O ciúme pode ser um sinal de alerta nos relacionamentos?

Cerca de 88,2% dos feminicídios ocorridos no Distrito Federal têm histórico de ciúme excessivo, controle ou perseguição por parte dos acusados

Maria Eduarda Gonçalves

Postado em 20/06/2022

O ciúme é um sentimento de insegurança inerente aos seres humanos e que pode estar presente nas mais diversas situações e relações da nossa vida, seja amorosa, familiar, em amizades ou até em algo comum que a gente goste. Apesar dele ser desagradável e difícil de controlar, é um sentimento natural. Dependendo de como se lida com ele, pode se tornar exagerado e gerar diversos problemas a níveis patológicos. 

Fatores culturais nos fazem acreditar que o ciúme é uma prova de amor e é normal fazer sacrifícios para que a pessoa amada não se chateie. A psicóloga Karine Souza, de 42 anos, explica acerca dessas crenças que pode, sim, existir um ciúme saudável. “O ciúme pode ser saudável quando ele passa da forma intensa e agressiva e se torna cuidadoso, zeloso e de uma forma leve. Quando se está trabalhando a confiança e o respeito mútuo.”

Estudiosos acreditam que o ciúme pode ser dividido em normal ou patológico. O normal seria aquilo que é aceitável, que faz parte do cuidado e zelo por uma relação, ciúmes protetor e não possessivo. Diante disso, não costuma causar problemas pois a intenção dele é apenas proteger. Já quando se trata do patológico, fica exagerado e a situação começa a sair do controle, gera raiva e angústia e pode acabar causando numerosos acontecimentos delicados por inseguranças e desconfianças.

Cesar Silva, de 47 anos, namora há 4 anos e afirma já ter vivido diversas relações e concorda com a visão da psicóloga. “O ciúmes pode ser saudável quando está associado a um bem querer ou proteção sem excessos. Não faz sentido relacionar-se com alguém se o ciúme for um tema recorrente”.

Entretanto, olhando de uma outra percepção ele pode vir como um sinal de alerta de que algo está errado e fugindo do nosso controle. Quem sofre de ciúme é capaz de perder a “noção” e para quem é vítima dele fica refém da situação. Pode se tornar um problema de saúde psicológica, pois o indivíduo começa a ter pensamentos e sentimentos paranóicos, delírios de perseguição e temor imaginário de que a pessoa está sendo vítima do mundo, com muitas fantasias e dúvidas delirantes.

O psicólogo Marcos Tavares, de 37 anos, explica: “Faz parte do nosso instinto querer eliminar qualquer sentimento de ameaça que nos torne inseguro, desprotegido ou em desvantagem, não importa se ele é real ou imaginário. Acaba que o ciúmes é um sentimento que nos divide internamente, nos coloca dentro de um dilema interior. Por um lado estamos sentindo o ciúme e clamamos por mais atenção e por outro lado a gente condena essa sensação, mas sabemos que ele pode se tornar prejudicial e acabar refletindo nas nossas relações com as outras pessoas”.

O primeiro passo para que não chegue a casos extremos é saber identificar e aceitar quando se tem problemas, buscando a ajuda de um acompanhamento terapêutico. A terapia auxilia no autocuidado do indivíduo que está em sofrimento, ajudando-o a saber lidar com esse sentimento. Nas sessões são trabalhadas as crenças socráticas que aquele paciente acredita ter e que interfere diretamente em suas relações.

Fator de risco

Estudo apontou que cerca de 88,2% dos feminicídios ocorridos no DF têm histórico de ciúme excessivo

Dados de uma pesquisa realizada pelo promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Thiago Pieberom e outros pesquisadores mostram o real problema acerca deste assunto. 

O estudo apontou que cerca de 88,2% dos feminicídios ocorridos no Distrito Federal têm histórico de ciúme excessivo, controle ou perseguição por parte dos acusados. Os resultados desse estudo também mostraram que 61,8% dos casos tiveram tentativa ou consolidação de uma separação antes do crime.

Entre as ocorrências que tinham como fator de risco uma crise de ciúmes, os pesquisadores identificaram que em 38,2% dos casos o autor proibia a vítima de visitar familiares ou amigos. Em 23,5%, as mulheres eram proibidas de estudar ou trabalhar.

Em 44,1% dos casos analisados, o autor vigiava o celular da vítima, controlava as redes sociais, vasculhava itens pessoais e controlava horários.

Suporte 

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência — Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)

– De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h

– Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)

– Entrequadra 204/205 Sul – Asa Sul

(61) 3207-6172

Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos

Telefone: 100