Cerca de 72,6% de mulheres trans usam hormônios sem acompanhamento médico
Um dado do instituto IPEDF revela que 73% das pessoas trans do DF fizeram uso de hormônios.
Postado em 20/03/2025
Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) aponta que 72,6% de mulheres trans e travestis fazem o uso de hormônios sem prescrição médica, um dado preocupante que leva em conta cinco capitais brasileiras. Entre os motivos dessa porcentagem tão alta está o medo de sofrer discriminação por ser mulher trans ou travesti.
Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF) aponta que 73% de pessoas trans que residem no Distrito Federal fizeram uso de hormônios. Dessa porcentagem, 22% relataram o uso sem acompanhamento médico. Muitas pessoas trans recorrem ao uso de hormônios para se reafirmar no gênero com o qual se identificam. A falta de acesso a serviços de saúde e informações sobre terapia hormonal adoece e exclui um grupo específico da sociedade que já é visto com maus olhos por muitos.

Isabela Marreiros relata fazer o uso de hormônios sem acompanhamento médico, mas está na lista de espera do Ambulatório Trans: “a gente tem o Ambulatório Trans na Asa Sul, que é muito bom. É muito concorrido, mas só tem ele ali, de certa forma, que faz um bom acompanhamento médico, mas é uma longa lista de espera. Então dificulta muito que as meninas mantenham ali a constância de querer acompanhar, fazendo com que muitas acabem sendo a endócrina uma da outra pela falta de acesso”.
Ela também relata a falta de acesso à informação por meio de serviços de saúde e a ajuda das próprias mulheres trans e travestis pela busca de informação: “Porque desde o início sempre foram as próprias meninas que se ajudaram e foram as suas próprias endócrinas, nutricionistas, psicólogas, as meninas que se ajudaram porque não tinham apoio nenhum da sociedade, até mesmo do SUS. Atualmente, ainda tem coisas que não ajudam a gente ter esse acesso mais fácil”, comenta.

O médico endocrinologista Wandyk Alisson fala sobre a importância do acompanhamento médico para a terapia hormonal para mulheres trans: “É fundamental para garantir a segurança e eficácia do tratamento. Profissionais de saúde especializados podem monitorar os efeitos desejados e indesejados dos hormônios, ajustando dosagens conforme necessário e realizando exames periódicos para avaliar a saúde geral da paciente. Além disso, o suporte psicológico é essencial para lidar com questões relacionadas à disforia de gênero e ao processo de transição”.
Ele também relata sobre os possíveis riscos à saúde, do uso de hormônios sem acompanhamento adequado, que pode acarretar problemas cardiovasculares, tromboembolismo, entre outros, além de desenvolvimentos indesejados nas características sexuais secundárias, características essas que se desenvolvem na puberdade e que se diferenciam de forma física entre homens e mulheres.
Ambulatório Trans
O Núcleo Ambulatorial de Diversidade de Gênero (NAMBI), conhecido popularmente como Ambulatório Trans, foi criado em 2017 e é especializado em receber pessoas trans e travestis. O ambulatório conta com uma equipe composta por endocrinologistas, ginecologistas, psicólogos, psiquiatras, urologistas, assistentes sociais, entre outros.
O médico endocrinologista Márcio Garrison Dytz, fala sobre a importância do ambulatório para pessoas trans e travestis: “a população trans que frequentemente está marginalizada no contexto social, para conseguir empregos e para se transitar na cidade. É importante elas terem um espaço destinado para a promoção de saúde. Essa é a ideia do ambulatório trans.”
Dytz também fala sobre a fila de espera do ambulatório. De acordo com o endocrinologista, até o ano passado havia uma fila de mais de 500 pacientes com tempo de espera de aproximadamente 2 anos. Ele relata que houve um mutirão que fez com que a fila ficasse quase zerada, fazendo com que o tempo de espera atualmente seja bem menor. Ele também comenta sobre a necessidade de um médico endocrinologista com carga “full-time”.
“É muito importante a chegada de um endócrino com carga full-time. Previamente, a gente tinha 10 horas de endocrinologia. Hoje a gente tem 30 horas por semana de endócrino.”
Ele ainda relata que existe muita demanda e necessidade de aumento da equipe. O médico ainda fala da falta de profissionais na área cirúrgica, como ginecologistas e urologistas, para realização de cirurgias e as dificuldades financeiras enfrentadas pela população trans que dificultam o acesso na busca de hormônios.
“A dificuldade financeira desse nicho populacional, muitas vezes, limita o acesso às melhores opções hormonais, então a gente deseja disponibilizar os tratamentos hormonais para os usuários e também acesso ao tratamento cirúrgico e outras demandas que surgirem também.”
Sobre o atendimento
Localizado na EQS 508/509, Asa Sul, com atendimento de segunda a sexta-feira, das 07h às 12h e das 13h às 19h. A equipe conta com endocrinologistas, ginecologistas, psicólogos, psiquiatras, urologistas, assistentes sociais, entre outros.
Requisitos: Adultos – acima de 18 anos completos.
Documentos necessários: Comparecer com documento de identificação oficial (com foto) e/ou cartão do SUS.
Telefone: 61 3449-4775