Estudante cria inteligência artificial tradutora de Libras

Ferramenta pretende auxiliar nas tarefas diárias, utilizando legenda em vídeo-chamadas

Clara Montenegro

Postado em 27/05/2024

O projeto IA Libras desenvolvido pelo estudante de estatística da Universidade Federal Fluminense, Gabriel Sales, visa ajudar surdos e pessoas com audição reduzida a ter acesso a espaços que antes lhes eram negados. Neste trabalho, uma inteligência artificial (IA) consegue interpretar a linguagem de sinais e gera uma legenda em português simultaneamente. A ideia foi pensada para mudar a vida de pessoas surdas. “Imaginem um mundo em que a barreira da língua não seja mais um obstáculo para aqueles que não podem ouvir”, explica Gabriel. 

Com a IA, para o estudante, um paciente surdo poderia realizar tarefas diárias, como uma chamada de vídeo com um médico e descrever seus sintomas, sem depender de intérpretes, sendo compreendido de forma eficiente. Ou até em uma entrevista de emprego, na qual o recrutador não sabe libras, mas entenderá a mensagem que a pessoa com deficiência quer transmitir. Tudo isso funciona por vídeo pelo computador ou celular, para que em chamadas a distância a pessoa possa conversar com a tradução simultânea por legenda.

De acordo com o Ministério da Saúde, acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, dos transportes e meios de comunicação, pela pessoa portadora de deficiência. Quando pensamos em alguém com deficiência auditiva (DA), precisamos ter uma noção se esses indivíduos estão realmente tendo esses direitos garantidos.

O idealizador do projeto também quer a integração dessa inteligência artificial em outras plataformas, que geraria inclusão social e profissional. “Nossa IA poderia ser integrada em aplicativos de mensagens, redes sociais e ambientes de trabalho, permitindo uma comunicação mais fluida e eficaz com todos”, comenta Gabriel. 

Mas como funciona essa comunicação do outro lado, como que deficientes auditivos entenderá o que a pessoa sem deficiência está falando? Por isso, está sendo criado também um tradutor de fala para que eles possam entender e a comunicação seja eficaz.

Para a professora e intérprete de Libras, Karolina Lacerda, a maior dificuldade relatada pelos seus alunos com DA é a falta de acessibilidade em Libras, pois a maioria da comunidade não sabe se comunicar com essa língua. Outro problema, é a falta de sinalização em Libras ou de alguém preparado para interagir com os indivíduos surdos.

Mesmo com a inteligência artificial vindo para ajudar e facilitar a acessibilidade, ela acredita que pode ser criada uma resistência por conta da desumanização da IA. “A comunicação com a pessoa surda ultrapassa o uso da Libras. É necessário estar frente a frente com a pessoa, olho no olho, fazer uso da expressão facial, movimentação corporal e classificadores, e a IA ou aplicativos não conseguem suprir esses detalhes que naturalmente um intérprete faz”.

Mas o projeto I.A Libras ainda pode colaborar em tarefas diárias e trazer uma maior acessibilidade. Mesmo sendo essencial a humanização das Libras, Gabriel acredita que a IA ainda ajudará pessoas surdas “oferecendo mais acessibilidade, independência e oportunidades para as pessoas surdas se conectarem com o mundo”.

Ainda é preciso que as pessoas aprendam Libras, visto a importância dela para a comunicação e inclusão de deficientes auditivos em todos os lugares. Quando uma pessoa surda tem o contato com alguém não surdo e que se comunica por Libras, a pessoa se sente vista. 

Quem quiser acompanhar o projeto pode entrar no Instagram @projeto_ia_libras e para aqueles que desejarem colaborar com o desenvolvimento podem participar da vaquinha para ajudar com os gastos necessários para continuar produzindo essa IA.