Do You Speak English?

Os benefícios de estudar inglês vão muito além da carreira profissional

Dayhane Chaves

Postado em 13/06/2022

Ao olhar essa capa, foi fácil traduzir essa palavra rapidamente? Sabe o que ela significa? Se você não conseguiu não está sozinho. De acordo com o estudo intitulado de “Demandas de aprendizagem de inglês no Brasil” realizado pelo Instituto de Pesquisa Data Popular para o British Council (instituição pública do Reino Unido), apenas 3% da população brasileira fala o inglês fluentemente.

Entre os principais motivos apontados na pesquisa para a não realização ou não continuidade dos estudos na língua inglesa estão a falta de tempo e os altos custos de investimento. Ela também mostra que a maioria dos participantes escolhe dar preferência a entrada em um curso superior buscando melhoria de salários e só depois investe em outros cursos de aperfeiçoamento, entre eles o inglês.

E essa distância entre os brasileiros e a fluência na língua inglesa só aumenta. Segundo dados divulgados pelo ranking da EF Education First do ano de 2021, que mede o índice de proficiência em inglês entre 112 países, o Brasil ocupa a posição de nº 60, reforçando o estudo anterior que fala sobre a escassa fluência e ficando atrás de países vizinhos como Bolívia, Peru e Paraguai.

Muito se discute sobre a importância do inglês no mercado de trabalho, mas e a relevância desta língua no ambiente acadêmico? Quanto o conhecimento do idioma aliado aos estudos adquiridos nos corredores das universidades forma profissionais mais completos do que aqueles que deixam esse investimento para o segundo plano? Profissionais com experiências distintas falam sobre o assunto.

Letícia Caetano

Letícia considera que o inglês é essencial para ter acesso à diversidade de materiais acadêmicos (imagem: arquivo pessoal)

Letícia começou a estudar inglês em escolas tradicionais, mas sentiu a desaceleração no aprendizado por falta de vivência no idioma. Ao tomar a decisão de mudar de país (hoje ela mora no Canadá), passou a estudar com o acompanhamento de um professor particular e sentiu bastante diferença na sua evolução pessoal com o idioma.

Durante a sua trajetória acadêmica no Brasil (ela já é formada em Ciências Contábeis), a ausência da comunicação na língua inglesa não trouxe prejuízo; mesmo em cursos de especialização ela não teve a necessidade de se expressar no idioma. Em relação ao trabalho, também não houve grandes interferências, mas saber se comunicar em inglês possibilitou o acesso a algumas atividades específicas.

Com a vivência acadêmica que ela possui nos dois países, Letícia explica o ensino no Brasil é mais focado em transmitir conhecimento enquanto o ensino oferecido fora do país estimula o aprendizado extraclasse e nesse momento o domínio do idioma se torna fundamental sob vários aspectos: tirar dúvidas, trocar experiências com os colegas, concluir exercícios, entre outras várias atividades.

Thais Lanutti

Thais reforça a importância do aprendizado na língua inglesa, porém questiona se existe a necessidade do estudo desse idioma para todos (imagem: arquivo pessoal)

Doutora em Desenvolvimento Humano e fundadora da M3, empresa focada em ajudar mulheres a alcançarem seus objetivos pessoais e profissionais, Thaís começou a estudar inglês depois de adulta, com objetivos pessoais (buscando conseguir se comunicar em viagens). O relato se afasta das estatísticas que apontam que a maioria das pessoas busca o estudo com o propósito de conquistar oportunidades ligadas a carreira profissional.

O aprendizado do idioma proporcionou a ela a chance de desenvolver estudos ligados ao Mestrado e ao Doutorado. Antes disso, a ausência dele impediu que ela participasse de uma das edições do projeto Ciência sem Fronteiras. Ela acredita que não ter a fluência no idioma prejudica a busca por possibilidades mais interessantes; ou no mínimo, diferenciadas.

As pessoas não deixam de ter oportunidade porque não falam o inglês, mas é importante compreender sobre o objetivo profissional de cada um. Ela cita, por exemplo, o campo dos concursos públicos onde em sua maioria não existe a exigência de um inglês nem mesmo em um nível básico. A exceção segundo ela, é a capital federal, que se relaciona diretamente com diferentes tipos de organismos internacionais.

Carol Pires

“Saber inglês foi um divisor de águas na minha vida” (imagem: arquivo pessoal)

A jornalista Carol Pires conta que começou a fazer inglês muito cedo, mas acabou interrompendo algumas vezes e não deu continuidade ao estudo do idioma. Ao iniciar sua carreira no jornalismo, ela sentiu muita falta de ter essa habilidade e retornou aos estudos. A virada de chave foi a oportunidade de cursar um mestrado no exterior e em busca desse objetivo ela intensificou as aulas e conseguiu desenvolver o inglês necessário para ingressar no curso.

Mesmo após ter sua meta alcançada e com um maior domínio do idioma com a rotina no ambiente acadêmico (agora no exterior), não findaram os obstáculos. Ela conta que teve dificuldade de expressar melhor suas ideias por não conseguir argumentar com a mesma facilidade que faria em português, o que acabou limitando tanto suas interações acadêmicas quanto as interpessoais.

A ausência do idioma durante o estágio em um jornal (na editoria de cultura) inviabilizou algumas oportunidades que apareceram nesse período; entre elas, a chance de entrevistar personalidades internacionais. Mesmo depois dessa experiência que se mostrou bastante transformadora e com a continuidade aos estudos, Carol Pires ainda sente limitações relacionadas ao inglês. Ela evita, por exemplo, se expor ao idioma sem um preparo prévio quando está frente a assuntos mais complexos ou que exigem uma maior elaboração de respostas, limitações que ela não tem em relação, por exemplo, ao espanhol.

Tatiana Reis

Estudar inglês contribui para a criação de uma rede de relacionamentos que fortalecem a vida profissional e acadêmica (imagem: arquivo pessoal)

Para a docente do curso de Relações Internacionais do IESB e tradutora Tatiana Reis, o formato de aprendizagem que é adotado pela maioria dos estudantes acaba sendo inversamente proporcional às oportunidades. Geralmente, o idioma é procurado quando existe uma possibilidade seja na vida pessoal, acadêmica ou profissional, quando, na verdade, os estudantes deveriam construir a habilidade ao longo do tempo, estando assim mais bem preparados quando as oportunidades surgirem.

Essa falta de planejamento afasta diversas chances: bolsas de estudos, intercâmbios, promoções dentro da carreira e até mesmo a busca por novas vagas no Brasil e no exterior.

Em sua trajetória acadêmica, o inglês foi decisivo para a realização de grandes projetos, entre eles o Mestrado e mais recentemente publicações importantes nos Estados Unidos, além de uma revista que contou com a participação de apenas 12 brasileiros selecionados.

O apoio da tecnologia não substitui o estudo do idioma

Todas as entrevistadas são unânimes em afirmar que aprender inglês proporciona acesso a materiais de estudo diversificados e melhores, já que existem muitos estudos e inovações divulgados primeiramente em conteúdos feitos para este idioma ou traduzidos prioritariamente para ele. Outros pontos são relacionados ao desenvolvimento interpessoal e a melhoria ao se expressar em diversos contextos, sejam eles pessoais, acadêmicos ou profissionais.

As ferramentas tecnológicas disponíveis na atualidade, bem como a grande variedade de sites e outros materiais didáticos que podem ser acessados online e off-line auxiliam e facilitam muito a vida tanto no ambiente acadêmico quanto na atuação profissional, mas não substituem o estudo do idioma. A fluência é fundamental para aliar a teoria e prática, independente de qual seja o objetivo.