Autoras independentes relatam desafios para publicar livros no Brasil

Apesar do crescente número de leitores em 2021, as dificuldades para publicar livros no Brasil não diminuíram

Joana Lacerda

Postado em 31/03/2022

Livros sempre foram um tipo de refúgio. Eles te levam para um mundo diferente, cheio de novos personagens e novas histórias. E, enquanto está lendo, você é transportado para esse mundo cheio de aventuras, mistérios, suspenses e, até mesmo, romances. Contudo, não é tão fácil para todo mundo ter a oportunidade de ler um livro. Muito menos de publicá-lo, principalmente, no Brasil. 

Para Thaís Bergmann, autora de três livros publicados em formato digital na Amazon, não é fácil ser um autor independente. “A gente tem que fazer tudo, não pode ser só autor, sentar e escrever. Tem que fazer toda parte de produção do livro, ir atrás de revisão, leitura sensível, leitura crítica. Tudo isso toma um tempo e um dinheiro que, às vezes, a gente não tem condições de dispor para um livro”. Ela conta que o processo de divulgação foi a parte mais difícil nas publicações dos seus livros. Tanto que nos dois primeiros títulos publicados, Nosso Último Verão (edição 2020) e Entre Dois Carnavais (edição 2019), não conseguiu divulgar muito.  “Eu tinha o pensamento de que ‘se não vendeu, vamos para o próximo’”. 

Thaís Bergmann
Autora Thaís Bergmann com o seu último livro publicado, Motivos Para (não) Te Encontrar / Foto: Arquivo Pessoal

Na pandemia, o número de leitores cresceu

Com a pandemia, muitos jovens começaram a ler livros como uma forma de passar o tempo. As redes sociais literárias aumentaram, de certa forma, e é possível achar vários perfis com indicações de livros, resenhas e, até mesmo, divulgação de autores. Com isso, o número de leitores passou a crescer no Brasil. 

O 11º Painel do Varejo de Livros no Brasil, feito pela Nielsen BookScan e divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), revelou que as vendas de livros cresceram 33,03% em volume e 31,14% em valor, de janeiro a novembro de 2021, comparado ao mesmo período de 2020. Thaís Bergmann acredita que a pandemia influenciou no aumento de leitores no Brasil. “Muita gente começou a produzir conteúdo no TikTok e eu acho que fez uma diferença incrível no mercado literário nos últimos dois anos. Muita gente começou a produzir conteúdo e muita gente passou a consumir conteúdo literário”.

Assim como Thaís, Caroline Dias, autora de oito livros publicados em formato digital na Amazon, também acredita que houve uma influência da pandemia, de certa forma, no crescimento do número de leitores em 2021. “Durante o período de isolamento, as pessoas simplesmente devoravam livros, que serviam como válvula de escape”. A jornalista ainda falou que, nesse momento, com o mundo voltando ao normal, as pessoas começaram a distribuir o tempo com as tarefas mais variadas.

Para Ellen Amaral, leitura assídua, muitos fatores influenciam o pouco interesse pela literatura. “Aprendizagem, escrita, às vezes, até mesmo preguiça por achar que não ajuda em nada. Acontece também que a falta de incentivo vem de pessoas próximas, como pais e professores”. Ellen acredita que as escolas precisam melhorar muito em relação ao encorajamento a leitura  “São poucos professores que realmente incentivam os alunos e mostram o quão bom é a leitura e os benefícios que ela traz.”

Viciada em livros, Ellen ama passar o tempo em meio às leituras / Foto: Arquivo Pessoal

Caroline acredita que são algumas questões que atrapalham as pessoas a seguirem um desejo pela literatura. “Uma delas, eu diria, é que a literatura brasileira é valorizada por seus clássicos, mas o público-alvo tende a ser bastante diferente dos adolescentes aos quais as histórias são geralmente apresentadas. Então cria-se uma noção equivocada de que ler é algo enfadonho, e até mesmo boas histórias, que seriam bem recebidas se fossem lidas em outro momento da vida, passam a parecer sem graça. Mas existe ainda outra questão: o acesso à literatura nem sempre é democrático. Os preços são muitas vezes exorbitantes, acompanhando outros preços do mercado, e, para uma parcela da população, é quase um luxo”.

A rotina de um autor independente

Caroline, que agora se prepara para o lançamento do seu próximo livro, Bound To Break, previsto para ser publicado na Amazon em 4 de abril, conta que sempre gostou de escrever e, inconscientemente, sempre sonhou em publicar um livro. “Busquei todas as possibilidades possíveis para me manter fazendo isso. Mas o trabalho com ficção mesmo só se firmou no final de 2020. Foi quando concluí a primeira história, publicada em abril de 2021”, explicou. 

Quando o seu público de leitores começou a crescer, a sensação que Caroline sentiu foi indescritível. “Eu era ninguém em um mar de autores com carreiras firmadas”. Ainda assim, a autora passou por algumas dificuldades no seu processo de escrita e publicação dos livros. “Organizar o tempo é meu maior desafio. O pensamento de desistência já surgiu, mas desapareceu num instante. Não acho que seria capaz de parar simplesmente”, ainda continuou dizendo que a sua rotina de escrita é, no mínimo, estranha. Pois, não tem horário fixo para escrever e trabalha durante picos de produtividade. “Tento tornar tudo o menos engessado possível”, informou. 

Thaís Bergmann e Caroline Dias, até o momento, não trabalham somente com a escrita. As autoras dividem o tempo trabalhando meio período em uma empresa, e como repórter em um portal de notícias, respectivamente. 

A autora Thaís Bergmann, que começou a sonhar em escrever um livro com apenas 13 anos, deixa um conselho para quem vai começar agora. “Tem que fazer cada processo no seu tempo, é muito importante dar o seu tempo a cada processo. Eu engavetei cinco livros e não me arrependo nem um pouco. Eu acho que aqueles livros não estavam prontos para serem publicados e fico muito feliz  pela minha trajetória”. A autora do livro Motivos Para (Não) Te Encontrar (edição 2021) informou que é importante focar na divulgação. “Querendo ou não, livro é um produto. Para ser escritor, você precisa ganhar dinheiro com a escrita. E a única forma disso acontecer é as pessoas descobrirem seu livro”. Caroline reforça que não é fácil, e só escrever não basta. “O escritor de hoje é multifuncional, precisa ser. Mas, se sente que uma história precisa ser contada, vá em frente. Tudo vale a pena no final”.