Imigrantes encontram novas oportunidades e desafios em Brasília
Capital se destaca como um destino de recomeço para imigrantes de diversas partes do mundo, oferecendo novas oportunidades e desafios de adaptação.
Postado em 09/04/2025

Brasília, além de ser o centro político do Brasil, tem se tornado o lar de muitas pessoas vindas de diversas partes do mundo. Seja por trabalho, estudo ou pelo desejo de recomeçar, imigrantes de diferentes nacionalidades encontram na capital um espaço para crescer, construir suas histórias e contribuir para a diversidade cultural e econômica da cidade. Mas o que os atrai para cá? Como é a adaptação à vida brasiliense? Quais desafios enfrentam ao tentar se integrar a uma nova sociedade?
Brasília recebeu 17.260 imigrantes entre 2015 e 2020, de acordo com dados do relatório do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra). A cidade tem sido um destino crescente para pessoas de várias partes do mundo, atraídas por oportunidades profissionais, acadêmicas ou pelo desejo de recomeçar.
A decisão de mudar de país nunca é simples. Para alguns estrangeiros, Brasília surgiu como um destino promissor devido às oportunidades profissionais ou acadêmicas. Outros vieram por vínculos familiares, enquanto alguns simplesmente buscaram uma nova perspectiva de vida. O primeiro impacto ao chegar envolve adaptação ao idioma, aos costumes e até ao clima seco do Planalto Central. No entanto, muitos imigrantes relatam um acolhimento positivo e destacam a receptividade dos brasilienses como um fator importante para sua integração.
Estrangeiros que escolheram Brasília para recomeçar
Vanessa Vestia, de 27 anos, veio da Suíça e atualmente faz estágio na Embaixada do seu país. Ela conta que sua chegada a Brasília foi tranquila. “Já faz dois meses que estou morando aqui e não tive muitas dificuldades. Acho que, para os estrangeiros, é uma cidade fácil de viver, seja para quem prefere a solitude ou para quem gosta de socializar”, relata.
A segurança foi um dos fatores que influenciaram sua decisão de vir ao Brasil. “Sempre quis visitar o país, então essa foi uma boa oportunidade. Outro ponto importante foi a segurança em comparação a outras cidades brasileiras, além do clima político sob o governo Lula”, acrescenta.
Cristina Levano, do Peru, mora em Brasília há quase 10 meses e destaca a organização da cidade. “A cidade é bem planejada, o que me traz tranquilidade. A mobilidade urbana também me surpreendeu positivamente”.
Oscar Soler: a trajetória de um designer imigrante

Além do desafio de se adaptar a uma nova cultura, muitos estrangeiros que chegam à capital encontram no empreendedorismo uma forma de garantir independência e estabilidade. Cafeterias, restaurantes, lojas e serviços especializados comandados por imigrantes enriquecem a economia local e oferecem aos brasilienses a chance de experimentar sabores e experiências de diferentes partes do mundo. No entanto, abrir um negócio em outro país envolve uma série de desafios burocráticos, financeiros e culturais.
Oscar Soler, designer gráfico colombiano de 32 anos, enfrentou os desafios da imigração e encontrou em Brasília um novo caminho profissional. “Nasci e cresci em Bogotá, na Colômbia. Cheguei a Brasília há oito anos para trabalhar. No início, tive a oportunidade de atuar com carteira assinada, já que meu visto de trabalho permitia isso por estar vinculado ao acordo Mercosul”
Formado em Design Gráfico na Colômbia, Oscar decidiu empreender na área para complementar a renda. “Depois de um ano trabalhando com contrato CLT, decidi permanecer em Brasília e abrir um MEI como forma de buscar projetos como freelancer ou garantir uma renda mais estável. Muitos trabalhos na área de comunicação funcionam com o modelo de Pessoa Jurídica (PJ) híbrido, que ainda oferece alguns benefícios. Além disso, os impostos são mais baixos e há boas oportunidades no mercado.”
Entre os desafios enfrentados, ele destaca a busca por estabilidade financeira. “O maior desafio como empreendedor é garantir uma renda constante para se manter em Brasília, uma cidade cujo custo de vida aumenta a cada dia.”
Oscar também ressalta a importância do apoio na adaptação ao novo país. “No começo, quando cheguei, a organização de intercâmbios me ajudou com as questões burocráticas, como tirar o CPF, adquirir um chip de celular e encontrar acomodação. O maior desafio foi aprender português, fundamental para se adaptar ao mercado de trabalho e atuar na minha área. Fiz alguns cursos de idiomas na Universidade de Brasília (UnB), e isso facilitou bastante a integração profissional.”
Para ele, ser imigrante trouxe uma nova perspectiva ao mercado local. “Tem sido uma experiência gratificante. Me formei como adulto, tive que tomar decisões importantes para organizar e estruturar meu próprio negócio em design gráfico. Apesar de ser um campo bastante concorrido, o mercado em Brasília está em crescimento.”
Brasília pelos olhos dos estudantes estrangeiros da UnB
A Universidade de Brasília (UnB) tem se destacado como um polo acadêmico para estudantes estrangeiros que escolhem a cidade para desenvolver seus estudos e carreiras. O ambiente universitário da UnB não apenas proporciona aprendizado, mas também promove uma rica troca cultural, ajudando na integração dos estudantes com a cidade.
Um levantamento recente revelou que a UnB conta com 561 discentes refugiados e imigrantes matriculados em diversos cursos, além de 415 docentes imigrantes em sua comunidade acadêmica. A universidade recebe esse público em diferentes níveis de ensino, sendo que a graduação (30,3%) e a especialização (29,95%) concentram a maior parte dos estudantes estrangeiros.
Xun Zhou, de 22 anos, natural da China, está em Brasília há seis meses estudando português na UnB. “Escolhi Brasília porque é a capital. Acho que é melhor do que a maioria das outras cidades e também mais segura do que o Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, a capital pode me proporcionar mais oportunidades”, explica. Entre os desafios, ela destaca a diferença cultural nas aulas. “Durante as aulas, todos podem chegar atrasados ou até mesmo faltar. Isso é muito diferente da China, onde não podemos nos atrasar ou faltar sem uma justificativa.”
José Tafur, de 30 anos, natural do Peru, estuda Computação na UnB há quatro anos e se surpreendeu positivamente com a cidade. “Brasília é bem organizada e, na universidade, as pessoas foram muito acolhedoras. Me senti em casa”, conta. No entanto, ele enfrentou dificuldades com o idioma no início. “A língua foi uma barreira complicada, porque eu não conseguia entender bem as aulas”, explica.
A presença desses estudantes na UnB fortalece a diversidade cultural e contribui para o crescimento do ambiente acadêmico e social da cidade. Muitos deles acabam permanecendo no Brasil após a conclusão dos estudos, ajudando a construir um futuro ainda mais integrado e multicultural.
Brasília não é apenas um centro de decisões políticas, mas também um ponto de encontro de culturas, trajetórias e sonhos. Cada imigrante que chega à cidade traz consigo uma bagagem única, contribuindo para torná-la ainda mais plural.