Abrigos enfrentam superlotação e lutam para cuidar dos animais

Enquanto o número de abandonos aumenta, ONGs lutam contra a falta de recursos.

Gabriela Nogueira de Medeiros

Postado em 09/04/2025

No Distrito Federal, cerca de 1,5 milhão de cães e gatos vivem nas ruas, segundo a pesquisa da Confederação Brasileira de Proteção Animal (CBPA) realizada em 2024.  Dados, também de 2024, da Subsecretaria de Proteção Animal, mostram que o DF tem 3.010.881 habitantes. Ainda que 60% desses lares possuam animais domésticos, o número de abandonos não para de crescer. Abrigos que deveriam ser solucionadores temporários se transformaram em depósitos de animais sem perspectiva de saída. Enquanto isso, abrigos que já operam além da capacidade lutam diariamente para oferecer alimentação e cuidados veterinários a animais resgatados. A superlotação, somada à falta de recursos e voluntários, cria um cenário crítico que demanda soluções imediatas.  

O Abrigo Flora e Fauna, por exemplo, foi projetado para 500 animais, mas hoje abriga cerca de 1.000, entre 800 cães e 200 gatos. Já o Abrigo Toca Segura, que tem capacidade para 60, mantém 52 animais, mas precisou suspender resgates desde dezembro para evitar um colapso.  

“Cada vez que entra um animal, a qualidade de vida dos outros piora”, explica Well Fabiano, vice-presidente do Abrigo Flora e Fauna. “Não conseguimos dar ração de melhor qualidade, medicamentos no horário certo ou atenção individualizada”.  

Impacto no bem-estar animal

A superlotação gera estresse, brigas por território e dificuldades sanitárias. No Toca Segura, Juliana Laurito, presidente do abrigo, relata que os animais têm menos tempo de soltura para que todos possam circular. “O barulho excessivo e a disputa por atenção agravam o comportamento ansioso”, diz.  

Além disso, animais doentes ou idosos exigem espaços isolados, o que reduz ainda mais a área disponível para os demais. “Quando um precisa de um local só para ele, os outros ficam ainda mais apertados”, explica Juliana.  

Enquanto entram dezenas de animais por mês, as adoções não acompanham a demanda. No Flora e Fauna, são 15 a 20 adoções mensais, quando o ideal seriam pelo menos 50. Já no Toca Segura, a média é de apenas 2 por mês.  

Um dos maiores obstáculos é o perfil buscado pelos adotantes. “Muitos querem cães pequenos, mas a maioria aqui é de porte médio”, diz Solange Savatim, voluntária há 15 anos no Flora e Fauna. Além disso, animais adultos, muitas vezes abandonados por questões financeiras ou mudanças de vida, demoram até três meses para se adaptar a um novo lar.  

Falta de recursos e voluntários

Os abrigos dependem quase exclusivamente de doações. “95% dos recursos vêm da população”, afirma Juliana. Os maiores custos são ração e veterinário, por isso, nem sempre as contribuições são suficientes.  Logo, a escassez de voluntários também é um problema. “Nem 1% do necessário”, desabafa Solange. “Precisamos de gente para banho, alimentação, feiras de adoção e tratamentos médicos”. Well complementa que “trabalhar com vidas exige disponibilidade, e muitas vezes o voluntário tem outras obrigações”. 

Os entrevistados são unânimes, a castração e a educação são as saídas mais eficazes. Solange reforça: “Muitos abandonos acontecem porque fêmeas não castradas têm crias indesejadas.”  

Além disso, é preciso conscientizar sobre posse responsável e incentivar a adoção de adultos. “Adotar é tudo de bom, mas tem que ser com compromisso”, diz Solange.