Pandemia motiva doações de sangue

Em 2021, com o avanço da vacinação e as medidas protetivas mantidas, doadores se sentem mais seguros para doar sangue

Noreen Jaral

Postado em 13/09/2021

Com a chegada da pandemia, muitos medos e incertezas passaram a fazer parte da vida das pessoas. A necessidade de isolamento para evitar o contágio do vírus da Covid-19 gerou dificuldades ao realizar atividades fora do ambiente domiciliar. Mesmo assim, esse medo que agora acompanha todo o mundo, também fez com que o tema saúde ganhasse mais importância na vida em sociedade. A doação de sangue foi uma das formas em que os brasilienses demonstraram tal preocupação, aumentando o número de doações e gerando mais consciência, não só pela Covid-19, mas também por outras enfermidades.

De acordo com dados fornecidos pela Hemoclínica de Brasília, em 2020, foram coletadas duas mil bolsas de sangue a mais em comparação a 2019. Fazendo uma breve análise, pode-se perceber que o impacto sofrido não se apresentou no montante anual, mas em momentos específicos durante a pandemia. Exemplo disso foram os meses de março a maio de 2020, que apresentaram uma curva de baixa adesão a doações. Isso ocorreu, principalmente, por conta das incertezas e o medo que permearam o início da pandemia e a quarentena, como o uso de máscara, as restrições nos ambientes e o contágio do novo vírus. 

Apesar da preocupação do contágio, a conscientização da doação ainda esteve presente no comportamento da população. O estudante Leonardo Muniz, de 18 anos, começou a doar sangue após o início da quarentena. Ele declara que sua principal motivação está em ajudar o próximo, mas a vivência em uma pandemia também o fez enxergar a possibilidade de um dia precisar desse ato de solidariedade. “É importante sempre pensar no próximo, pois um dia quem sabe pode ser eu que vou precisar, e não me custa nada fazer isso. Uma coisa tão rápida que pode ajudar diversas pessoas”, comenta.

Vinícius Rezende é doador de plasma, procedimento que dura em média 1h. Crédito da imagem: arquivo pessoal

Quarentena, lockdown, isolamento, e tantos outros protocolos de proteção. Por mais que sejam medidas para proteger a população e diminuir a propagação do vírus que assola o mundo, tudo isso causou fortes impactos, gerando inseguranças e receio em comparecerem a ambientes, principalmente voltados para a área da saúde. Vinícius Rezende, professor de 26 anos, é doador de sangue desde 2014. No entanto, o medo fez com que não mantivesse sua frequência de doações, mesmo assim, quando se sentiu seguro, buscou doar uma vez durante a pandemia. Agora, depois de tomar as duas doses da vacina contra o vírus, resgatou sua expectativa em retomar sua frequência de doações. “A pandemia quebrou meu ritmo de doação que era mais ou menos uma vez por mês. Agora vou retornar a doar pois já estou anestesiado com a situação da pandemia”, afirma.

Para quem já está imunizado e quer doar sangue, precisa se atentar a algumas especificidades. Quem se vacinar com a Coronavac tem o período de espera de dois dias para que possa realizar a doação, e a AstraZeneca, Pfizer ou Janssen, com um intervalo maior, necessita de sete dias para estar apto.

A importância da doação

Ao mesmo tempo que sair de casa para evitar o contágio da doença é de suma importância, a doação de sangue é uma ação essencial que pode auxiliar no tratamento das consequências deixadas pela Covid-19. Com o decorrer da pandemia, em 2021 foram declarados 21 mil casos da doença no Brasil, muitas dessas pessoas foram hospitalizadas com a necessidade de tratamento. 

Em 2021, de janeiro a agosto, as doações já ultrapassaram a marca de dez mil. Foto por: Noreen Jaral

A funcionária da Hemoclínica, Amanda Fernandes, apontou que houve um aumento de transfusão de sangue muito grande durante a pandemia, principalmente depois da segunda onda com as variantes do vírus. Ela explicou que esse aumento está relacionado a idade dos pacientes nessa onda (de 20 até 40 anos), por esse grupo geralmente ter uma maior resistência. Nesses casos, dependendo da gravidade que o paciente se encontra, podem decorrer consequências como: a anemia e a plaquetopenia, que consiste em um nível muito baixo de plaquetas no sangue, ambos precisando da transfusão. Desse modo, a necessidade de estoques de sangue se mostra cada vez mais relevante. “A importância de as pessoas doarem sangue durante a pandemia mantém a mesma importância de as pessoas doarem fora da pandemia: é salvar vidas”, observa Amanda.