Mobilização em Sobradinho busca salvar o rio Ribeirão
Qualidade da água do rio depende agora de investimentos em uma estação de tratamento de esgoto
Postado em 08/07/2025
O rio Ribeirão, que abastece a região de Sobradinho com água potável, servindo também para irrigação, atravessa um período crítico. A comunidade de Sobradinho busca revitalizar o rio, que tem sido severamente afetado pela poluição e pela falta de saneamento.
O lançamento de esgoto não tratado e lixo ao longo do curso d’água tem comprometido a qualidade da água. “O ribeirão está no nível 3 de poluição durante a temporada de chuvas e no nível 4 na seca. Esse é o pior cenário possível. O que falta são investimentos em uma estação de tratamento de esgoto que realmente funcione”, alerta Raimundo Barbosa, professor e mestre em planejamento e gestão ambiental. Raimundo é também coordenador do “SOS Ribeirão”, a organização que está na linha de frente na luta contra a poluição e pela revitalização do rio.
Mobilização comunitária
Desde 2010, a comunidade local tem se unido em campanhas de revitalização, denunciando o descaso pelas água do rio, promovendo plantios de árvores nas margens do ribeirão e até participando de audiências públicas e criando associações como o projeto “RRP MOURA” e o “SOS RIBEIRÃO SOBRADINHO”. Já foram plantadas aproximadamente 30 mil árvores nos últimos 20 anos, conseguiram acabar com os lixões, protegeram as nascentes das águas e reforçaram o trabalho de educação ambiental. Apesar dos esforços, a poluição continua sendo um grande obstáculo. “A comunidade local vem denunciando o descaso pelas águas do ribeirão. Mas a medida mais urgente será o GDF entrar com orçamento público para investir na melhoria dessas bacias hidrográficas”, afirma o professor Heron Sena, que também integra os projetos de iniciativas locais.
O plantio de milhares de árvores nos últimos anos serviu para recuperação ambiental de áreas que eram ocupadas por lixões, bem como para criar um amortecimento ambiental para diversas nascentes de água que eram ameaçadas, garantindo assim um ganho de biodiversidade significativo.
Povos indígenas e a preservação ambiental
Enquanto a comunidade luta pela recuperação do ribeirão, os povos indígenas de Sobradinho, como um jovem indígena do povo Xukuru (que prefere não se identificar), do território “Recanto dos Encantados”, têm sido exemplos de respeito à natureza e preservação ambiental. “No nosso território, o rio ainda tem uma parte limpa e preservada. Como povos indígenas, temos a responsabilidade de cuidar da água, e fazemos isso por meio de práticas ancestrais que nos ensinam a respeitar a terra e os rios”, compartilha. A experiência do jovem e sua comunidade mostra a importância de integrar práticas tradicionais de preservação com ações sustentáveis. “O rio sempre foi nossa fonte de vida. O respeito ao meio ambiente é parte da nossa cultura, e é isso que nos mantém vivos”, destaca, enfatizando a relevância do controle da poluição para manter o ecossistema equilibrado.
O passado e a esperança de restauração

Manuel Gomes, um morador antigo de Sobradinho, lembra com nostalgia dos tempos em que o Ribeirão Sobradinho era limpo e saudável. “Eu cresci tomando banho nesse rio. Quando era pequeno, íamos pescar, nadar e até tomar água diretamente da nascente”, recorda, com tristeza, o impacto da degradação ao longo dos anos. “Era um rio limpo, claro. Mas aos poucos, fomos vendo a degradação acontecendo. E isso foi muito triste para todos nós”, lamenta.
Ainda assim, Seu Manuel não perdeu a esperança. “Eu não sei se o rio voltará a ser como antes, mas acho que se a gente se unir, como faziam os antigos, podemos ajudar a restaurar um pouco daquilo que perdemos”, reflete, destacando a importância do controle da poluição para reverter o quadro.
Embora a comunidade de Sobradinho tenha realizado avanços importantes, como a erradicação de um lixão no Morro do Sanção, ainda existem muitos pontos críticos ao longo do ribeirão que exigem atenção. A falta de uma estação de tratamento de esgoto adequada e a persistência de lixões e poluição continuam sendo desafios significativos.
O Projeto RRP Moura, coordenado por Moura, também se dedica à recuperação das margens do ribeirão, com ações sustentáveis voltadas para a melhoria da qualidade de vida e a preservação ambiental. “Nosso objetivo é restaurar o equilíbrio do ecossistema, oferecendo uma solução que beneficie tanto o ambiente quanto a população local”, explica. Com a crescente mobilização da comunidade, o apoio de iniciativas como o projeto RRP Moura, e a colaboração entre os moradores, ambientalistas e autoridades locais, há uma luz de esperança para o futuro do Ribeirão Sobradinho.