De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019, a depressão é o transtorno mais frequente na terceira idade. Os dados apurados pelo Ministério da Saúde (MS), em 2018, mostram que houve uma alta na taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos. Entre os anos de 2011 e 2018 foram registradas 293.203 lesões autoprovocadas no Brasil. Delas, 11.438 (3,9%) envolviam indivíduos com mais de 60 anos.

Para a psicóloga clínica, Juliana Dourado, 37, o cuidado com a saúde mental na faixa 60+ pode ser um recurso importante para promover um envelhecimento saudável, o que inclui fornecer ferramentas para que o indivíduo saiba lidar com os desafios e demandas presentes no dia a dia, tornando, assim, a fase do envelhecimento algo mais consciente e ativo, o que contribui para uma melhor qualidade de vida. Juliana pontua que para um bom suporte à saúde mental, a psicoeducação com objetivo de levar o conhecimento sobre a importância e a necessidade do recurso de saúde mental é fundamental para que facilite a adesão ao tratamento. Esse trabalho pode ser realizado nas unidades básicas de saúde (UBS), bem como por outros profissionais que estejam em contato direto com os idosos e consigam perceber demandas de sofrimento e desgastes emocionais.

Ao tratar um paciente idoso, Juliana conta que os mesmos apontam queixas frequentes que se manifestam em boa parte dessa faixa etária, como as dificuldades e as limitações de suas habilidades motoras, memória, cognição, entre outras questões que estão ligadas à identidade desses indivíduos. Ela deixa claro que alguns conflitos percorrem a faixa etária e podem gerar sofrimento, rebaixamento do humor, potencializando fatores emocionais e gerando alguns sintomas que podem dificultar ainda mais essa fase. “Ao ter contato com o psicólogo é realizado o acolhimento e a validação das demandas manifestadas. Assim, ocorre a compreensão de quais são suas dificuldades, criam-se espaços para que consigam caminhar no processo terapêutico, bem como a amenização e o trabalho das queixas do idoso”, explica a psicóloga a respeito da fase de acolhimento.

Desafios ao tratar saúde mental na terceira idade

Trabalhar com o público dessa faixa etária normalmente é de uma adesão tranquila e positiva, segundo a psicóloga, considerando que as queixas são questões que mesmo que tragam desconfortos são demandas que se esperam para determinados períodos da vida, “Talvez o desafio seja o ajuste dessas questões, a percepção de mundo e de possibilidades que também existem dentro desse período da vida, de tantas experiências e potencialidades”, conclui Juliana Dourado.

Waldeide Martins, 57, conta como foi descobrir que seu pai, Edson Martins, 81, tinha ansiedade elevada: “Foi muito difícil e muito triste, pois ele parece outra pessoa. A gente vê o pai bem e, de repente, ele vai ao hospital e ao invés de vir curado daquilo que entrou, vem pra casa com outra coisa que é tão difícil ou mais do que a que ele estava. Tive medo de perder o meu pai”. A ansiedade surgiu no período em que seu pai estava internado na Unidade de Terapia Intensiva ( UTI) e com ela vieram as mudanças de comportamento.

Waldeide fala como o transtorno de ansiedade impactou a vida de Edson, que nunca teve problemas de sono, mas hoje em dia possui insônia devido ao medo de dormir e não acordar mais. “Ele se sente muito mal e confuso, pois nunca havia passado por isso, sempre foi muito saudável. Ele está lidando com isso com muito medo. O pior é viver com sentimento de morte”.

Ela diz que os familiares lidam com ele com paciência e muito amor. “Os cuidados de não deixar ele sozinho, conversar sobre coisas que o deixam animado, estimular pra fazer um pouco de atividades físicas ,dar uma caminhada, tudo isso deixa ele mais tranquilo”. Ela relata que as maiores dificuldades são tomar as medicações, porque seu pai acha que o que sente são por conta dos remédios, e tomá-los o deixa mais doente.

Medidas oferecidas pelo Governo do DF

No DF, em 2023, o Governo do Distrito Federal (GDF) oferece assistência de saúde integral à população idosa em 176 Unidades Básicas de Saúde (UBS). Como parte dessa assistência há palestras sobre saúde mental. A Secretaria de Saúde do DF (SES) oferece atividades para estimular o bem estar físico e mental, que podem prevenir a piora de alguns casos.