Vendedores de itens relacionados ao k-pop saem do online e marcam presença nos shows

A vinda da banda Stray Kids ao Brasil movimentou comércio de objetos voltados ao universo sul coreano

Maria Clara Ibiapina Santinoni

Postado em 10/04/2025

Fila para o show dava voltas em áreas próximas ao estádio desde a manhã do dia 1º. (Foto: Maria Clara Ibiapina Santinoni)

Mariana Chagas, de 23 anos, é analista de dados e pós-graduanda em Machine Learning Engineering. Há cerca de dois anos, começou a vender pelúcias de crochê, chamadas de amigurumis, para amigos, familiares e outras pessoas do seu círculo. Hoje, ela administra uma loja virtual no Instagram, chamada Dinorumi Inc. Seu foco é na produção de bonecos de personagens do grupo Stray Kids. 

A fim de alcançar diretamente as pessoas que se interessam por este universo, Mariana e diversos outros microempreendedores se mobilizaram para ir ao show do grupo sul-coreano no Rio de Janeiro. O show, que ocorreu no início do mês no Estádio Nilton Santos, foi o primeiro dos três que a banda fez em solo brasileiro. 

Pequenos comerciantes, como Mariana, circulavam ao lado da fila, que começou a se formar na madrugada anterior ao dia do show. Era possível encontrar diversos vendedores distribuindo e/ou vendendo itens relacionados ao show ao redor do estádio, como adesivos, photocards, chaveiros e banners. Grandes concertos musicais, como o do Stray Kids, são oportunidades valiosas para microempreendedores ganharem visibilidade e alavancar seus negócios fora do ambiente virtual ao interagirem presencialmente com seu público-alvo.

Top-loaders são suportes de plástico específicos para guardar e expor cartas, muito comumente decorados com adesivos. (Foto: Maria Clara Ibiapina Santinoni)

O valor médio de um amigurumi de 20cm é cerca de R$90. Mariana aceitou encomendas de pelúcias customizadas para serem entregues na fila dos shows em São Paulo, nos dias 5 e 6 de abril. Desde o anúncio da turnê do Stray Kids no Brasil, suas vendas aumentaram consideravelmente. “Eu vendia, em média, quatro a seis bonequinhos por mês. Agora, com o show, só no mês de março eu cheguei a fazer mais de dez amigurumi e chaveiros”, conta.

Antes da mobilização para o show, Mariana pensava em abandonar a lojinha virtual e seguir com outros projetos pessoais, mas agora vê potencial em seu negócio. “Fora, lógico, a recompensa monetária pelo meu trabalho, eu senti que melhorei bastante as minhas técnicas no crochê e ganhei visibilidade como artesã”, relata.

Maria José, conhecida como Nana, também é empreendedora. Sua loja virtual, a Mumu Store, tem quase 4 mil seguidores no Instagram e tem uma comunidade própria no WhatsApp para gerir as vendas. Ela comercializa photocards (cartas colecionáveis), chaveiros, pelúcias, adesivos, bottoms, entre outros artigos relacionados a k-pop. 

Para o show do Stray Kids, a Mumu Store abriu encomendas de bottoms customizados, pelúcias, adesivos holográficos, além de vendas de pôsteres, chaveiros e photocards, para serem entregues na fila no Rio de Janeiro e no dia 5, em São Paulo. Nana possui uma comunidade consolidada virtualmente e, a partir do evento, foi capaz de expandir seu negócio tanto ao atrair novos clientes quanto construir uma relação mais forte com aqueles que já a acompanhavam. Por conseguir levar suas vendas diretamente ao público, a Mumu Store conseguiu vender uma grande quantidade de produtos em um curto espaço de tempo.

Fãs aproveitaram oportunidades para garantir itens do grupo durante a fila. (Foto: Maria Clara Ibiapina Santinoni)

A importância do marketing digital

Segundo a jornalista e publicitária especialista em Marketing Digital Karla Mendes, a busca por conexões e experiências reais por parte do público torna grandes eventos oportunidades para trazer experimentações por parte dos empreendedores. Conquistar clientes, para a publicitária, é mais difícil que conquistar seguidores e, por isso, é importante ter bom planejamento, estratégias adequadas e entender o público para juntar a experiência do evento com a visibilidade do ambiente digital.

Karla explica que, a partir da qualidade e eficiência do marketing, o público prefere comprar de microempreendedores criativos a grandes marcas. Dessa forma, é “importante criar um planejamento para todas as fases: pré-evento, durante o evento e o pós evento”, explica. Para a especialista, o engajamento depende da qualidade do conteúdo e da compreensão da necessidade e expectativa do cliente para construir uma estratégia que desperte a vontade de engajar.

As maiores dificuldades para um micro-negócio virtual, segundo Karla, estão relacionadas a recursos para investimento, a falta de uma equipe treinada para atender clientes e a capacidade de suprir a demanda. “Além disso, tem que trabalhar a divulgação de seus produtos ou serviços no ambiente digital, ter uma boa comunicação visual no local que apresenta seus produtos, investir em marketing para conseguir atrair mais clientes”, conclui. Contudo, com as conexões presenciais e uma estratégia de marketing digital eficaz, donos de micro-negócios são completamente capazes de despertar o interesse de seu público e gerar conversões.