A força feminina nas artes
Mulheres têm no artesanato fonte de renda e realização pessoal
Postado em 27/06/2022
As mulheres movimentam diversos setores da economia e alguns deles estão relacionados às artes e ao artesanato. Elas buscam inspiração em familiares e em suas próprias histórias para confeccionar peças únicas que carregam um profundo apelo emocional. Conheça histórias de quem dedica sua vida a fazer peças que embelezam lares e transmitem alegria.
Fernanda Bechepeche
Fernanda, 44 anos, tem uma profunda paixão pelo artesanato, especialmente por suas bonecas de pano. Está há mais de 10 anos no ramo, por influência da mãe, Zezé Bechepeche, que cria peças variadas. Ela começou fazendo ponto cruz e tapeçaria e Zezé a incentivou a tirar a carteirinha de artesã. Daí para a produção de bonecas e participação em feiras foi um pulo.
Alguns dos momentos marcantes em sua trajetória foi a confecção de uma boneca para a sua sobrinha e a elaboração das lembrancinhas do batizado da filha. Fernanda é autodidata, além de acompanhar a confecção das peças da mãe ela também procura aprimorar seu trabalho assistindo a vídeos no YouTube.
Cada bonequinha leva em média de 6 a 7 horas para ficar pronta e ela divide o tempo da produção nos cuidados com os três filhos e a casa. Os meninos colaboram na construção das peças dando palpites e a filha é uma das inspirações. A mãe foi a responsável pela ideia da marca “Fuxiquitas”, o nome se deve ao fato das bonequinhas serem confeccionadas também com o fuxico (técnica onde são utilizados retalhos de tecidos).
Fernanda não tem medo de desafios, quando recebe uma encomenda de alguma peça nunca antes produzida ela busca aprender para não deixar de atender os clientes. Hoje ela comercializa as peças em feiras e pelo Instagram e sonha com a exportação das suas bonecas.
Dalva de Oliveira
Dalva é uma entusiasta da pintura. Tem 73 anos e mais de 40 deles ela passou trabalhando na Feira da Torre de TV. Mineira de Patrocínio, desenha e colore desde criança. Um de seus passatempos era quebrar os lápis de cor para utilizar apenas o pó nos desenhos. A mudança para Brasília afetou sua inspiração, pois ela sentia falta da sua terra, mas conhecer artistas locais a ajudou muito nesse processo. Ela gosta de pesquisar as obras de artistas como Monet e Renoir e cria seus quadros baseada no Impressionismo (movimento artístico surgido na França).
Seu primeiro marido não apoiava sua arte. Um dia ele deu o ultimato: ela deveria escolher entre ele ou a pintura e Dalva não teve dúvidas: com o apoio das filhas, optou pela sua paixão. Ela se casou novamente e seu atual companheiro a apoia integralmente. Sua inspiração vem de Deus; segundo a artista a pintura lhe proporciona uma viagem espiritual e ela precisa de silêncio para criar as obras. “Quando estou pintando me vejo entrando nas ruas de Ouro Preto, tomando banho de cachoeira, passeando de canoa…”
Um dos elementos mais frequentes no repertório de Dalva são as cachoeiras. Ela também partilha seu conhecimento para quem deseja aprender a pintar de forma gratuita aos sábados. Os interessados levam os materiais e ela acompanha a produção das peças. Além de vender seus quadros na Feira da Torre ela faz exposições e comercializa as peças pelo Instagram. Para ela o contato com a clientela, a troca de experiências supera qualquer premiação que já tenha conquistado.
Apesar de já ser aposentada Dalva não pensa em parar de pintar. “ Agarrei o dom da pintura com muita seriedade, com muito amor e com muito respeito. Não preciso (financeiramente falando), mas esse é o meu mundo”.
Maria Ana Neta da Rocha
Maria Ana tem 58 anos, é casada, tem três filhos, dois genros, uma nora, um neto e uma neta. Ela faz questão de começar falando da família, que além de sua fortaleza é uma de suas inspirações. Baiana do município de Brejolândia ela é Mestre Artesã (titulo concedido aos artesãos ou artesãs com notório saber que compartilham seu conhecimento) e trabalha com artesanato desde os 16 anos. Aprendeu com a irmã a fazer crochê com a linha do algodão plantado pela família e começou a se desenvolver no ponto cruz e no bordado a mão e tecia tanto as roupas para uso próprio quanto o enxoval da casa. Sua primeira peça para seu lar foi uma toalha de mesa.
Casou-se aos 19 anos e veio para Brasília trabalhar como doméstica e passou a se sustentar exclusivamente com o crochê em 2001. Já esteve a frente de uma associação fundada para a confecção e venda de artesanato, mas hoje fabrica as peças com o apoio de 37 mulheres no grupo batizado com o nome de “Grupo Agulha Mágica”. Ela faz questão de deixar a palavra “grupo” na marca porque segundo a artesã, o trabalho só caminha com o apoio de todas.
Mesmo passando um período pessoal difícil que a desmotivou temporariamente, Maria Ana superou a fase e voltou a trabalhar com o artesanato. Ela conta com o apoio da tecnologia para organizar e incentivar as mulheres do grupo na construção das peças. Isso se deve pela distância, a artesã escolheu morar fora de Brasília e as componentes do grupo estão espalhadas entre o DF e o entorno (Goiás). No grupo existem profissionais que fazem peças em crochê, bordado e fuxico e ela fica responsável pela parte de costura além da criação das peças.
Sua inspiração vem do dia a dia, até mesmo as atividades mais simples como lavar louça a ajudam a pensar as novas peças. As favoritas são os panos de pratos com temas simples que remetem ao passado na Bahia. Os bordados no pano de prato com caju, ovo frito e até galinha d’angola conectam a artesã as suas raízes. Seu artesanato é comercializado pelo Instagram e por meio de parcerias com lojistas. Ela sempre busca se renovar e uma de suas maiores alegrias é o depoimento de quem recebe seus pedidos e compartilha sua satisfação.
Ela também se orgulha de ter peças que foram exportadas e diz que jamais imaginou que sua arte chegaria tão longe. Uma curiosidade é que Maria Ana recebeu a então rainha da Espanha, Sofia Margarida. Em outubro de 2003 o presidente Lula pediu ao Sebrae uma artesã que pudesse representar a cultura local e a instituição indicou o Grupo Agulha Mágica, que na época funcionava em um galpão na Santa Maria.
Após a vistoria das autoridades competentes, a rainha foi levada para conhecer as peças e foi presenteada por Maria Ana, ela conta que a alteza foi simpática e gostou muito do artesanato. Mesmo a exposição gerada pela visita não se refletindo financeiramente na melhoria das vendas, a artesã considera este um momento marcante em sua trajetória.