Pesquisa pode transformar Setor Comercial Sul em polo de inovação

Um projeto desenvolvido por universidades do DF propõe revitalizar a região, ampliar as oportunidades de emprego na área tecnológica e fortalecer o mercado local.

Alice Pereira de Oliveira Silva

Postado em 23/04/2025

Tradicionalmente conhecido por seu comércio e serviços, o SCS (Setor Comercial Sul) pode se transformar em um polo de tecnologia e economia criativa. O objetivo é revitalizar a região e impulsionar a inovação em Brasília, com potencial para gerar alta demanda de empregos na área tecnológica.

A iniciativa Pólo Criativo Tecnológico do SCS, lançada em 19 de fevereiro pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Distrito Federal (Secti-DF), e liderada pelo Governo do Distrito Federal (GDF), visa diagnosticar o cenário atual do SCS, desenvolver um modelo urbanístico — tanto digital quanto físico — e criar uma plataforma de suporte à estruturação e implementação do polo tecnológico criativo.

Revitalização urbanística do SCS busca transformar a paisagem central de Brasília em um ambiente integrado à tecnologia e à inovação. (Foto: Alice Pereira)

A pesquisa é conduzida por pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). Um dos coordenadores é o professor Alexandre Kieling, responsável pela pós-graduação em Comunicação e Economia Criativa da UCB. Ele também lidera estudos relacionados ao SCS, buscando estratégias para sua revitalização e transformação em um centro de inovação.

Segundo Kieling, caso a implementação do projeto seja bem-sucedida, há expectativa de uma alta demanda no mercado de trabalho na região do DF. “A ativação econômica da região, por meio da produção, circulação e consumo, naturalmente impulsionará a criação de empregos e o aumento da renda para a população local”, afirma.

Para Patrícia Moscariello, coordenadora dos cursos de Ciência da Computação, Engenharia de Computação e Engenharia de Software do Centro Universitário IESB – Campus Sul, o impacto de um polo no SCS será significativo. A professora destaca que a instalação de empresas de base tecnológica deve gerar novas oportunidades para desenvolvedores de software, analistas de sistemas, engenheiros de dados, entre outros profissionais.

Ela também ressalta que a proximidade com universidades e a criação de um ambiente propício à inovação podem facilitar a entrada de estudantes no mercado de trabalho, por meio de estágios, programas de trainee e empregos efetivos. “A revitalização do SCS tem o potencial de atrair novos investimentos e promover o crescimento sustentável da região, criando um ambiente dinâmico e competitivo para atividades ligadas à tecnologia e inovação”, completa.

Outro nome que reconhece a importância da criação de um polo no centro da capital é o professor Elias Filho, docente do IESB há dez anos — sendo oito deles dedicados ao curso de Ciência da Computação. Atualmente, ele leciona disciplinas como Desenvolvimento de Interface e Programação Mobile e acompanha de perto os desafios e aspirações dos estudantes da área.

Elias Filho, em sala de aula no Centro Universitário IESB, onde é docente. (Foto: Alice Pereira)

Elias destaca a existência do polo tecnológico BioTIC, localizado entre a estrada DF-003, o Parque Nacional e a Granja do Torto. Segundo ele, o local é hoje um dos principais polos de tecnologia do país, frequentemente visitado por ele e seus alunos. No entanto, há uma limitação relevante. “A distância e a dificuldade de locomoção atrapalham o acesso. A região não é fácil para quem depende de transporte público. Um polo no centro de Brasília, com acesso facilitado, é algo necessário”, destacou.

O olhar de quem se prepara para o futuro da tecnologia

Esse impacto é especialmente relevante para estudantes como Alessandro Ribeiro Moreira, 19 anos, do terceiro semestre de Ciência da Computação. Para ele, a criação de um polo no centro pode aproximar universidades e gerar soluções conjuntas para os desafios do setor. “Além disso, traria mais confiança para os investidores, uma vez que sua localização é no centro da capital e mostraria que o governo também está interessado em avanços tecnológicos”, opinou o universitário.

Atualmente em busca de estágio, Alessandro relata ainda as dificuldades enfrentadas por quem está começando. Segundo ele, as empresas pedem muitas tecnologias que não são muito presentes na faculdade e que tem que estudar “por fora” para tentar se adaptar ao mercado. Ele também aponta a pouca divulgação de oportunidades como um entrave. “Muitas vagas não são publicadas em mídias acessíveis ou sites de recrutamento”, continua.

Segundo Elias, muitos alunos escolhem a área de tecnologia por ser a “área do futuro”. (Foto: Alice Pereira)

Apesar disso, acredita que a localização estratégica do SCS pode ser um diferencial. “A rodoviária do lado traz mobilidade acessível, e o movimento valoriza o local e atrai mais investimentos”. Mas ressalta acreditar que o sucesso do projeto depende do envolvimento ativo do governo e das instituições de ensino: “Sem incentivo, é possível que não vá pra frente”, finaliza.

Por outro lado, a urbanista Gabriela Tenório, da UnB, expressa preocupações quanto à clareza do projeto e à ausência de envolvimento da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh). Ela ressalta que qualquer proposta que não envolva moradias no centro da cidade parece anacrônica, indicando a importância de considerar a habitação na revitalização urbana.

Em resposta, Kieling afirma que a proposta urbanística e arquitetônica para o SCS contemplará o zoneamento e sugestões para diferentes áreas e atividades. Todos os dados coletados serão disponibilizados em uma plataforma digital, que servirá como ferramenta de interação entre os agentes envolvidos. Serão desenvolvidas ainda maquetes físicas e digitais para visualizar as propostas, facilitando o entendimento e a viabilidade das mudanças planejadas.

A proposta urbanística para o SCS inclui zoneamento e maquetes digitais para facilitar a compreensão e viabilidade das mudanças planejadas. (Foto: Alice Pereira)

O professor destaca que o sucesso do projeto depende do envolvimento de representantes de entidades como Fibra, Sebrae, Fecomércio-DF, associações comerciais e secretarias públicas. A tomada de decisões será realizada por um colegiado representativo, com a academia exercendo o papel de facilitar o processo por meio de dados, estudos e propostas para a implementação do polo.

“Estamos falando de um esforço coletivo. Nosso papel é oferecer ferramentas para que as decisões sejam bem embasadas e levem em conta a complexidade do Setor Comercial Sul”, informou o coordenador do projeto.