de uma maneira mais clara e objetiva. Além de fazer com que as pessoas se sintam “ouvidas”, fazendo com que a arte trouxesse esse holofote para os pacientes.
Arte como válvula de escape
Ao ser questionado se a arte pode ser considerada como uma fuga da realidade, Theo Silveira, estudante de Jornalismo na UDF e utilizador de meios artísticos para o bem-estar, afirma que ela é uma maneira de refletir e reposicionar tudo o que se sente e pensa em um quadro, folha de papel ou cifra. “A gente não precisa necessariamente abordar e tentar falar dos nossos problemas exclusivamente nessas coisas, nós reagimos do nosso jeito. Independente da forma que manifestamos, os nossos sentimentos estão ali presentes na força da pincelada, no poder do powechord (acorde musical). Essas coisas vão além do que a gente precisa necessariamente mostrar”.
“O escapismo através dos meios artísticos é o mais próximo que alguém pode chegar de seu próprio paraíso, com seus traços, suas regras, sua melodia: você é quem manda e isso é maravilhoso”
Theo Silveira

Para Marcos Dias, bailarino e estudante de dança, sua descoberta de relaxamento através da arte aconteceu quando ele percebeu que conseguia transmitir seus sentimentos e se sentir “liberto das amarras” enquanto dançava. “Descobri que dançar era o que eu mais gostava de fazer, pois pude começar a me expressar sem que precisasse falar, fazendo o meu corpo e minha alma conversarem por si só”, afirmou.
Ao ser perguntado de que forma a arte ajuda a relaxar e aliviar o estresse do dia a dia, o bailarino afirma que consegue fugir da realidade cansativa que leva por meio dela: “Quando danço, alivio o meu estresse; quando canto, me sinto mais relaxado, e por aí vai”.
Sou tudo o que sou hoje por conta do que desenvolvi nas artes que existem na vida. Sem arte, minha vida não teria um percurso traçado, não haveria beleza e não haveria cor”.
Marcos Dias