Atividade física solidária movimenta o Recanto das Emas

Projetos sociais voluntários e gratuitos retornam após fase mais crítica da pandemia

Sthefanny Sousa

Postado em 06/04/2022

O projeto “Mais Saúde” utiliza materiais de forma criativa, garantindo mais inclusão

De acordo com a pesquisa “Doenças Crônicas e Seus Fatores de Risco e Proteção”, realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) no ano de 2020, o sedentarismo aliado à má alimentação e ao consumo excessivo de bebidas alcóolicas desencadearam uma elevada taxa de pessoas com doenças crônicas, como a obesidade. O  crescimento de 21,5% nesse indicador teve maior prevalência nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

Para os moradores do Recanto das Emas houve o resgate de projetos que tiveram parada obrigatória no período mais crítico da Covid-19, como o projeto “Ginástica Mais Saúde”, que movimenta a comunidade diariamente com atividades físicas solidárias. Além da ginástica, os alunos contam, de forma gratuita, com aulas de zumba e forró de professores voluntários no Centro de Convivência do Idoso (CCI), às 7h.

“O projeto não visa apenas o exercício físico, mas também a empatia e compreensão com o próximo”, afirma o professor de ginástica e criador do projeto, Geovane Barbosa, 43. O “Mais Saúde”, criado em 2015, começou com aulas para os idosos da cidade. Após convites, o espaço passou a receber também filhos e netos desses alunos e, agora, abrange pessoas com idades entre 6 e 82 anos. “Eu acho que é importante essa convivência. Os jovens têm muito a aprender com os mais velhos e vice-versa”, ressalta Geovane.

Maria José, 80, é aluna assídua desde o início das atividades. Para ela, a ginástica ajuda a enfrentar dores causadas pela osteoporose e bico de papagaio, além de melhorar o humor: “Na minha idade, a gente tem que se cuidar, mas eu gosto das aulas. Quando estou aqui esqueço dos problemas”.

Quem dança vive mais 

A expectativa de vida no Brasil subiu para 76,8 anos em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, no ano seguinte, houve uma queda para 74,8 anos devido ao grande número de óbitos pelo coronavírus. A população, principalmente os idosos, precisa redobrar o cuidado com a saúde para reverter essa situação e aumentar a qualidade de vida.

Para o professor Zin Junior, que comanda de forma voluntária a ação “Quem dança é mais feliz”, a motivação própria é sentir a alegria no sorriso dos seus alunos em cada aula de zumba. “Minha expectativa para esse ano é que possamos multiplicar o projeto, trazendo mais bem-estar para as pessoas”.

Justamente o que sente a dona de casa Maria Oliveira, 64: “Eu cuido dos meus netos todos os dias e quem tem criança sabe que, às vezes, temos estresses. Quando eu venho para cá, saio até mais animada e paciente com eles”, compartilha.

Cidadania além do exercício

Amizades formadas nos projetos aumentam a empatia com o próximo

O projeto “Mais Saúde” também ajudou muitas mulheres que passaram por dificuldades. Lucia (nome fictício), 68, por exemplo, perdeu as telhas de sua casa em consequência dos fortes ventos. Sem condições financeiras e vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), teve a reposição do seu espaço pelas mãos dos outros alunos do projeto, que auxiliaram através de uma “vaquinha” solidária.

Os próprios professores voluntários também conciliam sua carreira profissional e o horário das aulas. Enquanto Júnior se dispõe após trabalho em academias de Brasília, Geovane prefere realizar as aulas pela manhã, antes de ir para o serviço público.

Entretanto, por causa do coronavírus, os dois projetos sociais tiveram que parar obrigatoriamente suas atividades, a fim de obedecer às normas sanitárias advindas da doença. Geovane e Júnior passaram, então, a realizar consultoria individualizada para aqueles que necessitassem de orientação através do WhatsApp. “Os alunos não ficaram desamparados, principalmente, neste período”, afirma Geovane.

Depois de passar pelo período mais crítico e a retomada das atividades, Júnior também ressalta a importância de continuar os cuidados restritivos: “Precisamos cuidar do físico, mental e social, principalmente, após o enfrentamento de uma pandemia”. 

Agora, com o retorno em espaços a céu aberto, o otimismo prevalece para os voluntários e alunos todos os dias. O projeto “Mais Saúde” e o “Quem dança é mais feliz” são também realizados no mesmo dia. Com duração de uma hora, o primeiro começa às 7 horas no espaço CCI e o outro exige uma caminhada até o ‘Céu das Artes’, no final da cidade, às 9 horas da manhã.

“Você sai renovada. As energias retornam e você enfrenta o dia com mais disposição, além de melhorar a qualidade de vida”, complementa a aluna das duas ações sociais, Maria Sousa, 52.