A presença dos vitrais de Marianne Peretti por Brasília

Única mulher a fazer parte da construção da capital é a criadora dos vitrais que marcam a cidade

Thalya Cunha

Postado em 24/05/2022

Certamente você já se impactou com a beleza e a imensidão dos vitrais da Catedral em Brasília e se perguntou quem seria o responsável por tamanha criação e beleza. Para esse e inúmeros outros vitrais espalhados Brasília afora, Marianne Peretti dedicou tempo e criatividade para a execução do trabalho. 

Marie Anne Antoinette Hélène Peretti, mais conhecida como Marianne Peretti, é filha de mãe francesa e pai brasileiro. A artista plástica nasceu em Paris, França, no ano de 1927. Francesa de nascença e brasileira de coração, Marianne foi a única mulher a fazer parte da equipe de construção de Brasília durante as décadas de 60 e 70.

As obras de Marianne, destinadas à ela por Oscar Niemeyer, estão por toda parte em Brasília. O primeiro vitral feito por ela fica na Capela do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente do Brasil. Peretti é responsável também pelos vitrais do Panteão da Pátria, Superior Tribunal de Justiça, Memorial JK, Câmara dos Deputados e, claro, da Catedral. 

Marianne Peretti e o vitral “O olho de Deus” no plenário da corte do STJ. | Reprodução: Flickr STJ

A essência por trás do vitral

As obras de Marianne trazem um aspecto de leveza, transparência, elegância e modernidade. Para a arquiteta e urbanista Géssika Ximenes, a artista ajudou a quebrar a estética formal do modernismo. “Ela foi a combinação perfeita para a arquitetura. No modernismo as construções são muito sérias, formas retas e algumas vezes podem deixar o espaço monótono. Peretti ajudou a quebrar esse paradigma, os seus vitrais são ousados e ela trouxe sensibilidade para as construções ”. 

Para a estudante de Administração e amante dos vitrais, Júlia Rodrigues, diz que ver a arte de Marianne traz uma sensação de conforto. “Costumamos ver vitrais em igrejas e prédios antigos. Ver uma arte tão moderna e atemporal no meio da capital e em tantos outros lugares me traz uma sensação de leveza, conforto e principalmente modernidade”, finaliza Júlia. 

A arte de Marianne assume um papel maior do que apenas decorativo nas criações de Oscar Niemeyer. A interação entre a arte dos vitrais e a arquitetura é notória, e com Marianne Peretti, no período intitulado modernismo, viu-se a renovação desta arte nas obras de arquitetura, iniciando seu primeiro vitral em Recife (Pernambuco), seguindo para outros tantos cantos, como foi o caso da sua presença como artista em Brasília.

A arquiteta e urbanista, Angelina Nardelli, explica o uso dos vitrais pela cidade. “Pelas mãos de Marianne Peretti, o modernismo de Brasília ganha motivos geométricos, alguns mais abstratos, compondo a arquiteta nas porções externas e internas das edificações”, diz.

A arquiteta Angelina comenta que a luz de Brasília reflete toda a aura imaculada e sagrada com a qual, Marianne, reveste a sua criação, assim como a luz divina, no interior da Catedral. “Não há quem não fique sem fôlego ao entrar da porção escura do mergulho para dentro da igreja, pensada por Niemeyer, para a mais clara, e isso também é parte da Peretti. A alma da artista está ali, imortalizada”. 

A artista, que morreu em abril de 2022, possui inúmeras obras que são tombadas e registradas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. A construção do vitral envolveu inúmeras variáveis como: tamanho, cores, formato, textura, material e objetivo do vitral. Em seu livro Marianne Peretti – A ousadia da invenção, o doutor em educação, Joaquim Falcão diz: “Cada escolha pode conduzir, ou não, a outra, que pode convergir ou divergir. Ser paz ou guerra. Ao escolher o sinuoso, Marianne exclui o retilíneo”.