Excesso de telas pode causar dificuldades no desenvolvimento de crianças e adolescentes

A falta de um limite no uso de aparelhos eletrônicos pode ocasionar ansiedade, comportamentos compulsivos, sedentarismo e substituição de interações sociais presenciais em crianças e adolescentes

Laura Beatriz de Abrantes

Postado em 07/04/2022

Em 2018, uma pesquisa realizada pelo TIC Kiks Online Brasil apresentou que 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, estão conectados à internet. O número de crianças conectadas preocupa, uma vez que, segundo estudo canadense divulgado pela revista JAMA Pediatrics, é confirmado que existe uma possível ligação entre dificuldade no desenvolvimento e uso excessivo de telas. 

Neuzi Maria, servidora pública, é a responsável legal de seus netos e diz que eles apresentam irritação e ansiedade quando o uso de telas é interrompido. David e Daniel, de 8 e 9 anos, estudam em período integral e utilizam aparelhos eletrônicos no fim da tarde e aos finais de semana. “O mais velho, de 9 anos, tem acompanhamento psicológico desde os 5 anos por indicação da neuropediatra. Contudo, vemos que após o acesso aos eletrônicos o acompanhamento tornou-se imprescindível, porque notamos que ele passou a apresentar episódios de medo após visualizar conteúdos sobre personagens mitológicos”, explica Neuzi. 

“Os transtornos têm causas diversas e é muito difícil relacionar tão linearmente uma coisa com a outra, mas existem pesquisas que levantam prejuízos significativos do excesso do uso de eletrônicos relacionados ao desenvolvimento infantil e adolescente”, explica Talita Santos, psicóloga especializada em aprendizagem. “Um bom exemplo é o da socialização e da linguagem de jovens que ficam muito tempo nas telas. Seu vocabulário fica comprometido, sua maneira de se expressar, de raciocinar e de interagir”, completou.

No Brasil, cerca de 24,3 milhões de crianças e adolescentes estão conectados, aponta pesquisa do TIC Kiks Online Brasil

Um guia para o uso responsável de telas

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) relaciona o uso excessivo de eletrônicos com o preenchimento de vácuos, como ócio, tédio e necessidade de entretenimento. Partido da premissa de que o uso exacerbado dos aparelhos pode causar ansiedade, irritabilidade, transtornos no sono, déficit de atenção, entre diversos outros, a instituição criou o “Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde”, onde orienta os pais a aplicarem práticas como a de não expor suas crianças às telas antes dos dois anos de idade, limitarem as horas de uso e oferecerem alternativas para o ócio, como práticas de esportes e atividades extracurriculares. 

A psicóloga Talita explicou ainda que aparelhos eletrônicos passam a ser um problema a partir do momento em que eles comprometem as relações sociais, o modo como a pessoa se expressa e o tempo que investe em seu uso. “Para pessoas em desenvolvimento, especialmente as crianças e os adolescentes, o uso de eletrônicos precisa de direcionamento, supervisão e orientação”, afirmou. De acordo com ela, o excesso do uso de aparelhos eletrônicos está muito ligado à dificuldade de concentração, prejuízos relacionados à memória, à linguagem e aos relacionamentos sociais. Todos esses fatores são muito importantes para a consolidação da aprendizagem. 

Leonardo Lucena, servidor público, diz que seus filhos, Miguel e Theo, de 13 e 9 anos, não apresentam sinais de ansiedade quando não estão em contato com os aparelhos eletrônicos. Isso se deve, principalmente, ao fato de Leonardo impor limites em relação ao uso, não permitindo o acesso ao celular durante as obrigações, incentivando a leitura e estabelecendo horários.

Talita diz que é importante enfatizar que os aparelhos eletrônicos não podem ser os vilões, e sim o mau uso deles. “A partir do momento que os pais identificam o excesso, a dependência emocional e os comprometimentos diversos, é preciso dialogar com as crianças, se aproximar dela e dos seus desejos, discutir sobre os temas disponíveis e ampliar a análise crítica sobre temas diversos. Propor outras atividades que eles gostem fora das telas, como esportes, por exemplo. E até mesmo parabenizá-los em circunstâncias externas aos eletrônicos”, explica a psicóloga.