O uso de cosméticos naturais vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. Uma pesquisa do Euromonitor International mostra que o mercado de beleza e cuidados pessoais do país é o quarto maior do mundo. Produtos de beleza de origem natural são uma opção para fugir dos produtos industrializados e manter a pele e o corpo saudáveis.

Os químicos sintéticos presentes em cosméticos convencionais não são facilmente degradados pelo meio ambiente e não são totalmente eliminados pelo organismo. Ivan Gagliardi, endocrinologista e metabologista, explica que muitos produtos de beleza contém ingredientes capazes de perturbar o equilíbrio hormonal do corpo. 

Um estudo da Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) aponta os possíveis riscos de substâncias químicas para o organismo. Ivan reforça que a exposição prolongada e a bioacumulação dessas substâncias podem levar a uma variedade de problemas metabólicos, como resistência à insulina, ganho de peso, infertilidade e um potencial aumento de risco de certos tipos de câncer. 

Ele confirma que optar por cosméticos naturais pode ser uma alternativa menos prejudicial para o organismo, pois eles tendem a utilizar ingredientes derivados de plantas, que podem ser mais suaves e seguros para a pele. Porém, alerta que “natural” não é sinônimo de “sem risco”. 

A procura por produtos naturais é crescente. Segundo dados da consultoria Statistica, a projeção é que o mercado mundial fature R$22 bilhões em 2024. Maria Gontijo, empresária e idealizadora da Fika Cosméticos, afirma que “esse mercado ainda tem muito para crescer, mas a cada dia ganha mais adeptos. As pessoas querem viver mais, se preocupam mais com as escolhas que fazem para a própria vida e para o mundo.”

Maria criou a Fika com a ideia de ser uma formulação limpa, com ativos verdes, sem sulfatos, parabenos e silicones e sem testes em animais. – Imagens: Arquivo Pessoal/Maria Gontijo

A fundadora da marca Biotiê Natural, Renata Tlossi conta que os eventos climáticos estão trazendo o assunto de questões ambientais mais à tona e tudo isso reforça a tendência de consumo consciente. A Biotiê é uma das marcas brasileiras que produz cosméticos naturais e produz embalagens com compostos 100% biodegradáveis e compostáveis com o intuito de diminuir o impacto do plástico no meio ambiente. 

Tânia Gomes, membro da diretoria do Sindicato de Beleza do Distrito Federal (Simbeleza-DF), afirma que o mercado da beleza está aberto ao uso de cosméticos. “Há uma forte expectativa dos consumidores e profissionais requerendo formulações para o uso dos produtos naturais, os quais melhoram a saúde tanto do cliente, quanto dos profissionais, além de preservar o meio ambiente.”

Ela é usuária de cosméticos naturais e conta que notou que eles ajudaram seu cabelo a crescer mais rápido quando começou a usá-los em uma rotina.

“Hoje, consigo cuidar melhor dos meus cabelos usando produtos naturais”, compartilha Tânia.

Foto: Arquivo pessoal/Tânia Gomes

Desafios dos empreendedores

Renata Tlossi relata que o grande desafio nesse meio é equilibrar o custo dos produtos para o consumidor final. “Matérias primas naturais e veganas chegam a custar mais de 10 vezes o custo de matérias primas convencionais”. Ela relata que a qualidade do produto é importante para a empresa e que trabalham com uma margem de lucro bastante reduzida para manter um preço final justo para o consumidor.

Maria Gontijo expõe que é complicado conseguir o selo que certifique o produto como natural. Ela explica que o processo de aquisição do selo é demorado devido à grande burocracia e, como o mercado é novo, todos ainda estão engatinhando. 

No Brasil, é indicado que as marcas de cosméticos naturais sejam licenciadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), certificação que a Biotiê e Fika possuem. 

Segundo a Anvisa, os cosméticos devem atender a regulamentação específica de acordo com o produto, incluindo os requisitos de segurança e especificações de substâncias autorizadas. Para conseguir a aprovação, o fabricante deve ser capaz de comprovar a idoneidade das informações constantes na rotulagem, que não pode conter indicações e denominações que induzam o consumidor a erro.