Cachorros podem sofrer de ansiedade de separação

Distúrbio está relacionado a apego exagerado ao tutor

Ana Vitória Lopes dos Santos

Postado em 20/04/2022

Cachorros e gatos são os melhores amigos do homem, eles amam e se apegam facilmente, mas nem sempre esse apego pode ser saudável para os pets. Boa parcela da culpa está nos tutores e como eles tratam seus animais no dia a dia. O doutor João Paulo Barbosa explica o que é o distúrbio: “Ansiedade de separação é quando os tutores, por estarem ausentes, acabam despertando algumas alterações fisiológicas, tanto nos cães como nos gatos, de modo que eles ficam estressados. E a partir desse momento, eles podem ter algum desvio de comportamento, é comum às vezes em filhotes, mas esse comportamento pode se manter ao decorrer da vida.” 

Tem quem confunda ansiedade de separação com tédio; se você não tiver uma rotina ativa com seu bichinho, ele certamente ficará entediado e vai destruir o que encontrar pela frente. Passear pelo menos uma vez ao dia, brincar, estimular, ensinar que ele precisa ter o canto para dormir e comer. Mas, mesmo se com todo estímulo possível seu cão ainda estiver muito agitado, talvez seja a hora de levá-lo até um veterinário especialista em comportamento, e a um adestrador. 

O Desenvolvedor Front End Andeilson Ferreira é tutor de uma cadela de nome Teresa Cristina, diagnosticada com o distúrbio. ”Quando a Teresa foi adotada ela tinha apenas 28 dias, então ela se apegou muito a minha esposa. Sempre percebi que quando ela saía para trabalhar a Teresa ficava mais agitada que o normal. O primeiro diagnóstico foi quando procuramos um adestrador, já estava impossível de conviver, pois ela estragava tudo que via pela frente. Depois que começamos o adestramento e o tratamento homeopático para ansiedade ela se tornou outra cadela. Muito mais calma e menos ansiosa, é a alegria da casa”.

Ansiedade de separação precisa ser tratada com medicamentos e adestramento / Arquivo pessoal

O adestrador de obediência básica e comportamental Geniel Melo explica quais os principais sinais que o dono deve observar no animal. “O cachorro te segue pela casa toda, quarto, sala, cozinha e até mesmo no banheiro? Você observa que ele busca sempre estar em sua companhia, seja no ambiente ou próximo fisicamente? Como o pet se comporta na sua ausência? Ele não consegue ficar sozinho de forma alguma, chora, late, fica se lambendo ou destrói os objetos do ambiente? É bem provável que esse cachorro sofra de ansiedade de separação.”

Tratamentos

Após levar seu animal de estimação a um especialista e for atestado a síndrome, é hora de tratar para que seu amigo de quatro patas não seja mais dependente de você. Remédios homeopáticos, fitoterápicos, fármacos, canabidiol e adestramento. O remédio deverá ser indicado pelo veterinário. “O tratamento normalmente começa como suplemento, e usa-se constantemente, o animal não vai ficar grogue, sem consciência ou nada do tipo. Mas, ele tende a diminuir essa ansiedade”, explica João Paulo Barbosa. 

Já na parte do adestramento, Geniel explica a melhor forma para o tratamento: “Para melhorar essa condição é necessário separar o cão do dono, ressalto que não tem outro caminho, mas essa separação tem que ser feita não apenas na ausência dos proprietários, mas sim quando os tutores também estiverem em casa. É necessário ensinar o pet a ficar sozinho em outro ambiente. Para isso, podemos usar outro cômodo da casa. Comece sempre de forma gradativa, inicie com 5, 10, 15, 30 minutos e vá aumentando o tempo até esse pet conseguir ficar sozinho. É importante deixar o cão com algo que ele goste muito e de preferência algo de roer ou brinquedos interativos. A ideia é fazer com que ele perceba que não depende do dono para ficar bem”. 

O tratamento com canabidiol (CBD) é feito à base do óleo da Cannabis Sativa e vem crescendo a cada dia, não só para ansiedade mas para sérias convulsões, inflamações, espasmos musculares e várias outras doenças neurológicas. O uso da CBD não é contínuo para tratar ansiedade, é como um complemento, o animal continua com o uso do fitoterápico e entra com a canabidiol também. O médico veterinário e especialista em tratamento Cannabis Medicinal e Medicina Nutracêutica Luis Carlos Rayol explicou como funciona: “Animais ansiosos podem se beneficiar muito do uso da Cannabis também, sempre associada a nutracêuticos e fitoterápicos, no caso da ansiedade a gente pode utilizar Rhodiola Rosea, Valeriana, Passiflora, Melatonina é muito interessante no controle da atividade noturna. Essa associação da Cannabis com fitoterápicos e nutracêuticos é muito interessante, e promove um efeito colateral indesejado muito menor às medicações alopáticas convencionais”. 

CBD alivia o estresse e age no sistema nervoso do cachorro

Você deve estar se perguntando se pode utilizar Cannabis em cachorro, se está dentro da legalidade. “Na veterinária a gente se encontra num limbo da lei, não tem nenhuma lei que regulamente o uso da Cannabis. Isso deveria ser regulamentado pelo Ministério da Agricultura, da mesma forma que a ANVISA regulamenta na medicina humana. Não tem nenhuma lei que regulamente e nenhuma lei que proíba expressamente”. 

Acontece que existem algumas associações veterinárias que têm autorização para a comercialização e produção do óleo de Cannabis para uso medicinal. De acordo com a lei de número 11.343 essas associações precisam de autorização judicial. “É importante também a gente lembrar do artigo 4º e artigo 7º do Código de Ética da Medicina Veterinária, que fala que no exercício profissional o veterinário deve usar procedimentos humanitários, preservando o bem-estar animal e evitando sofrimento e a dor (artigo 4º). E que é direito do veterinário prescrever o tratamento que achar mais indicado (artigo 7º). Então, baseado nesse limbo jurídico, nessa ausência de lei que proíba expressamente o uso medicinal da Cannabis, na Lei de Drogas que prevê a autorização do Governo Federal para produção do óleo e uso, e no Código de Ética da Veterinária a gente pode baseado em tudo isso, prescrever para os nossos pacientes a Cannabis medicinal, desde que haja indicação e seja feita de forma correta” completa Luis Carlos.