Apresentação de Taiko é destaque em Festival do Japão

Batida do tambor chamado Wadaiko é uma atividade que integra exercício físico, meditação e disciplina, diz líder do grupo Reiwa

Ana Clara Santana Vilela

Postado em 08/07/2025

Todo ano acontece em Brasília o maior festival de cultura japonesa do Centro-Oeste, o Festival do Japão. O evento ocorreu nos dias 27 a 29 de junho no Pavilhão do Parque da Cidade, com apresentações típicas como o Wadaiko, que significa literalmente “tambor japonês”.

Mais do que um instrumento musical, ele representa uma expressão cultural profunda, com raízes que remontam a cerimônias religiosas, festivais e até estratégias militares na história japonesa. Apesar das transformações estéticas e performáticas ao longo do tempo, muitos elementos tradicionais permanecem, principalmente em festivais locais e cerimônias religiosas. Ainda assim, o wadaiko contemporâneo incorporou coreografias e encenações teatrais, sem perder sua essência espiritual. 

A prática do wadaiko vai muito além da execução, sustentada por uma profunda filosofia de harmonia entre mente, corpo e grupo. Conceitos como o “ma”, o silêncio entre os sons e o “wa” que representa a harmonia coletiva são fundamentais. Tocar wadaiko é, portanto, uma atividade que integra exercício físico, meditação e disciplina, similar a artes como o aikido ou o zen.

Grupo Reiwa em apresentação (Foto por: Davi Henrique Menezes da Cruz)

Edson Masayoshi tem ascendência japonesa e é líder e fundador do grupo Reiwa, que anualmente faz as apresentações com os tambores no festival. A criação do grupo nasceu por conta de um desejo profundo de fazer a diferença no universo do taiko, levando essa arte milenar a mais pessoas de uma forma acessível, moderna e significativa. “Sempre tive uma paixão por ensinar, e unir isso ao taiko foi algo natural. Ver as pessoas se desenvolvendo e se realizando por meio da prática é extremamente gratificante”, conta Edson.

Eles também se dedicam a um projeto significativo: a educação de adultos nos ensinamentos tradicionais. Isso lhes possibilita compartilhar sua rica cultura não apenas com descendentes de japoneses, mas com qualquer pessoa interessada no Japão. É, de fato, uma conexão entre diferentes gerações, culturas e objetivos.

“Para nós, o wadaiko é mais do que música, é uma ponte cultural. Cada batida do tambor carrega história, disciplina, emoção e identidade”, expressa o líder do grupo. Conta também, que quando o grupo está se apresentando eles sentem que não estão somente compartilhando a cultura japonesa, mas também que estão tocando as pessoas de forma muito genuína, independente da origem delas. “Os integrantes do grupo costumam dizer que é uma honra poder representar algo tão profundo, e que existe um senso de responsabilidade em manter viva essa tradição”, revela Edson.

Apesar de nem sempre ser óbvia para o público, há uma conexão profunda entre o wadaiko e a meditação. Muitos músicos e grupos de taiko, especialmente os mais focados na tradição ou na arte, veem o wadaiko como uma forma de meditação ativa. “Embora não seja meditação no sentido estático, como sentar em silêncio, ele exige uma presença total: corpo, mente e respiração precisam estar completamente alinhados a cada batida”, explica o fundador. A repetição dos ritmos, o controle da respiração, a consciência corporal e o foco no grupo todos esses elementos conduzem a um estado de atenção plena, muito parecido com o que se busca na prática do Zen.

Para a apresentação deste ano foram seis meses de ensaio. “Treinamos um novo espetáculo para essa ocasião e apostamos numa mudança de como apresentar o Taiko”, explica Edson. Com a apresentação, eles buscaram contar a história de cada música ao público por meio de expressões faciais ou corporais.

Amon da Silva se juntou ao grupo após ver uma apresentação. Inicialmente era para ser apenas um hobbie para esquecer as preocupações. Ele conta que teve uma frase que ficou muito famosa assim que ele ingressou no grupo: “Aqui é onde o corpo cansa e a mente descansa”.

Para Amon todas as apresentações são importantes, mas a que mais o marcou foi quando fez uma viagem para o Rio Grande do Sul, na Expo Ijuí. “Eu era apenas um novato que tinha apenas começado a tocar há alguns meses, mas eles viram os meus esforços”, conta. Sendo apenas um novato, durante a apresentação na expo, teve pouco tempo para aprender duas músicas do zero e as aprendeu em somente um ensaio. 

Amon tocando tambor em apresentação (Foto por: Davi Henrique Menezes da Cruz)

Com o passar do tempo o grupo se tornou sua segunda família. “Hoje pra mim o Taiko representa liberdade, amor, amizade e união”, revela Amon. Quando começa a tocar, Amon se sente como se nada mais existisse, somente o grupo e os tambores. “A cada batida eu ganho mais força, meus batimentos se aliam com a música e fico com o desejo, de que aquele momento, nunca termine”, explica.

Antes das apresentações o grupo sempre grita “Reiwa Fighto”. É uma espécie de ritual, fazendo com que os integrantes fiquem mais encorajados. “Sinto que estamos indo com os nossos corações e mentes sintonizados como grupo”, conta Amon.