Dança causa efeitos positivos na saúde física e mental de idosos
Melhora na saúde do cérebro, na resistência física e no funcionamento cognitivo são alguns dos benefícios proporcionados pela atividade
Postado em 20/03/2025
Em 2024, a Universidade Ocidental de Sydney publicou uma análise de 148 estudos sobre programas de dança para idosos – com idade igual ou maior que 55 anos —, identificando os benefícios da atividade para a melhora da saúde e do bem-estar desse grupo. Mudanças positivas na resistência física, na força e na saúde cognitiva e cerebral, assim como na saúde psicossocial, foram identificadas.
Marisete Peralta Safons, professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), destaca que, além de ser uma forma divertida de se exercitar, a dança promove prazer através da liberação de endorfinas — hormônios que causam a sensação de bem-estar e relaxamento. A dança para pessoas idosas também traz benefícios como a melhora do equilíbrio e da coordenação motora, já que os movimentos rítmicos e os passos variados da dança ajudam a aprimorar a estabilidade e prevenir quedas, um problema comum entre o grupo.
“A dança pode melhorar a mobilidade das articulações e a flexibilidade muscular, e até mesmo a força muscular, contribuindo para a manutenção da autonomia e da independência, muitas vezes aliviando dores musculares, além de reduzir o estresse”, afirma a professora. “Ela também é um exercício aeróbio que aumenta a frequência cardíaca e melhora a circulação sanguínea. Do ponto de vista da cognição, aprender novos passos e coreografias estimula o cérebro, melhorando a memória, a concentração e a capacidade de aprendizado.”
Outro ponto destacado por Marisete é a interação social proporcionada pelas aulas de dança realizadas em grupo, combatendo a solidão e o isolamento que algumas pessoas experimentam na velhice.

Espaço Carletti
“Eu tinha me aposentado, chorando que só”, relembra Lenisse Sônia Nascimento, 71 anos. “Dança sempre foi uma coisa que eu queria muito, desde bem nova. Meu pai não queria dançar, não queria que ninguém dançasse. O marido não dançava, embora deixasse. Os filhos não gostavam. E eu nunca dançava, nunca. Há dois anos, comecei a chorar muito pela depressão, por causa da aposentadoria — eu sempre amei o que eu fiz, que foi dar aula por 38 anos. Minha filha disse: ‘Arranjei um lugar pra você, mãe, que você vai amar. Pra você dançar’. Aqui a gente se diverte, se exercita, ri muito de si e dos outros. Então é um lugar assim, eclético, que dança do samba ao rock ao funk e tudo. É maravilhoso!”
O lugar sugerido pela filha de Lenisse é o Espaço Carletti, localizado em Taguatinga Sul, que busca melhorar a saúde física e mental das mulheres através da dança. Sob a coordenação de Luarla Carletti, professora de dança, o projeto alcança mulheres das mais diversas idades e algumas com condições especiais — como o Alzheimer e o autismo.
As idosas, além de terem sapatos próprios — fechados, a fim de ter um movimento mais firme —, têm os passos bem medidos pelas professoras do projeto. Tendo como objetivo principal a expressão através dos movimentos, no Espaço Carletti, a dança não é cobrada como atividade, que seria algo mais rígido para a saúde, mas como uma forma de arte e expressão. “Elas estão dançando, se movimentando, e, por isso, elas se sentem tão bem”, afirma Luarla.
A melhora na memória através da dança entra em destaque. Luarla relata que, após a pandemia da Covid-19, muitas mulheres apresentaram perda de memória, mas o movimento proporcionado pela dança ajudou na recuperação neurológica, sendo um efeito já apontado por cientistas.
Mas, além dos benefícios para a memória, Luarla relembra outros casos em que a dança proporcionou mudanças positivas para a saúde de suas alunas. A professora conta sobre uma mulher que estava com colesterol alto fazia um ano, até que entrou em contato com a dança através do projeto. Após um mês, com laudo médico em mãos, a mulher mostrou que as taxas de pressão alta estavam reguladas.“
Já teve um caso de uma outra aluna dizer que a sogra dela, que faz aulas aqui comigo, estava avançando no Alzheimer ao ponto de esquecer nomes e lugares. O médico havia dito que não tinha mais jeito. Depois de dois meses de dança, ela voltou no médico e ele falou que o avanço da doença estagnou e as coisas passaram a ser lembradas”, diz Luarla.
Outro caso é de uma idosa, de 88 anos, que não conseguia comer e andar, chegando ao projeto amparada por duas cuidadoras. “A filha dela já havia desistido, disse: ‘Luarla, minha mãe não levanta, não anda, não faz mais nada, e não tem mais que eu possa fazer’”, relembra a professora. “Na primeira aula, ela [a idosa] estava tão enrijecida que tiveram que segurá-la. Eu fui ajudando ela a se mexer e a liberar os passinhos. Depois de um mês vindo toda semana, um dia recebi um vídeo dela levantando da cama e andando sozinha, algo que não fazia há anos.”