Taxa rosa: por que produtos femininos costumam ser mais caros?
Segundo pesquisa da ESPM, os produtos rosas ou com personagens femininos são 12,3% mais caros do que os regulares
Postado em 14/12/2021
Taxa rosa, também conhecida como “imposto rosa” ou “pink tax”, não é de fato uma taxa, mas é uma tendência maior de preço em produtos destinados ao público feminino, os quais normalmente têm a cor rosa, por isso o nome.
Segundo última pesquisa feita pela ESPM, os produtos rosas ou com personagens femininos são, em média, 12,3% mais caros do que os outros. “Eu sempre observei isso, quando eu compro roupa para as minhas filhas, sempre é mais caro do que a dos meninos. Já optei por comprar coisas sem gênero definido ’’, comenta a pedagoga Giovana Alves, mãe de duas meninas e dois meninos.
Isso acontece por conta de um pensamento que reverbera após todos esses anos como sociedade de que as mulheres estão dispostas a pagar mais caro por produtos, reafirmando o estereótipo de que as mulheres são consumistas e não controlam as finanças. A diferença do preço começa na infância: roupas infantis, sapatos e brinquedos têm preços maiores apenas pelo fato de terem a cor rosa ou se tiver uma representação de personagem feminino.
‘‘Eu vi isso quando coloquei minhas meninas para desfilar. O ‘look’ dos meninos era uma blusa e a bermuda; já a delas era uma blusa e uma calça ou vestido, um laço de cabelo, uma bolsa, um sapato, uma pulseira. Sempre fica bem mais caro do que o dos meninos’’, comenta Giovana.
Essa prática tem um grande impacto no orçamento das mulheres, já que elas recebem, em média, 20,5% menos do que os homens, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E apesar de serem mais instruídas, as mulheres ainda ocupam apenas 37,4% dos cargos gerenciais, de acordo com outra pesquisa realizada pelo IBGE. Ou seja, as mulheres lideram menos e ganham menos, mas são forçadas a gastar mais.
Para o planejador financeiro, Afranio Alves, existe uma associação dos produtos cor de rosa, por parecerem mais femininos ou delicados e até mesmo ‘‘feito para mulheres’’ e isso é uma grande justificativa para as empresas de marketing que continuam com essa mesma premissa.
Afinal, as mulheres gastam mais?
Para a advogada e professora de direito tributário da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, Luiza Noronha Siqueira, dividir as pessoas em gêneros e ‘‘caixas’’ é um processo capitalista que traz muitas vantagens para o movimento e para as empresas por gerar uma gama de produtos e serviços.
‘‘As mulheres são condicionadas a criar uma necessidade. Existe uma imposição social muito grande em cima da gente. Não podemos repetir roupa, usar o mesmo vestido para diferentes casamentos. Pergunte para um advogado quantos ternos ele tem, no máximo uns 4. A gente não pode repetir a mesma roupa, então ter 4 mudas não é aceitável’ ”.
As mulheres ganham cerca de 20% a menos que os homens, e no Brasil, quanto menos você ganha mais a sua renda vai ser direcionada a produtos, ou seja as mulheres são mais propensas a se endividar.
Essas mulheres, muitas vezes, acabam reproduzindo comportamentos ensinados, então a melhor forma de mudar essa premissa é mudar o meio dessas crianças, trazendo histórias diferentes e questionando o porquê de algumas coisas. “Acaba que a gente não fala sobre isso, deixa passar. A gente é condicionada a querer coisas diferentes ou então que aparentam ser femininas’’, comenta Luiza.
Os produtos
Uma calça jeans feminina pode chegar a ser 23% mais cara do que os homens e os produtos de higiene pessoal podem chegar a ser 34,5% mais caros que a dos homens, o que gera outro problema conhecido como pobreza menstrual, que é quando mulheres de baixa renda não têm acesso à absorventes por conta dos preços elevados desses produtos.