Número de leitores cai drasticamente no Brasil; educadores procuram soluções
75% das crianças tiveram o padrão de leitura afetado pela pandemia e especialistas apontam retomada como oportunidade
Postado em 09/06/2022
O Brasil sofreu com as dificuldades de alfabetização e leitura durante a pandemia. Pesquisas mostram que o país tem um grande déficit na área, principalmente no ensino infantil. Especialistas e educadores veem essa retomada como uma oportunidade para promover a leitura, mas que deve ser tratada com cuidado.
Em um estudo apresentado pelo Instituto Pró-Livro, em parceira com o Itaú Cultural, é apresentado que a pandemia afetou o padrão de leitura de 75% das crianças brasileiras. Também de acordo com a pesquisa, entre os anos de 2016 e 2020, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores assíduos. Dados como esses preocupam profissionais que estão na linha de frente da alfabetização.
Jocinei Teles, bibliotecária e contadora de histórias em uma escola particular, trabalha na área há mais de 10 anos e diz que a procura das crianças mais novas por livros aumenta sempre que há uma apresentação lúdica, que desenvolve a imaginação e instiga a curiosidade. “As crianças em alfabetização sempre começam com livros menores e com mais figuras. Apesar disso, a pandemia interrompeu as apresentações e a taxa de alunos que vem à biblioteca e procuram livros diminuiu”, explica.
De acordo com Ana Bárbara Nascimento, doutora em educação pela Universidade de Brasília (UnB), é visível que a população de leitores irá aumentar exponencialmente nos próximos anos, principalmente por que autores e editoras se reinventaram durante o isolamento. Ela aponta: “A pandemia veio para inovar o mundo dos livros. Vejo ela como uma oportunidade para conhecer as bibliotecas virtuais e até mesmo as que tínhamos em casa e não notamos por conta da correria do dia a dia”.
Os alunos
De acordo com a Unicef, a taxa de alunos brasileiros que durante a pandemia não tiveram aulas escolares chega a marca de 5 milhões. A pesquisa ainda mostra que o déficit maior está no grupo de crianças entre 6 e 10 anos (40%), parcela que está no início da vida escolar.
Muitos professores e escritores procuram retomar nos mais novos a habilidade e prática de ler e escrever, afetada pelo distanciamento. Mauro Rocha é escritor brasiliense, auxilia jovens em escolas com projetos de leitura e diz que o incentivo é de grande importância para a arte, cultura e criatividade dos jovens, já que muitos se afastaram e perderam essa ligação durante o isolamento. “Os meios virtuais se mostraram um grandes meio de diversidade para a aplicação de leituras e autores, mas ainda faltava o palpável, o ensino presencial”, aponta Mauro.
Fernanda Pereira, tia e responsável por Lara e Gabriel, de 14 e 12 anos, conta que viu muitas crianças perderem o hábito de ler durante o isolamento e que isso afetou no diálogo, tanto por escrita como fala, mas que procura usar o tempo ocioso dos seus sobrinhos para favorecer o vocabulário através da leitura. “Infelizmente a falta de aulas afetou muito no processo de desenvolvimento da escrita do Gabriel, mas a leitura que incentivamos ajudou ele a desenvolver mais suas habilidades criativas e vocabulário falado”, conta.